quinta-feira, 31 de julho de 2008

Rua deserta


Sonhei com a rua deserta. Deserta de carros e de pessoas. Os prédios estava lá, eram muito altos e todos cinzentos. Desabitados. Não havia cortinas, nem toldos nas lojas, nem velhinhas à janela sorrindo para mim ao ver-me passar. Ninguém no passeio para me dizer "olá". Sabia onde estava e que sítio era aquele mas a solidão era terrível. Não sei porque foram todos embora.
Caminhava pelo meio da calçada vazia e a rua não tinha fim. Não há um fim para a minha rua. Acordei antes de lá chegar.

Há acontecimentos com importância suficiente para que fique registado que...:


tchan tchan tchan tchaaaaan!!!


O banco de banheira finalmente chegou! Estava pedido há... quantos meses...? Seis! No mínimo.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Continuidade

Ela estava à minha frente. Imprimia e recortava fotos para expor no seu quarto, dispostas como bem entendesse. Enquanto eu escrevia, ia-a observando. Estava muito compenetrada no trabalho manual e ouvia música através do P.C. Cantava, uma vez que sabe quase todas as letras das músicas que gosta de cor.
De quando em vez, parava o trabalho, para responder aos amigos, quer através do Messenger, quer através de SMS's.
Reparei na sua expressão, tão repleta de juventude... serena, leve, limpa... apesar de concentrada.
Lembrei-me de quando eu era jovem assim como ela é agora.
Uma das coisas boas da maternidade é poder reviver a minha juventude através da juventude dos meus filhos. Eles, os filhos, dão mesmo continuidade à vida...
Queria ter capacidade para parar. Saber fazê-lo. Tenho a vontade e não tenho a coragem.
Este blog é parte da minha vida. Não vou conseguir acabar com ele!
Hoje passou-me pela cabeça muitas vezes: será que eu devia deixar de escrever no blog? Será que estou realmente cansada ou é a minha sede de atenção que me faz pensar em escrever os pensamentos que não deveriam ser publicados? Será que só assim é que escrever tem sabor?

A resposta é sim às três perguntas.
Uma vez ouvi alguém dizer:
- As mulheres muito inteligentes são perigosas... e capazes das maiores atrocidades.
- Sim - concordei - e em simultâneo capazes dos maiores sacrifícios enquanto mães.
- Porque isso lhes é imposto! - disse-me num tom de racionalidade convicta e abrupta. Um tom de voz muito próprio dos seres humanos do sexo masculino.
Discordei. Respondi que não era bem assim, o instinto protector que as mães sentem nem sempre nasce com elas e que, dando o meu exemplo que é o que melhor conheço, comigo só tinha desenvolvido depois de ser mãe. Não me foi imposto, eu queria ser mãe, mas o instinto não existia...


Reflexões num casamento

Num casamento há um magote de gente. As pessoas convivem entre si e manifestam-se despreocupadamente revelando os pontos principais da sua personalidade.
Lá, na festa de casamento, havia mulheres solteiras e/ou descomprometidas e havia as casadas e/ou comprometidas, algumas já com filhos. Umas quantas das mulheres que referi em primeiro lugar, revelavam já um forte instinto maternal pois não largavam as criancinhas, brincavam e estavam com elas, pareciam ter nascido para a maternidade.
Lembrei-me da conversa que relatei no texto acima em itálico. A minha ideia intensificou-se - não é verdade que uma mulher é maternal por imposição.
É verdade que se sente uma responsabilidade que anda de mãos dadas com a obrigação. A minha obrigação enquanto mãe é educar e preparar os meus filhos para a vida. Poderá esse sentimento ser confundido com imposição? Não creio nisso pois nasce o amor.
Nascer mulher é condição, assim como nascer homem. Nasce-se assim e a vida encarrega-se, ou não, de desenvolver os instintos.

Volkswagen Passat Variant 1600 Turbodiesel

O Passat foi o meu primeiro carro. Numa sexta-feira do mês de Janeiro de 1998 o Passat chegou aqui à praceta.
Em parte, devido ao acidente do Luís, houve necessidade de eu tirar a carta de condução. Pensei: "É agora ou nunca!" E lá fui. É por isso que digo que o Passat foi o meu primeiro carro, com ele é que eu aprendi a conduzir.
Lembro-me muito bem da insegurança causada pela inexperiência e do pavor que era cruzar-me com outros carros. Por outro lado... habituei-me que foi um instante! Oh...! E para apreender a estacionar um carro tão comprido...? Que horror...!!! Adiante.
Naquela data, o rico filho tinha três anos e referia com frequência que o pai tinha tido um axidente misturando na conversa o carro novo. A rica filha tinha seis anos e, por sua vez, tagarelava (olha quem para tagarelar!) acerca do carro novo e assim.
Durante dois anos não conduzi muito por não haver grande necessidade disso e, para ser muito sincera, chateava-me conduzir com o maridão ao meu lado. Eh pá... era assim como que... problemático!
Em 2000 o rico filho entrou para a escola onde já andava a rica filha e, não havendo vaga para ele no A.T.L. que ela já frequentava e como eu já possuía carta de condução, resolvi que passaria eu própria a ir buscar os ricos filhos à escola à hora do almoço e regressaria ao trabalho depois do almoço levando-os comigo. Tive esta facilidade porque tenho como patrão o avô paterno dos meus filhos e assim, ainda tinha a vantagem de os meninos, às vezes, ficarem em casa da avó paterna da parte da tarde.
No início, não se pode dizer que tenha sido fácil mas uns meses depois comecei a ficar com o bichinho da condução e a ter a mania que sabia conduzir - como acelerar em vez de parar ao avistar um sinal amarelo e a usar a caixa para fazer as curvas sem travar, pisar traços contínuos, por exemplo. Hoje, verifico que tinha mesmo a mania que sabia conduzir...
Os anos passaram e o Passat começou a ficar velhote e com problemas de várias ordens. No entanto, havia facilidade em arranjá-lo - o Luís percebia daquilo e lá se ia compondo a coisa. Tive que lidar com algumas situações de emergência e hoje sei que não há nada melhor para desemburrar do que um carro velho e a cair de podre.
Mas a coisa piorou - em Julho de 2005 quem teve um acidente fui eu. Nada me aconteceu mas o Passat que já acusava velhice profunda, piorou... o arranjo seria dispendioso demais levando em conta a idade do carro (em 2005 contava 15 anos) e então decidimos comprar outro do qual falarei posteriormente.
Já referi no início deste texto que este foi o meu primeiro carro e assim sendo, há coisas que não esquecerei. Seguidamente surgirá uma lista dos podres do Passat:

- o pedal da embraiagem ficava colado lá em baixo havendo, por isso, necessidade de o puxar para cima com a ponta do sapato

- por causa desse desgaste era muitas vezes difícil engatar a primeira mudança

- houve uma altura em que não era necessário rodar a chave na ignição, o Luís improvisou um botão para fazer uma ligação directa, era assim que se punha o Passat a trabalhar - carregava-se no botão

- a tampa da mala não se segurava lá em cima, era uma diversão colocar vários sacos ou qualquer outra coisa lá dentro, além de que levei com ela na tola algumas vezes

- para desligar o limpa pára-brisas tinha que ser com ele num determinado sítio senão ficava a meio do percurso dificultando assim a visibilidade

- se chovesse entrava água lá para dentro

E agora seguem-se as fotos:



Quer a foto de cima quer a foto de baixo, não sei onde foram tiradas... mas sei que foram tiradas quando andávamos por aí em férias. Já estou naquela altura da vida em que as férias se confundem com os anos...

A foto de baixo foi tirada da minha varanda. Fui eu que a tirei três dias antes de ficarmos sem o Passat para ficar como recordação... Na foto aparece a data - 28 de Agosto de 2005. Três dias depois iríamos buscar o...!

daqui a uns tempos saberás!!!


terça-feira, 29 de julho de 2008

Há para aí uma boa meia dúzia de post's que o assunto é: trabalho. Arre! Que enjoo!!!

Assunto: Férias

Estamos naquela altura do ano em que me perguntam uma dúzia de vezes ao dia se já fui de férias, se não fui quando irei, se vamos fechar...
A malta não passa sem mim, a sério. Não é que me queiram ver com um ar sadio e descansado, não senhor... é mesmo porque durante a minha ausência poderão precisar de uma garrafa de gás, ou de um gancho de cabelo, ou de um alguidarinho, ou a fechadura da caixa do correio avariou, ou então aquele bacio que eu tinha na montra pode de repente tornar-se imprescindível lá em casa... nunca se sabe. E se eu tiver a loja fechada, onde irão encontrar daquilo?
Férias?! O que é isso?! Ah...! É aquela altura do ano em que não se trabalha...! Está quase, está quase...! Mas ainda falta o "quase"...

