sábado, 26 de julho de 2008

Sem riso e muito siso

Os olhos eram verdes e enormes. Rolavam nas órbitas à medida que falava e a boca contraía-se entre as frases que emitia. Postura estritamente profissional, pensei eu. Nada de simpatia ou empatia para com os utentes.
Olhei-a mais atentamente. Era suposto ser bonita mas não era... tal era o esforço para não sorrir e concentrar-se em não deixar transparecer fraqueza alguma, não fossem os utentes, todos eles velhos e doentes excederem-se no uso da confiança, se demonstrada.
Apesar de achar esta postura demasiado tensa e reprimida para quem lida com público, consigo compreender quem a tem. É um pulinho de tempo o que vai de um sorriso ao excesso de confiança. Sei muito bem, até demasiado bem, do que falo.
Minutos depois, estava já eu muito próxima de ser atendida e por isso estava numa sala diferente. Ela passou com uma garrafinha de iogurte líquido na mão - ia lanchar. Sorriu para mim.
"Ah...! Afinal tu sorris...! E ficas bonita. Bem me parecia que havias de ser bonita..."
Fiquei toda contente - menos uma caramela sisuda.

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