sexta-feira, 19 de outubro de 2007

G I N A


- Como se chama? - perguntou-me o senhor da transportadora para cumprir as regras habituais. A pergunta foi feita porque tem que ficar o registo de quem recebeu a encomenda. E eu respondi:
- Gina - passou imediatamente algo pelo meu pensamento. Passou tão rápido que nem sei descrever. O senhor sorriu, agradeceu e despediu-se.
Por coincidência, no dia seguinte havia outra encomenda da mesma transportadora. Curiosamente quem a veio entregar foi o mesmo senhor. Novamente ouvi a pergunta:
- Como se chama?
- Gina - disse eu sorrindo e olhando bem para ele, ao mesmo tempo que tentava adivinhar o seu pensamento, ou se calhar adivinhando-o mesmo.... Desta vez, o que me passou pelo pensamento eu sei descrever.
Possivelmente o homem sorriu maliciosamente porque se lembrou da revista "Gina" e eu correspondi ao sorriso com cumplicidade e algum sentimento de resignação porque naquele momento tive a certeza do que ele estava a pensar. Não fiz, nem costumo fazer, nenhum tipo de comentário quando assisto a cenas deste género. Apenas me preparo de armas e bagagens para o que quer que venha a ouvir...
Ao longo da minha vida tenho reparado que algumas vezes o meu nome dá nas vistas particularmente aos elementos do sexo masculino por causa da tal revista. Na adolescência era algo do género: "Chamas-te Gina? Como aquela revista das mulheres nuas?" Naquela altura, esta questão era feita com um misto de surpresa e entusiasmo pelo que o nome "Gina" os fazia lembrar. Confesso que comecei a ouvir estas perguntas antes mesmo de saber da existência da famosa revista, até que um dia a vi exposta num quiosque. Na capa só se via uma mulher da cintura para cima de mamas ao léu. Lembro-me de achar piada ao facto de existir uma revista com o meu nome, mesmo que fosse uma revista pornográfica. Não fazia mal nenhum... até era giro...
O meu nome é também frequentemente ligado à prostituição. Ou seja... (desculpa lá mas vai mesmo a seco) é nome de puta. E para além disso faz lembrar vagina e tal... e isso também não faz mal nenhum... quero lá saber! Até é giro... e sugestivo e tal...
Mas continuando, passaram alguns anos e a pergunta manteve-se mas muito mais esporadicamente. Hoje em dia ainda ouço: "Gina? Não é..." Normalmente não deixo acabar a frase e atiro logo um sério e pausado:"Sim... como a revista..."
Com a vida aprende-se (e eu aprendi muito bem, diga-se) a aceitar as situações que não se podem modificar. Aprendi a aceitar e esperar o impacto que o meu nome causa aos homens por causa da revista "Gina" e não só. Em vez de baixar o olhar pelo constrangimento que me causa ver a malícia nos olhares masculinos, ou ainda, algumas palavras libidinosas, dou a volta à situação e enfrento-os com o meu destemido e aguerrido olhar que quando eu quero, deixa transparecer algo assim:
- Q ' é q ' foi ó borrego?... Dói-te alguma coisinha?...

Enfim... o meu nome é G I N A!!!... OK???... Algum problema?... Não, pois não?... Bem me parecia...


Volta sempre.

2 comentários:

nandokas disse...

Olá,
Achei imensa graça a este teu 'post', dado que, talvez por 'burrice' minha, nunca fiz essas associações ao teu nome. Às tantas é porque considero um nome giro e, por outro lado, tenho uma mulher na família que se chama Maria Virgínia, a quem chamamos 'Gina' ou 'Gigi': é a minha sogra.
E a parte final é de gritos: "Q ' é q ' foi ó borrego?... Dói-te alguma coisinha?..."
E, por mim, continua sempre Gina, sem problema, ok?

redonda disse...

Eu não sabia da revista.
No meu caso, e agora menos, alguns quando ouviam o meu nome, falavam-me do cravo e da canela...