Hipocrisia é...:


Aqui o tema surgiu em código.
- Olhe... tem serpentinas...? Aquilo que se põe dentro d' água p´ra aquecer?
Respondo:
- Aquecedores de imersão. Tenho, sim.
Penso:
"Serpentinas, aquilo? Ok...!"
- Isso! Só queria saber o preço...
Respondo:
- São ** euros.

Penso:
"Ai é tão caro..."
- Ah... é muito caro... desculpe... desculpe...
Respondo:
- Não tem importância.

Penso:
"Vai à merda e pelo caminho aquece a água aos bochechos dentro da boca! É muito mais barato..."

Ou pior ainda...:

E aqui o tema era fechaduras.
- Só tem destas? A que eu tenho lá não é assim, não tem isto...
Respondo:
- Estas têm a vantagem de serem reguláveis. Por isso vão dar.

Penso:
"Já 'tou a ver que és previsível... e não vais levar isto... certo?
"
- Atão não tem das outras? Mas devia ter...
Respondo:
- Pois devia. Agora vendia, não era? Estas também lhe servem. São reguláveis, só precisa de fazer deslizar o canhão.
Penso:
"Chiça qu' é burro!!! Deve ser preciso fazer um desenho!!!"
- Não. Não vou levar.
Respondo:
- Ok.
Penso:
"A sério!? Que novidade!!! O que eu cá devia ter p'ra vender era baldes de paciência para te aturar. Já agora, aproveita e vai à merda, sim?"

Passo a minha vida rodeada de hipocrisia. A que mais me custa suportar é a minha própria hipocrisia. É um sentimento com o qual sempre lidei muito mal desde que tenho que lidar com ele de uma forma directa e abusiva, tenho mesmo que o usar pois senão, responderia o que penso e não o que na realidade respondo... Em paralelo lido com a previsibilidade das pessoas e isso angustia-me muito.
E depois penso aquelas coisas, que não devia pensar e venho escrevê-las porque me alivia, e nem sequer penso que não as devia escrever. Quer dizer, agora estou a questionar-me nesse sentido mas já que tive o trabalho de escrever este texto - ei-lo apresentado daqui para o mundo!

Desafio

A Bell desafiou-me a revelar oito coisas que quero fazer antes de morrer.
Tive que pensar um bom bocado, puxar pela cabeça. À partida, não me lembrei de nada, talvez por ser uma pessoa sem grandes ambições. Ainda assim, de tanto pensar, lá cheguei às oito coisinhas...


8 coisinhas para fazer antes de morrer:


as coisinhas atingíveis:

- adquirir o 12º ano de escolaridade

- revisitar Paris

- mudar de profissão

- ser sempre feliz... até morrer!


as coisinhas utópicas:

- conduzir um Ferrari

- pintar um quadro

- escrever um livro

- fazer um cruzeiro, estar no alto mar julgo ser o auge dessa viagem


Achei por bem separar as oito coisinhas em dois grupos. O segundo grupo dificilmente será executado... mas como não conheço o futuro, se calhar antes de morrer, ainda digo qualquer coisinha...

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Estou cansada das ideias que andam na minha cabeça e ainda por cima sonhei com todas elas. Estou cansada do prejuízo que essas ideias provocam na minha vida.
Elas, as ideias, passaram todas por mim mais uma vez enquanto dormia esta noite, impedindo-me de descansar. Acordei e, já acordada, as ideias não abalaram... o dia passou e as ideias desfilaram vezes sem conta à minha frente, pareciam bonequinhos coloridos zombando da minha natureza.
Martírio desnecessário, este. Por cima de tudo isto, ainda é vão...
Tenho que esquecer - esquecer as ideias, esquecer o martírio, esquecer os bonequinhos coloridos, esquecer a minha natureza... que hoje não suporto.
Quis escrever para esquecer e descobri mais uma impossibilidade.
Hoje, a esfera onde vivo não me entontece.

domingo, 27 de julho de 2008

Sou muito individualista. Penso muito para mim e comigo. Estou sempre muito só comigo mesma. Tudo muito e tudo comigo. O que me leva a cansar-me de mim própria, das minhas ideias, das minhas opiniões.
Sei que as palavras que escrevo não são novas mas tenho a certeza que são minhas, eu é que as pensei, eu é que as fiz saírem escritas assim. E às vezes estou cansada de estar comigo, da minha cabeça, de mim.
Não desejo ouvir outros ou ler outros mas sinto que devia ler palavras que não sejam minhas... é o que vou fazer agora.
Às vezes tenho saudades de ti. Aparecem-me aqui ao pé quando estou muito cansada. Quanto mais cansada estou mais sinto a tua falta. Quanto mais tomada estou pelo cansaço menos força tenho para te afastar. Paradoxalmente, sei que se pudesse sentir-te, descansaria.
Agora vou descansar da única maneira que posso - escrevendo.

Só "Gina"

Há umas semanas que reparo que ele já não me chama "dona Gina". Agora, quando se dirige a mim, omite a "dona" e chama-me só "Gina". Fica estranho mas sei a que se deve essa alteração - ele vem aqui ler isto.
Agora conhece-me melhor, creio. E também creio que leu aqui muitas coisas que desconhecia. E assim ficou a conhecer-me melhor e dispensa o "dona". Só "Gina" é mais íntimo, mais de amigo.
Raramente escrevi com a ideia de que ele viria cá ler. E quando me lembrava fazia sempre por esquecer e sempre conseguia. Agora, enquanto escrevo este post, não há palavra nenhuma martelada neste teclado e enviada para o ecrã que eu não tome a consciência de que ele vai ler.
Não vou esconder que tenho receio que ele não goste de ler o que hoje me está a sair do pensamento para os dedos. Mas eu quero registar que ele já não me chama "dona Gina" porque acho isso muito curioso. E, se eu não tiver a liberdade, ou melhor dizendo, a coragem de escrever sobre aquilo que me apetece, então não vale a pena ter um blog público. Nesse caso, melhor seria escrever somente no caderno de capa colorida que está ali à cabeceira da minha cama.

Já escrevi e já esqueci!

sábado, 26 de julho de 2008

... assim como para...

... o vocábulo "tipo" está para os adolescentes assim como o vocábulo "pronto" está para os adultos...

certo...?

adenda: o "pronto" é frequentemente verbalizado na variante e inexistente "prontus" o que aumenta o grau da estupidez e diminui o da sabedoria... nos adultos... que tanto troçam do "tipo" dos adolescentes...

Latinha de tinta

- Não sei se isto me vai chegar... - disse o cliente, indeciso.
Na mão segurava uma latinha de tinta de esmalte de dezasseis mililitros que sacudia tentando ouvir o sussurro da lata quando esta lhe dissesse se a tinta chegaria.

(Aqui deixo um pequeno à parte: eu vendo latinhas cuja tinta sussurra mediante a velocidade com que são sacudidas... e também tenho daquelas que assobiam mas são caríssimas...!)

- Se não chegar vem cá buscar outra - disse eu - não gosta de cá vir?
Olhou para mim e rapidamente baixou o olhar.
- Gosto - falou devagar, já com o olhar pousado na latinha de tinta ainda muda.
- Então, assim vem cá outra vez. Até lhe serve de passeio.
- Pois...

Gosto de provocar as pessoas. Gosto, gosto. E qualquer dia lixo-me. Ai lixo, lixo. Mas ainda não foi hoje.

O sítio

- Olá! Então, está tudo bem? - perguntou ele.
- Não - imediatamente pensei que devia ter-lhe dito que sim, estava tudo bem.
- Não costumo pôr a culpa da minha disposição no tempo mas esta chuva hoje não está a ajudar nada... - desculpei-me e ri.
Bebíamos café. Entre um golo e outro percebi que a conversa não ia ficar por ali. Arrependida, pensei:
"Mas porque raio é que fui responder daquela maneira?"
Desejo de anunciar como me sinto, numa tentativa de desabafar, certamente.
- Pois é, pois é... - disse ele.
Ele é uma daquelas pessoas sem timidez alguma, olha nos olhos quando fala, transporta consigo uma elevadíssima auto-estima.
- Então hoje não estás bem...? O tempo está de chuva... o sítio também não ajuda... - sorria abertamente como é seu costume e o olhar era mais penetrante que o habitual, tentava descodificar o meu e conseguiu - acertou no ponto fulcral daquela manhã. Senti lágrimas atrás dos olhos e a garganta apertada.
"Que merda!!! Queres ver que agora vou-me desmanchar a chorar aqui ao pé do homem? Porra para mim e mais ao meu feitio de caca! Quem me manda a mim ser tão transparente? Chiça!!!"
Ele viu e percebeu o que ia acontecer. Felizmente teve a sensibilidade necessária para mudar de assunto.
- Então e os miúdos? Passaram de ano?
Senti um alívio enorme e continuei a falar normalmente com ele.

Há dias em que as coisas me correm muito menos bem do que eu queria e às vezes tenho que desanuviar de alguma maneira. Falar com alguém acerca dos ricos filhos é uma boa maneira de esquecer o sítio onde estou.

Sem riso e muito siso

Os olhos eram verdes e enormes. Rolavam nas órbitas à medida que falava e a boca contraía-se entre as frases que emitia. Postura estritamente profissional, pensei eu. Nada de simpatia ou empatia para com os utentes.
Olhei-a mais atentamente. Era suposto ser bonita mas não era... tal era o esforço para não sorrir e concentrar-se em não deixar transparecer fraqueza alguma, não fossem os utentes, todos eles velhos e doentes excederem-se no uso da confiança, se demonstrada.
Apesar de achar esta postura demasiado tensa e reprimida para quem lida com público, consigo compreender quem a tem. É um pulinho de tempo o que vai de um sorriso ao excesso de confiança. Sei muito bem, até demasiado bem, do que falo.
Minutos depois, estava já eu muito próxima de ser atendida e por isso estava numa sala diferente. Ela passou com uma garrafinha de iogurte líquido na mão - ia lanchar. Sorriu para mim.
"Ah...! Afinal tu sorris...! E ficas bonita. Bem me parecia que havias de ser bonita..."
Fiquei toda contente - menos uma caramela sisuda.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Catorze anos!!!


Título:
André Luís

Apresentação:
Este é o post comemorativo do décimo quarto aniversário do rico filho.
Este ano decidi registar o aniversário dos ricos filhos contando a história que gira à volta dos nomes que escolhi(emos) para eles.

História:
O Luís sempre quis que um dia quando tivesse um filho varão, este se chamasse como ele próprio - Luís Manuel. Nunca gostei da ideia e nunca a apoiei, porque sempre achei que me bastava um Luís para aturar mas... ele tinha esse gosto e eu não queria desapontá-lo nem queria que ele vivesse com esse desgosto.
Por isso, durante a gravidez, chegámos a um consenso - se o bebé nascesse menino um dos nomes próprios seria Luís e já que a ideia me desagradava, eu escolheria o outro nome próprio que se poria ao menino.
Durante uns tempos andei indecisa entre Miguel e André mas por fim lá me decidi e escolhi André, é um nome agradável, fácil e rápido de se dizer.
Entretanto, outra questão se punha - Luís André ou André Luís? À partida, era muito mais giro Luís André pois André Luís parecia-me estar virado do avesso. Estava eu mais inclinada ao conjunto Luís André quando, em conversa com uma das minhas cunhadas, ela me aconselhou vivamente o nome avessado. Se não me agradava a "ideia Luís" então que não pusesse esse nome em primeiro lugar pois assim toda a gente iria acabar por lhe chamar Luís... André Luís era, de facto, estranho mas depressa me habituaria e para além disso a ordem era invulgar por parecer inversa e era por isso que ficava um nome giro, disse-me ela. Analisei a ideia e concordei.
E assim, se pôs o nome André Luís ao menino que nasceu há catorze anos atrás, exactamente à hora a que publico este post: sete horas e quarenta e cinco minutos da manhã. E ao som de música clássica, o André Luís emitiu o seu primeiro choro... mais viriam - era terrível...!


Notas:

· O rico filho, por não ser o primogénito, tem um nome anterior à sua existência. Se a mana, que é cerca de três anos mais velha, tivesse nascido menino era ela que se chamava André Luís. Ou ele, nesse caso. E talvez eu não contasse esta história, talvez contasse outra...

· Se o rico filho tivesse nascido menina hoje chamar-se-ia Rute Maria. Actualmente rimo-nos todos quando algum de nós lembra este facto mas na altura gostávamos do nome...

· O André Luís gosta de ser André mas não gosta de ser Luís... concorda com a mãezinha dele, meu querido filho!

· Actualmente o André é assim como se vê na foto. Dá uma trabalheira danada fotografá-lo. Vá lá... a mana lá conseguiu esta foto enviesada...!

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Não tenho os pés assentes na terra. Ando sempre a flutuar. Sempre suspensa no ar.
Às vezes sonho que flutuo. Se estiver a sonhar dormindo sinto o sonho como se pesadelo fosse. Porque me desprendo de mim mesma e me abandono. De repente percebo que aquela "coisa" fica fora de mim e não gosto. Se estiver a sonhar acordada gosto de me sentir flutuar. É lânguido, deleitoso...
Possivelmente o sonho é uma forma do meu lado racional me dizer que não devia flutuar. É esse lado a dizer-me que tenho que deixar-me descer e tocar com os pés no chão. Depois, andar bem assente.
Sei que quero o impossível. Mesmo tentando alcançá-lo e apesar de o saber inatingível, sonho e flutuo acordada. Nunca estou aqui. Nunca estou onde estou. Nem agora.
há muita coisa que ainda avisto daqui... como seria se...? como estaria eu agora...? melhor ou pior...?
talvez exausta, feliz, inquestionável, contemplativa... contemplaria alguém que por sua vez estaria rendido aos meus encantos, à minha maneira de ser, à minha escrita. a mim.

O senhor engenheiro...

... desceu o pequeno lance de escadas vindo do primeiro andar e apareceu à porta do número vinte.
Ar aprumado, sapatinho lustroso, fato completo e condizente. A porta bate com força e ele fica no degrau em pé, tenso. Tem uma postura altiva, muito próxima da arrogância. Porém, não lhe toca.
Avisto o aro dourado dos óculos e o olhar vivo. Reparo, pela enésima vez na minha vida, naquele bigode imóvel apesar das pontas reviradas criarem algum movimento e lhe darem um ar cómico. Tudo nele está no sítio.
São nove e vinte e cinco, o seu dia começou. Primeiro passo: encontrar a carrinha modelo topo de gama. Vejo-o seguir numa direcção no seu passo acelerado e determinado. Parar e olhar em redor, claramente à procura de algo. E vejo-o voltar no sentido contrário no mesmo passo. A sua expressão traduz tão bem o que está pensar...:
"Onde é que raio eu pus o carro ontem, pá?"
"Que contraste!" penso eu "O senhor engenheiro tão certinho e aprumadinho e não se lembra onde deixou o carro...! Podia pedir ajuda ao bigode, sempre tem aquelas pontinhas reviradinhas... podia ser que lhe indicassem onde deixou o carro...!"

Eis a questão

Vi num catálogo que na parte da lingerie se referiam aos soutienes de tamanho grande como sendo para "um peito generoso". Eis a questão:

Um peito generoso ou um grande par de mamas não quererá dizer exactamente a mesma coisa?

E agora vou falar de trabalho

Recebi duas folhas A4 agrafadas e impecavelmente limpas. A mensagem que continham era algo que já é corriqueiro - aumento de tabelas de preços. Digo corriqueiro porque os fornecedores sofrem todos do mesmo mal - todos apresentam o "problema" do mesmo modo:

primeiro:

lamentam imenso...

segundo:

vêm-se forçados a alterar a tabela de preços porque os seus próprios fornecedores assim fizeram...

terceiro:

não subsistirão se assim não procederem...

quarto:

pedem a compreensão dos seus clientes...

quinto:

esperam continuar a ser merecedores de confiança e fidelidade apesar do aumento...

Na sala de cinema

Ontem fui ao cinema. Na sala, lá em cima na última fila, estava uma maluca* descalça com os pés em cima das cadeiras da fila em frente.
Que indecência!
Que pouca vergonha!
Que nojo!

*eu

terça-feira, 22 de julho de 2008

Escrevo para esquecer e esqueço aquilo que escrevi

Não foi sempre assim mas foi algo a que me habituei propositadamente. Forcei o hábito pela timidez que sentia ao imaginar que alguém viria aqui ler isto.
Ao fim de algum tempo dispensei a timidez - os familiares e amigos a quem revelei a existência do meu blog e convidei a ler as minhas histórias, não vieram mais do que uma vez.*
Depois que abalou de mim alguma da frustração que sentia, começou a saber-me muito bem, assim existia uma liberdade que de outro modo não existiria. Apercebi-me disso e vi o lado positivo da questão, virei-me do avesso. Comecei a sentir exactamente o inverso - era muito agradável que não viesse aqui ninguém que penetrasse dentro do meu olhar e conhecesse o tom da minha voz. Afinal de contas, não vinha cá ninguém impor o manual dos bons costumes nem discordar do meu comportamento nem oferecer-se para me ajudar a portar-me benzinho. Apeteceu-me escrever "merda", "porra", "puta" e outras palavras comichosas e peçonhentas e... escrevi! Apeteceu-me escrever que me sinto mal com a minha profissão, que faço comidas insípidas, que não gosto disto ou daquilo, que os homens pensam com a pila, que estou triste, que estou esfuziante de alegria porque vou de férias e... escrevi! A linha que delimita até onde posso ir afastou-se de mim, instigando-me a alcançá-la. Nessa tentativa estiquei-me tanto que me revelei loucamente. Não recuei. Não recuarei.
Na verdade, quando iniciei esta actividade ignorava a existência da loucura que há na liberdade de manifestar o que penso perante o mundo inteiro. Num processo gradual, que ainda hoje gradua, dei largas à imaginação, deixei-me dominar pela dita loucura ignorada até então e deu nisto que hoje se lê por aqui e que me faz voar o pensamento nem sei muito bem por onde mas sei que quero sempre escrever tudo aquilo que vejo, ouço ou sinto. Desenho a minha loucura com as palavras. Isso, sei eu.
Não acho que a minha escrita seja de baixa estirpe, embora não a classifique pela qualidade nem pretendo escrever pela qualidade. Normalmente classifico, ou qualifico, a minha escrita pelo prazer e pela intensidade com que escrevo. É nesse ponto que quero trabalhá-la.
Mas... (há sempre um "mas", não é verdade?) todas as coisas têm um lado bom e um lado mau. Acabei de explanar porque acho bom que não se saiba porque escrevo e o que escrevo mas, enquanto escrevo estas linhas, não me sai da cabeça que, assim, as pessoas que sabem de que cor são os meus olhos e que já ouviram a entoação que dou à minha voz, nunca saberão o grau de inteligência que possuo. Este é o lado mau desta questão. Não vou explaná-lo. Hoje não.
A vida é como uma esfera de grandes dimensões, lisinha e sem planícies ou sombras onde repousar. Viver é estonteante. Eu, por mim, gosto muito de me sentir tonta. E tu?

*Hoje, há excepções. Há quem conheça a Gina pessoalmente e, inclusive, interaja com ela em campos diferentes e venha aqui ler isto...
Não posso deixar de referir que isso é muito prazeiroso.

domingo, 20 de julho de 2008

"A liberdade é a possibilidade do isolamento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo." Fernando Pessoa


Sinto assim. A possibilidade de me isolar não tem existido. E por isso me sinto presa.
Amanhã tenho que lá ir...
O meu desejo é oferecer felicidade. Sempre. Estou presa e espalhei tristeza e desilusão. Sem cortesia. Sem harmonia. As palavras fugiram e o peso cresceu.
Amanhã tenho que lá ir...

As palavras

Pego nelas, olho-as, distribuo-as em grupos, ponho-lhes um código que depois penso e trabalho para descodificar. Esta última não concluo nunca. Fico-me sempre pela tentativa. Mas ando sempre com elas ao colo, mimando-as e embalando-as para não as melindrar. Tenho medo que vão embora. Hoje foram. Corri atrás e trouxe estas comigo.
A velhice


Há os que passam a vida a jogar às cartas, outros a sua melhor amiga é a televisão.
É o descanso de quem passou a vida a trabalhar e agora o seu trabalho é aconselhar as gerações seguintes.


Breve ideia sobre a velhice. A autoria deste texto pertence ao rico filho.

sábado, 19 de julho de 2008

Mim - Poça! Seis post´s num só dia?! Ó Gina, isso é que foi trabalhar, hein?!

Eu - Pois é, Gina... e este é o sétimo. Desde que descobri a maravilha que é uma pen, é isto!

Mim - Atão?!

Eu - Atão, lembro-me de uma coisinha escrevo lá no PC da loja, lembro-me de outra coisinha escrevo lá no PC da loja e assim por diante. Chego ao fim do dia com uma data de coisinhas metidas na pen e depois é só descarregar aqui...

Mim - Passas o dia a escrever, não?

Eu - Não!

Mim - Quer dizer então que também trabalhas... ah! ah! ah! ah! Tens tanta piadinha... ah! ah! ah! ah!

Eu - Claro! Atão não se vê pelos post´s que escrevo que me farto de trabalhar?

Mim - Eu acho que com tanta escrita nem tens tempo para tra...

Eu - Eh pá não me chateies, ok?

Mim - Ok. Mas eu.. continuo a achar que perdes um tempo do caraças com parvoíces.

Eu - Eh pá!... Outra vez? Já vens com essa conversa da parvoíce outra vez? Vai mas é dormir.

Mim - Vou sim. Por hoje chega. Até amanhã,Gina.

Eu - Até amanhã, Gina.
Um dos contactos que tenho no Messenger tem sempre uma frase naquele espaço a isso destinado, logo a seguir ao nome ou nick.
E a frase varia mas pouco. É fácil perceber que anda ele a fazer. Senão vejamos:

man at work - o homem trabalha... how discusting! lharc!!!


man at home - e vai para casa... not unusual... sorry


man at home (working hard) - trabalha lá em casa e tudo... oh...! poor child...!


man somewhere in this planet - isto é quando ele quer que a malta se pergunte: onde andará este gajo, pá?! where are you, bro?!


man driving somewhere - o homem conduz por aí... on hollyday's!!! oh happy day!!!
Ora bem, a senhora que há algum tempo me foi perguntar se por o meu vizinho se ter atrasado a abrir a loja depois do almoço seria por força de uma caganeira fora de horas... continua muito - mesmo, mesmo, mesmo muito - castiça!!!
Ou seja, queria uma cola que não fosse de uma marca que já comprara noutro sítio porque no tal sítio lhe tinham aconselhado aquela marca e aquilo lhe tinha saído uma bela de uma merda!!!
E entretanto, aproveitou a ocasião para me contar de uma vizinha que nessa manhã lhe tinha dado com a porta na cara porque não a vira do lado de dentro, obviamente, fez-lhe um grande golpe no nariz e ela não vai de modas e pimba!!! Chamou-lhe tudo de filha da puta para cima!!!


Não é tão engraçada a vida de alguém que vende tudo de colas para cima?
Entrámos os quatro no elevador. Armados de sacos e malas de viagem sobrava pouco espaço dentro da cabine. O rico filho de lado, eu com a cara encostada ao vidro e uma mala em cima dos pés, a rica filha tinha uma mala em cima da outra e o Luís com a chave, telemovel, carteira... tudo ao monte nas mãos! Carreguei na tecla do rés do chão e o elevador iniciou a descida. Parou no primeiro andar e alguém abriu a porta. Obviamente era alguém que queria descer também.
- Olá, boa tarde! - cumprimentei - Isto hoje está um bocadinho cheio... - disse eu em jeito de desculpa.
- Vai descer?
- Sim.
- Oh, então deixe estar. Está muito cheio!


Hummm... ok.... está bem... eu cá por mim... ainda nem tinha reparado...

A Dona Antónia

O abraço que me deu foi apertadinho e sentido. Eu correspondi, foi tão fácil...! Os dois beijos foram repenicados e dados na face. Voltei a corresponder com gosto.
Depois, falou de si. Contou-me numa voz com um acentuado sotaque espanhol o que fez nos últimos dias - a doença, o que andou, o autocarro que não chegava, o cabelo, a comida, as amigas, os papeis na Embaixada Espanhola, a conta da luz e do telefone, que não deixa uma luz acesa, as novelas da TV, a roupa para lavar à mão, os manos e as manas lá em Espanha, os bolos que sempre deixa para os meus meninos...
A Dona Antónia só fala de si, tem um coração tão puro...! É alguém que possui uma nitidez de sentimentos que eu invejo. E é tão fácil gostar da Dona Antónia...! A Dona Antónia é tão pura, tão simples e tão nítida que é difícil elaborar um texto acerca dela...
Vou ficar-me por aqui. Ou então não. Eu devia era imprimir este texto e dar-lho a ler. Será que ela iria gostar? Será que ficaria feliz com o facto de alguém a observar ao ponto de querer escrever acerca dela? Será que compreenderia o que quis dizer?
Estas são das questões mais difíceis que encontro desde que escrevo. Tenho sempre medo da reacção das pessoas. Apesar da pessoa a quem me refiro neste post ser alguém com uma pureza de coração que admiro consideravelmente...

Enumere dois objectos incompatíveis:


1 - fogão em pleno funcionamento
2 - computador ligado ao site:
http://verdeagua2.blogspot.com/

Enumere e descreva por palavras suas a conclusão da incompatibilidade dos objectos que referiu.

1 - as batatas ficaram para lá de fritas
2 - o esparregado ficou queimado
3 - e a entremeada... safou-se!

Pequenas questões dirigidas aos ricos filhos:

Ó vós, que pertenceis à geração "muito depressa e tudo muito rápido", porque dizeis "ya tásse bem" quando, se dissésseis simplesmente "sim" ou ainda, nos modos americanos "ok", acaso não seria, quiçá, mais "muito depressa e tudo muito rápido"?

Adenda:
Questão propositadamente escrita desta maneira para criar um contraste tão grande que ficará um abismo maior do que aquele que realmente existe entre as gerações. Assim acentuei a distância.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Duvido que tenha mais alguma coisa dentro da cabeça para além de parvoíce e palavras, ora soltas ora amontoadas, que quero separar por grupos para transformar em textos. É isso o que sou - parva e escrevedora. Só isso.
Serei mesmo parva ou quero demonstrar que o não sou escrevendo? Ou por outra, quero demonstrar que sou e venha quem ou o que vier e logo se vê? Parva e aguerrida... assim já sou mais qualquer coisa.
Há sempre uma grande dose de prazer nas certezas da parvoíce. Não se liga aos parvos e assim, esses, os parvos, poderão fazer as parvoíces todas sem que tenham que prestar contas. Sinto que esse prazer me transmite esta certeza - ninguém me vai dar importância. Nem é preciso guerrear.
E eu vou escrevendo parvidades dispensando guerras.

elevadores e assim

declaração solene e peremptória:

mesmo quando o elevador exibe orgulhosamente um nome, esse nome é "Fortis" e o dito elevador pertence ao que de mais avançado existia nestas lides de elevação para aí nos anos trinta, eu, Gina Maria (e mais nomes meus não escrevo) tenho cagufa de ser elevada ou descida naquilo...

desenvolvimento assustado:

aquilo range por todos os lados, vê-se os cabos subir e descer, o que me faz logo pensar "bolas...! e se esta porra parte quando eu for ali dentro...?", tem um espelho inútil pois a luz dentro da cabine é muito fraquinha e quase não dá para ver os botões que indicam os andares nem sequer consigo saber quão formosa sou por não me ver reflectida no dito espelho nem nada, possui duas portas de correr tipo lagarta que se não me ponho a pau ainda me entalo naquilo, e é preciso fazer cá uma força para movê-las...! e pensando bem... duas portas para quê...? era mesmo preciso serem duas...? seriam as normas de segurança da altura que assim o exigiam...? se é, então comigo não funciona pois como já se verificou através deste post, segura dentro daquilo é que não me sinto...!

conclusão e questão:

a que se deve, então, o nome "Fortis" se não aparenta robustez nenhuma...?

quarta-feira, 16 de julho de 2008

chochinho matrimonial


"ai... ó Luís!... vê lá se alguém vê..."
"ninguém vai ver nada, não está aqui ninguém..."
"mas a tua mãe estava ali!..."
"não está nada!..."
"está bem!... mas e se vier aí alguém?!..."
"não vem ninguém..."
"oh pá..."
"vá lá... deixa-te de cenas!..."
"então está bem!..."


havia de ser hoje que logo viam!... chamava-os a todos para verem o chochinho!... depois apareceriam os bichinhos-de-conta, as joaninhas, as borboletas e as ameixas amarelas que por sua vez chamariam os pinheiros, os eucaliptos e os malmequeres, porque as hortências já ali estavam ao pé de nós... e o ramo de rosas na minha mão... testemunhas oculares do chochinho...

(eu sei que as flores não têm olhos e é claro que alguém estava a ver ou não existiria esta foto mas assim isto fica muito mais giro)

post scriptum:
casei há desanove anos atrás e estou um tanto ou quanto diferente... só não sei é se aquele vestido ainda me serve...

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Já há algum tempo que não me saía uma destas:

Entrou um jovem que com o seu sotaque brasileiro me perguntou:
- De chaves, posso falar contigo?
- Pode falar comigo acerca daquilo que quiser. Desembuche que eu logo lhe digo se pode continuar ou não...

Mas porque é que esta porra desta vida é tão chata, pá?!

- Olha lá! Tu também és evangelista, não és?
- Mais ou menos* - respondi.
- Então também não baptizaste os teus filhos, 'tá visto...! - exclamou ele - Claro...! São crianças...! Não sabem e tal...! - rematou com escárnio.
Nem bom dia nem olá nem vontade de ouvir qualquer resposta, apesar das questões apresentadas. Apenas a vontade de despejar a raiva e o desprezo juntamente com disposição à farta para escarnecer das minhas atitudes e das minhas convicções. Respondi-lhe sem calma alguma, confesso, que se não sou católica não baptizei os meus filhos na igreja católica, obviamente.
Afinal aquela conversa toda servira apenas como introdução à divulgação de um livro qualquer que trazia consigo debaixo do braço e que, segundo ele, desmentia a crença que o meio evangélico tem de que as crianças não devem ser baptizadas por estarem na idade da inocência e não saberem decidir por si mesmas.
Este "quê" religioso (este e outros) há-de existir sempre na minha vida. Dei a cara, manifestei-me e é por isso que sou chamada à atenção por quem não segue sequer as regras da boa educação quanto mais os ensinamentos bíblicos. Há quem exija e desdenhe querendo demonstrar uma vida idónea e irrepreensível esquecendo com frequência o amor cristão que tanto apregoam.


*Esta resposta desprovida de convicção e estabilidade deve-se ao facto de eu hoje não frequentar assiduamente nenhuma igreja nem fazer por seguir a doutrina em que fui ensinada. Foi por isso que respondi "mais ou menos" e não "sim" ou "não".
Em tempos frequentei uma igreja assiduamente e, fazendo o melhor que sabia, segui uma doutrina. Hoje não é assim. No entanto, a doutrina está enraizada na minha personalidade e nem faço por removê-la. Está cá e eu quero deixá-la estar.
Aqui pelo meu blog já figuram vários textos onde menciono o que acabei de relatar no parágrafo acima deste. Normalmente não desenvolvo muito este assunto, paro quando acho que vou divulgar nomes ou atitudes de pessoas de quem gosto e a quem muito prezo. Não me sinto com liberdade para escrever contra os meus próprios princípios. Para tal, teria que ser muitíssimo mais louca do que sou...

domingo, 13 de julho de 2008

Pensando

Há dois minutos que estou a pensar - que hei-de escrever mais? Já rebusquei na minha memória acontecimentos que sejam dignos de registo mas não encontro. Acerca do dia de hoje não há nada relevante.
Ah!... Afinal até há, lembrei-me de algo que vale a pena registar - ninguém devia nunca chegar ao fim do dia com este sentimento que tenho hoje, uma certa apatia em relação ao dia que passou. Um dia que não aqueceu nem arrefeceu, um dia morno e banal, sem significado.
É um dia que passou e não volta mais e nem isso importa neste momento.

Arrepiada

Ontem, quando me aproximava do parque de estacionamento do principal fornecedor da minha despensa... arrepiei-me toda mal avistei a farda fluorescente do segurança... e de seguida mudei rapidamente de direcção.
E não é que ia fazer a mesma merda de sempre?! Chiça!... Se eu não visse o homem nem sequer me ia lembrar disto!
Acho que não me vou lembrar nunca a não ser nos dias em que calhe o homem andar por ali para eu dar com os olhos naquela farda. Ainda bem que é uma farda dotada de fluorescência, senão...


(acabei de "descobrir" mais duas características que possuo orgulhosamente - despistada e transgressora - e que... poderiam muito bem figurar ali ao lado no meu perfil, já que só escrevi mal de mim mesma)

Viciada

No metropolitano fiquei sentada em frente a um casal de joves que aparentemente seriam dependentes de droga. Eram jovens, bem parecidos e davam a ideia de pertencer a um nível social elevado.
Enquanto os observava dei comigo a pensar que não faço diferença deles. Eu, tal como eles, estou viciada em algo e preciso disso para me sentir viva e desperta...

Uma verdade

A verdade liberta? Não. A verdade oprime. Estou oprimida pela minha verdade e pela minha mentira. Creio que nunca me sentirei liberta.

sábado, 12 de julho de 2008

Continuando com a conversa dos meus 40 anos -

- não sei é fruto da minha imaginação se é mesmo assim, a verdade é que hoje quando me vi ao espelho encontrei mais uma data de cabelos brancos. Será que apareceram aqui enquanto dormia? Esperaram a primeira noite desta minha nova era e decidiram avançar cabeleira fora conquistando espaço?
Até hoje os meus cabelos brancos não me causaram desgosto suficiente para que tenha paciência para andar a encondê-los cobrindo-os com tinta. Não é que goste de os ter mas gosto muito menos do número de vezes que é necessário visitar cabeleireiros. Por isso ando a ver se me deixo andar de cabelos brancos...

Ainda na onda do meu recentíssimo aniversário -

Esta pobre, que se caisse mortinha agora mesmo não cairia pois ficaria a flutuar no ar por tão desafortunada ser, recebeu ontem duas (sim, sim!... duas!...) SMS's do banco onde figuram as dívidas e vagueiam os parcos haveres que possui...
Vivam as novas tecnologias e também as manobras de markting!... Ou então não vivam nada!... Assim até se intensifica um pouco mais a ideia que o banco lembrou (ainda que seja uma manobra de markting) mas alguns familiares esqueceram ou não estiveram para isso...

A festa

A minha festa acabou. Agora é tempo de voltar a outra festa. Foi o que fiz pouco depois de acordar. Liguei o computador, acedi ao site www.novasoportunidades.gov.pt disposta a imprimir o referencial para ir conhecendo e tecendo ideias acerca do trabalho que tenho pela frente...
A minha resposta à proposta que me fizeram de frequentar um curso profissional que referi neste post foi 'não'. Fiz uma lista dos prós e dos contras, o que até nem tem muito a ver com o meu feitio porque sou desconcentrada e desorganizada. Mas fiz. Aconselharam-me e eu estava tão baralhada que aceitei o conselho.
Com a lista verifiquei que os contras são em maior número. Para além do número ser maior nos contras, verifiquei que os prós eram trazidos lá do fundo de um buraco que, de tão negro, não chegavam até mim de livre vontade eu é que os fui buscar lá abaixo e os convenci. Num alto contraste, os contras apareceram rapidamente sem sequer esperarem convite, como se fossem os 'penetras' de uma festa bonita e alegre. Foi por isso também que a resposta foi 'não'.
Mandei um mail à responsável pelo meu caso com a resposta e a lista que fiz. Depois fui falar com ela pessoalmente e fiquei de tentar o processo R.V.C.C.
Vou andar às voltinhas procurando um modo interessante de construir o meu portefólio. Será que existe algum modo interessante de construir o meu portefólio? Não gosto de procurar algo quando duvido que esse algo exista. Não deixa de ser outro buraco fundo e negro em que eu tenho que ir lá abaixo buscar e arrastar coisas ou então ficar lá em baixo a tentar convencer essas mesmas coisas a subirem comigo para a festa.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Do dia 11 de Julho de 1968 ao dia 11 de Julho de 2008 há uma distância de 40 anos. Hoje, é essa a minha idade...


Ainda o meu dia vai para aí a meio e...:



  • - Parabéns!... Velhinha!... hehehehehe!... (disse a rica filha assim que acordou)

  • - Hoje o galão tem que ser fraquinho porque tu és pequenina e podes não aguentar... (disse o marido, divertido)

  • - Parabéns. (disse o rico filho mas teve que ser lembrado)

  • - Olha filha!... Agora já és quarentona!... (esta só podia vir da minha mãe...)

  • - Aos quarenta já se sabe muita coisa... (e esta só poderia sair da boca do meu pai)

  • - Então, já mudaste a fraldinha? (disse a amiga que não se esqueceu)

  • - Quero dar-lhe as boas-vindas à casa que eu já deixei. (disse o amigo que está no "enta" a seguir ao meu e que também não se esqueceu)

Obrigada a todos eles. E a quem comentou o post anterior também. Aqui ficam as respostas.


Vera: A frase que referiste é batida mas muito verdadeira. Nunca fui tão "velha" como agora nem tão "jovem" ao mesmo tempo. Foi por isso que me saiu aquela frase estranha...:)


Nandokas: Obrigada! És muito simpático, mesmo! :)


Redonda: Obrigada pelas palavras. Realmente o que importa é que os dias, muitos ou poucos, sejam bons. :)


Thunderlady: Obrigada! Queres que te conte um segredo? Aí vai: nunca me portei tão mal como agora...


Space Flyer: Acerca dos quarenta: até nem ligo muito. Outros "entas" virão e eu quero ver se tenho sabedoria para os saber aproveitar todos.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

Tempo

Amanhã farei quarenta anos. Há pouco, alguém ficou a saber que eu amanhã faria anos. Depois esse alguém perguntou:
- Quantos faz?
- Quarenta - respondi.
Soou-me estranho. Eu sou eu e continuarei a ser eu. Hoje e amanhã. Hoje com trinta e nove e amanhã com quarenta. Hoje na casa dos trinta e amanhã na casa dos quarenta. A cara é igual, eu sou igual. Mas o sentimento tem uma mistura de nostalgia e prazer, perda e ganho.
Talvez sinta assim porque agora há uma maior consciência de que quanto mais tempo passa menos tempo tenho. Tenho mais tempo e menos tempo ao mesmo tempo.
Vês?... É por isto que me sinto estranha!... Olha só a frase que me veio à cabeça - "mais tempo e menos tempo ao mesmo tempo".
A culpa é do tempo. Se eu não tivesse tanto tempo para pensar...

Desafio top 3

A Thunderlady desafiou-me a escolher e publicar o meu top 3- os três melhores textos que já publiquei no meu blog.
Não quis escolhê-los pelo mérito ou pela qualidade porque nem sequer me atreveria a usar como escolha tais critérios. Então decidi fazer a escolha pelo prazer que tive em escrever alguns dos textos que vagueiam por este espaço virtual. Mais haveriam... mas como quanto mais procurava mais me confundia e mais indecisa ficava, fiquei-me assim... como irás ler de seguida, espero eu.



Tenho o PC, as mãos, os olhos e o tempo à minha disposição mas não sei que hei-de escrever, faltam as palavras. E as palavras são o que não pode faltar para escrever... Se calhar tenho a cabeça "varrida" porque acordei há pouco mais de uma hora... não chega ideia nenhuma porque não tenho todos os sentidos despertos.

(pausa para café e procura de algo que já anteriormente tenha escrito no caderno dos desabafos)

Encontrei isto:

" Lisboa, 10 de Outubro de 2007

Ora aqui estou eu no Ginásio à espera do Luís.
Tenho que escrever no blog algumas coisas referentes ao
post publicado ontem. Tenho que lá escrever que há coisas na minha profissão de que eu até gosto mas que, de uma maneira geral, não gosto da minha profissão. Também tenho que escrever lá que sei perfeitamente que todas as profissões têm tarefas que não dão prazer. Eu escrevi e publiquei aquele post para tornar mais leve a minha vida profissional, tentei dar uma ideia de como pode ser divertida e se calhar não foi essa a ideia que transmiti...
O "tal" professor anda aqui a arrumar as máquinas e pondo os pesos no sítio uma vez que o Ginásio está quase a fechar. Acho que reparou e se admirou de me ver a escrever. Por acaso este moçoilo tem montes de piada... ainda bem que não sabe que eu já escrevi acerca dele e que ainda por cima publiquei na Internet um
texto onde faço menção à sua pessoa.
Mais pessoas reparam que estou a escrever: o recepcionista, outros professores e alguns utentes do Ginásio. Quase todos eles fazem um esgar de surpresa ao verificar que escrevo. Será que sabem que estou a escrever ao acaso, que escrevo o que me passa pela cabeça num diário? Se calhar pensam que isto é um rascunho porque sou jornalista ou professora. Nesse caso seria muito pobrezinha, sem PC portátil e escrevendo à mão num caderno...
Possivelmente pensarão: 'ui... um diário... contém segredos, recantos escondidos... onde ela escreve intimidades vividas ilicitamente... ui... os seus mais íntimos desejos...'
E eu penso que alguns dos meus desejos são ocultos até para mim... ui... tenho que os explorar melhor... ui..."


Originalmente publicado aqui em 14 de Outubro de 2007.


"Só para não ficares triste..."


Lá fora a noite estava invulgarmente fria para o mês de Março. Mas, dentro de casa estava uma atmosfera agradável e desanuviada. Reinava aquela calma que só sinto em noites de Domingo, sou invadida por aquele sentimento que antecede uma semana de trabalho e parece-me ser absolutamente necessário aproveitar o que resta de tempo livre de obrigações. Era uma daquelas noites em que o tempo pára e nem sequer o relógio existe. O tempo e o relógio não ficam à espera que eu me lembre deles, mesmo eu esquecendo-me deles, eles não param, não...
Sentada na minha cama, vasculhava uma caixa onde guardo cadernos e folhas cheios de frases escritas que contam o que me passa pela cabeça. Algumas dessas frases são demasiado íntimas para publicar, mas nem todas. Por isso, andava em busca de algo que pudesse publicar no meu blog.
Também sentada e de costas para mim, estava a minha filha a teclar no P.C. A certa altura olha para mim e vê-me rodeada de papeis e cadernos. Sabendo muito bem o que é aquilo, diz com um ar maroto e carregadinho de curiosidade:
- Quando morreres vou ler isso tudo...
- Não me fará diferença nenhuma, não vou estar cá para ver - respondo de imediato sorrindo-lhe de volta. Tomei consciência das palavras que eu própria dissera porque de repente o olhar dela assumiu laivos de tristeza. Presumiu que vai haver um dia em que eu já não vou estar presente na vida dela.
- Mãe... não morras, está bem?
- Se eu pudesse não morreria nunca... - disse eu. De seguida pensei: " Só para não ficares triste..."

Originalmente publicado aqui em 2 de Abril de 2007.

G I N A


- Como se chama? - perguntou-me o senhor da transportadora para cumprir as regras habituais. A pergunta foi feita porque tem que ficar o registo de quem recebeu a encomenda. E eu respondi:
- Gina - passou imediatamente algo pelo meu pensamento. Passou tão rápido que nem sei descrever. O senhor sorriu, agradeceu e despediu-se.
Por coincidência, no dia seguinte havia outra encomenda da mesma transportadora. Curiosamente quem a veio entregar foi o mesmo senhor. Novamente ouvi a pergunta:
- Como se chama?
- Gina - disse eu sorrindo e olhando bem para ele, ao mesmo tempo que tentava adivinhar o seu pensamento, ou se calhar adivinhando-o mesmo.... Desta vez, o que me passou pelo pensamento eu sei descrever.
Possivelmente o homem sorriu maliciosamente porque se lembrou da revista "Gina" e eu correspondi ao sorriso com cumplicidade e algum sentimento de resignação porque naquele momento tive a certeza do que ele estava a pensar. Não fiz, nem costumo fazer, nenhum tipo de comentário quando assisto a cenas deste género. Apenas me preparo de armas e bagagens para o que quer que venha a ouvir...
Ao longo da minha vida tenho reparado que algumas vezes o meu nome dá nas vistas particularmente aos elementos do sexo masculino por causa da tal revista. Na adolescência era algo do género: "Chamas-te Gina? Como aquela revista das mulheres nuas?" Naquela altura, esta questão era feita com um misto de surpresa e entusiasmo pelo que o nome "Gina" os fazia lembrar. Confesso que comecei a ouvir estas perguntas antes mesmo de saber da existência da famosa revista, até que um dia a vi exposta num quiosque. Na capa só se via uma mulher da cintura para cima de mamas ao léu. Lembro-me de achar piada ao facto de existir uma revista com o meu nome, mesmo que fosse uma revista pornográfica. Não fazia mal nenhum... até era giro...
O meu nome é também frequentemente ligado à prostituição. Ou seja... (desculpa lá mas vai mesmo a seco) é nome de puta. E para além disso faz lembrar vagina e tal... e isso também não faz mal nenhum... quero lá saber! Até é giro... e sugestivo e tal...
Mas continuando, passaram alguns anos e a pergunta manteve-se mas muito mais esporadicamente. Hoje em dia ainda ouço: "Gina? Não é..." Normalmente não deixo acabar a frase e atiro logo um sério e pausado:"Sim... como a revista..."
Com a vida aprende-se (e eu aprendi muito bem, diga-se) a aceitar as situações que não se podem modificar. Aprendi a aceitar e esperar o impacto que o meu nome causa aos homens por causa da revista "Gina" e não só. Em vez de baixar o olhar pelo constrangimento que me causa ver a malícia nos olhares masculinos, ou ainda, algumas palavras libidinosas, dou a volta à situação e enfrento-os com o meu destemido e aguerrido olhar que quando eu quero, deixa transparecer algo assim:
- Q ' é q ' foi ó borrego?... Dói-te alguma coisinha?...
Enfim... o meu nome é G I N A!!!... OK???... Algum problema?... Não, pois não?... Bem me parecia...
Volta sempre.


Originalmente publicado aqui em 19 de Outubro de 2007
Parece que tenho que desafiar alguém... desafio quem por aqui passar e ler o suficiente deste post para ter chegado cá abaixo. Se alguém aceitar este desafio gostava de ser notificada. Obrigada!
(o agradecimento dirige-se sobretudo à paciência usada para ler)

terça-feira, 8 de julho de 2008

Burro velho não se assusta


Por causa do susto dei um salto. De seguida brinquei:
- Bem... já é a segunda vez que o senhor me assusta hoje!...
- É bom sinal... diz que os burros velhos não se assustam. Não têm força!... Assim, é sinal que é nova!...
"Prontus... 'tá bem!..." pensei eu.
Depois, como que para se redimir, não fosse eu ofender-me com aquelas palavras, pegou no saco que eu levava e deixara no chão enquanto abria a porta e levou-o por ali abaixo cambaleante. Cambaleava porque aquele era um esforço demasiado para a sua idade.
E eu fiquei a pensar que realmente ele já não tinha força para se assustar. Não sabia que se poderia ser velho demais para pregar um salto por causa de um susto. Mas agora já sei.

Mais um gajo das obras simpático na medida três quartos de polegada e com charme a medir polegada e meia... para aí...


- Andei eu ontem seca e meca à procura de petróleo e você aqui tão caladinha... - disse ele.
- Eu normalmente não falo muito - respondi.
- Eu também não.
- E quando falo, normalmente só digo asneiras ou coisas sem interesse nenhum - acrescentei.
- ...

Tomando como mote a frase "quem cala consente" só posso perceber que pela última "fala" ele concordou em pleno com o que eu dissera.

Que lentidão!

Falava-se de anti-vírus.
- Ah... deixa-te ficar com o AVG... até tem um nome feminino - disse ele.
Arqueei as sobrancelhas (creio). Espantei-me com o que ouvi e perguntei:
- É um nome feminino?...Porquê?... - Vi uma expressão de gozo e malícia, um brilho no olhar... e subentendi.
- Ah claro... A-V-G*!... Poça!... Eu levo um tempo do caraças para lá chegar!
Ele continuou com o sorriso malicioso e eu, já que também tenho um desses, exibi-o.


*A VaGina. Não é óbvio? Não, não é. Mas cheguei lá.

domingo, 6 de julho de 2008

Ser uma miúda normal

Ouvi um amigo tecer comentários muito elogiosos a uma rapariga de 15 anos, filha de alguém que ambos conhecemos, dizendo que era de uma grande inteligência, que lia o jornal e estava a par da conjuntura actual e, por isso, sabia debater muito bem as suas ideias e marcar uma posição, ou seja, era uma cabeça de mulher num corpo com apenas 15 anos.
Não quis discordar precisamente por os comentários serem tão prestigiantes - iria dar um ar de mazinha e se calhar até de invejosa, uma vez que tenho uma filha praticamente da mesma idade.
Naquele dia fiquei-me por ali mas agora vou avançar com a minha opinião acerca deste assunto:
Não acho piada nenhuma nem sequer acho normal que alguém de 15 anos tenha uma visão da vida como se tivesse 30. O que eu acho piada e normal numa miuda de 15 anos é que ela vá ao concerto dos Tokio Hotel (ou outros gajos quaisquer) e berrar que nem uma perdida, desmaiar se for preciso tal a intensidade das emoções, que vista roupas estranhíssimas e se lhe ficam mal ou bem não interessa para nada, em vez de se maquilhar... borrar-se, que tenha dúzias de T-shirt's e topezinhos e chateie a mãe para lhe comprar aquele que é tão giro e só custa 5 euros, que goste de ver gajos giros e bons, que ouça música sem qualidade (ou com) em altos berros e que viva na lua... quase sempre alheada daqui... deste mundo tão sério e tão triste, por vezes...

Conversas no Messenger (por sinal, interessantíssimas...)

A malta cá de casa é tão evoluída... até já temos PC portátil... e como estamos sempre muito distantes uns dos outros, separam-nos para aí uns quê?... dois metros e meio mais ou menos... e até somos todos mudos e coxos, conversamos através do Messenger...

Conversando com o rico filho durante aproximadamente três minutos:

(22:28) Gina: olá rico filho
(22:28) André: ola mae
(22:28) Gina: hehehehe
(22:28) Gina: este "heheheh" é mêmo à cota, né?
(22:28) André: n
(22:28) André: mas os acentos sim
(22:29) Gina:ohhhhh
(22:29) Gina: atão tem que se escrever sem acentos, é?
(22:29) André: ya
(22:31) Gina: oquei...
(22:31) André: isso e a liceu
(22:31) Gina: ai É???????????????
(22:31) André: ya


Conversando com a rica filha durante aproximadamente nove minutos:

(18:12) Lala: olha a minha mae xD
(18:12) Gina: nha nha nha nha!!!!
(18:12) Lala: LOL
(18:12) Gina: ia mesmo agora meter-me contigo!
(18:12) Lala: nao queres vir pa este pc?
(18:12) Gina: nop
(18:12) Lala: eq eu quero jogar sims...
(18:12) Gina: ok então....anda lá
(18:13) Lala: eq tipo, vou pra geraçao 3.
(18:13) Lala: LOL
(18:13) Lala: pera ai, vou-me vestir antesq eles cheguem e os tnha de cumprimentar de pijama.

(18:13) Gina: ok
(18:14) Lala: deves.
(18:15) Gina: devo xençar!?
(18:15) Lala: yaaa
(18:15) Gina: ok
(18:15) Lala: ha mil anos q nao dizia isso
(18:15) Gina: esta mioleira não pára...
(18:15) Lala: a tua ou a minha ?
(18:16) Gina: referia-me à minha mas a tua é igualinha
(18:16) Lala: ah pronto
(18:16) Lala: eu eq sou convencida
(18:16) Lala: acho q e td pa mim --.
(18:16) Lala: ps: este smile: --'. eq e o verdadeiro smile moderno. xD
(18:17) Gina: ah.... isso é sorrir?
(18:17) Gina: eu pensava que era assim como que pró triste

(18:17) Lala: naoo. -> -.-' e tipo embaraçado.
(18:17) Lala: mas eu uso isso pra td
(18:17) Gina: pois eu já visso no meu blog
(18:18) Lala: lol, ya.
(18:18) Lala: e um smile mm da moda
(18:18) Gina:eu já não uso aquele à cota
(18:18) Lala: fazes bem
(18:18) Lala: as pessoas nao gostam de narizes. LOL

(18:19) Gina:achei que era melhor até porque assim carrega-se em menos uma tecla
(18:19) Gina: logo... poupa-se tempo
(18:19) Lala: tempo e dinheiro xD
(18:19) Gina: então e sempre queres vir para aqui?
(18:19) Lala: quero, toume a vestir.
(18:19) Gina: ok
(18:21) Gina: vou desligar

Grafologia

Sempre soube que a caligrafia é algo muito pessoal e que não há duas pessoas que a tenham igual.
Há dias li um artigo numa revista que abordava o tema grafologia e o que a letra manuscrita poderá revelar acerca da personalidade de cada pessoa.
Decidi analisar a minha caligrafia (ver imagem em baixo) e resultou nisto:

· Margens -> Irregulares

Falta de atenção e desorganização mas também tolerância e grande versatilidade.

· Inclinação da palavra-> Inclinação ascendente

Entusiasmo e optimismo.

· Tamanho da caligrafia -> Caligrafia pequena

Criatividade e um profundo sentido de detalhe, com uma certa falta de segurança e ambição. Em geral estas pessoas adaptam-se facilmente a qualquer ambiente mas são muito modestas e reservadas.

· Forma da letra -> Letras amplas ou largas

Revelam uma natureza ostensiva, egoísmo, orgulho e um grande desejo de viajar.

· Direcção ou inclinação ->Escrita vertical

Independência, estabilidade e frieza de raciocínio. Embora possam ser emocionalmente intensas estas pessoas contêm facilmente os seus impulsos. Demonstram um bom poder de auto-controlo em situações de crise, podendo facilmente ser merecedoras de confiança. Em geral, são óptimos administradores e ocupam cargos de elevada responsabilidade.

· Aparência -> Escrita redonda

É, normalmente, produzida por pessoas simpáticas e afectuosas.

Bem... olhando abruptamente para isto não me parece que eu seja assim.Mas... olhando demoradamente e analisando sem romantismo e com pragmatismo, encontrei-me naquelas designações todas.
Em baixo a minha letra...

quinta-feira, 3 de julho de 2008

À partida parece-me mau. Depois de partir começa a parecer-me bom. E depois de embalada já não é mau nem bom. É assim-assim. Este é um sentimento que não gosto de ter. Desagrada-me esta apatia. Mas é de propósito que me desligo da girândola em que me movo. Procurei a apatia para não ver nem sentir. É uma fórmula para bem viver. Procurei e encontrei mas não gosto.
Espanta-me que no meio do que não gosto de sentir esteja a solução para não sentir nada.

Um chão de prata


É uma pena o chão da loja não ser de prata... hoje teria ficado a brilhar - deixei cair lá do alto do escadote um frasco de Pratex que veio por ali abaixo mandado e se partiu deixando liberto o líquido branco que se foi espalhando. E ficou à espera porque depois de espalhado dali não saiu. Tive que ser eu a mandá-lo embora passando e repassando a esfregona...
É por isso que eu digo - se o chão fosse de prata com tanto esfreganço teria ficado reluzente e luzidio...

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Ando um bocadinho esgotada da cachimónia.
E acabo de verificar que a palavra cachimónia também não existe. Se eu escrever que estou cansada da massa encefálica o corretor ortográfico desta bodega de blog não assume erro... olha!... afinal assume erro por estar no feminino. Devia escrever massa encefálico... este corrector é parcial, ou por outra, é machista e inventa erros.
E eu, se calhar, ando esgotada porque invento palavras...
Ah... "balconista" é uma palavra existente apenas no Brasil... ok... mesmo assim, depois de gastar tempo escrevendo um texto e já que só lê quem quer, ele aí vai:



Balconista...

... é uma palavra que designa profissionalmente alguém que está por trás de um balcão atendendo o público e o que se espera é que venda qualquer coisinha quanto mais não seja o mínimo para que se consiga subsistir neste mundo mas também é verdade que não existe outro mundo e é por isso que o melhor é fazer-se o que se pode neste.
Ufa! Até 'tou cansada!... E esquecida do assunto... Ah!... era acerca da palavra balconista. Pois é verdade que o nome que arranjaram a estes profissionais dá para os dois sexos - são só dois, não é? - para que as balconistas e os balconistas não se zanguem. Não se quer tal classe trabalhadora aborrecida seja com aquilo que for porque depois ainda se enganavam nas contas e a clientela ficaria a perder com os erros e os enganos de semelhantes espécimes. Sim, porque não haver enganos, principalmente da parte de quem atura um público chato, mesquinho, destituído de educação e de inteligência, é muito importante!... A clientela não tem nada que andar a encher o cu a gulosos!... Isso é que era bom!... Enganam-se propositadamente, levam o couro, o cabelo, as unhas e as pestanas!... Que avarentos são!... Ladrões!...
Já não me lembro o que é que estava a escrever outra vez... Ah!... Devaneava acerca da palavra balconista.
Ora bem, descobri recentemente que ela - a palavra - embasbaca as pessoas, parece que se fica com um ar estúpido quando alguém pronuncia este vocábulo ali pertinho de quem ouve. E porquê? Eu cá por mim levei horas para lá chegar. Possivelmente esta balconista - eu - será mais parva ainda do que as restantes criaturas existentes neste planeta e que já ouviram alguém dizer "aquilo". Mas cheguei lá, cheguei sim!... É que a palavra balconista deriva da palavra cona!... Evidentemente!!!! Bal-conista... Pois 'tá claro!!! Mas como é que eu não decifrei logo este enigma?!...
Mas ainda assim, não se deixa de ser bal-conista de uma hora para a outra. Eh pá!... É-se bal-conista, pronto!... E entretando uma dúvida me apareceu: poder-se-ia, por ventura, arranjar outra palavra para designar tal profissão? É que, convenhamos... depois de tanto esforço para decifrar qual seria o grave problema de inteligência que surge a quem ouve pronunciar tal palavra... considero imperioso, ao menos, imaginar qualquer coisa diferente da palavra balconista para designar a minha profissão. Ora bem, poderia ser:

balcôia... balcorêsa... balcosa... bálcona...balcónica... balcante... balcóneca... balconesa... balcorante... balcona...

Tratei apenas da parte feminina da questão. Para a parte masculina alguém que por aqui apareça e se "pique"...

Confusõezinhas (esta palavra existe apenas no meu vocabulário, presumo)

Há palavras que me fazem confusãozinha, como por exemplo: ordinário. E a confusãozinha é esta: pois se "ordinário" deriva da palavra "ordem" porque será que uma pessoa ordinária não tem ordem nenhuma?

Mas há mais: despedaçar ou espedaçar. Ora, estas palavras significam tornar em pedaços. Nesse caso, não deveria ser "pedaçar" e não "despedaçar" e "espedaçar"?

terça-feira, 1 de julho de 2008

Eh pá!... Porque é que nunca se pode falar?... (ai que raiva!)

"Atão e como é que 'tá o negócio?..."
Pergunta o bicharoco que, efectivamente, nada tem a ver com isso.
"Vai-se vendendo."
A balconista* não quis dar um ar de "coitadinha que não vende e por isso não tem que vestir nem sequer que comer, pobrezinha e coitadinha dela que é tão infeliz e desgraçada e ainda por cima ninguém gosta dela nem nada..."
"Ai 'tá uma merda!..."
Foi o que a balconista** teve vontade de gritar.
É certo e sabido que a balconista***, por estar como que balconista**** naquele momento, não pôde opinar nem dizer a palavra merda...


*esta palavra é muito gira
**esta palavra qualquer dia dará tema para um post
***apenas espero o dia em que estarei para aí virada
**** é mesmo verdade... esta palavra lembra algo
gosto de ser mulher
mas
é complicado estar numa oficina de automóveis
e
manter um ar descontraído
e
esperar pacientemente pelo chefe da tasca
e
decorar o nome e o sítio da avaria*
para
posteriormente comunicar ao meu cônjuge
mas
não é nada mau
que
consiga manobrar o meu popozinho
num
espaço tão apertado
com
aquela cambada de manuéis toda
a
olhar para mim...


*válvula do pedal do travão avariada
Sinto uma espécie de ultimato. O último aviso. O tempo esgota-se e eu tenho que decidir. Na verdade já decidi mas custa-me tornar visível a minha decisão porque tenho medo de me arrepender. Depois de emitida a decisão não vou poder voltar atrás.
E se afinal aquilo até fosse giro? E se eu até viesse a gostar daquilo? E se até desse jeito para qualquer coisa? Nunca saberei.
Não quero - ou não queria? - nenhum "se" na minha vida mas sinto-me sem outra opção. O que me resta é continuar por aqui e por ali como tenho feito sempre. Umas vezes errante e perdida, outras com certezas que não interessam a ninguém e ainda outras concentrada em evoluir apesar de tal esforço se revelar - sempre, sempre, sempre - debalde. Outras vezes tudo misturado. Hoje é assim.