segunda-feira, 30 de abril de 2012

Números

O número de vezes que não sei o que dizer ou fazer contrasta enormemente com o número de vezes em que sei o que hei-de escrever. Conquanto assim continue, viverei mais ou menos feliz.

Recantos

Cada vez que vou ao escritório do senhor doutor engano-me no número da porta. A rua onde fica o escritório é do estilo mais do mesmo, digamos que tem muitas esplanadas, muitas lojas de fruta e muitos recantos, similares em estrutura e cores. Sei perfeitamente qual é o número da porta mas as passadas abstraem-me, a envolvência material é tão semelhante que passo ao lado da porta sem parar, até me dar conta do erro, normalmente no quarteirão seguinte. Volto para trás, pois claro.
Curiosamente, não há muitas coisas a dizer sobre este escritório, a senhora secretária não é nenhuma bomba sexual nem nada, sequer roça a sensualidade. Era giro que fosse assim, já que eu não sei inventar histórias... Mas a vida de escrevente tem-me mostrado que não devo desprezar ninguém, mesmo a pessoa sendo apagadinha, simples, vulgar, às vezes há pequeninos pontos a realçar. Eu sou boa nessas coisas de realçar o que não tem importância. E depois obtenho o reverso da medalha, dou importância a tudo e tudo engrandeço, o bom e o mau.

Ela e eu

Ela parecia eu. Queria saber as horas. Olhe, boa tarde, a senhora pode dizer-me as horas, por favor, ah desculpe lá a maçada, não precisam ser mesmo certas, é só para eu me situar.
Parecia eu...
Eu parecia eu. Boa tarde, com certeza, são tantas horas e tantos minutos, não faz mal nenhum, ora essa.
Eu era eu, indubitavelmente.

Falei comigo própria, portanto. Eu não quero ter vozes dentro de mim que falem de diferentes maneiras, não quero personalidades opostas ou contradiórias, não quero amalucar tanto assim. Mas caramba, isto de falar comigo própria, pá... Que doidice.

«Aceitam-se encomendas de salgados
Telefone nove seis e tal e tal»

O aviso ao transeunte era o de haver a possibilidade de encomendar salgados no quiosque da praça, com número de telefone e tudo. Não foi isso o que li, li 'encomendas salgadas'. Pus-me a pensar que tenho a mania de alterar tudo, não obstante o apego que tenho à realidade. Às vezes acho que vou endoidecer, ideia que não me desagrada. De todo. Até a desejo. Creio que a loucura traz uma dormência apetecível. Que seja uma ideia ilusória, acredito. Mas é bom imaginar.

Solidão

Nascemos sozinhos, morremos sozinhos. E também vivemos sozinhos, só por dizer que de vez em quando há umas pessoas que nos fazem companhia. Umas sabem fazê-la melhor que outras, é tudo uma questão de sorte. Meramente. Ou então coincidência, estamos todos à mesma hora, no mesmo lugar.

O problema

Se não suporto estar em lugar nenhum, é óbvio que o problema é meu; sou eu; é comigo; está em mim.

Incertezas do presente


São mais que muitas as coisas que 'eu pensava que' e 'afinal não'.

Não é que me aborreça. Ou entristeça. Mas também.

As chaves perdidas

Veio saber se alguém tinha achado um molho de chaves e entregue aqui. Respondi que não. Depois, categórica, ditou:
'Olhe, então ficam já de sobreaviso, são umas chaves assim e assado, com um porta-chaves desta maneira e daquela, moro em tal sítio, se lhas entregarem guarde-as bem, avise-me, que essas chaves são muito importantes, são assim tipo... a minha vida!'
A piada está no sobreaviso, quanto a mim. Mas que piadão! Mais tarde fiquei a saber que praticamente todos os comerciantes desta rua ficaram de sobreaviso.

Aqui não se vê nada

É corriqueira aquela cena cinematográfica em que o rapaz esbarra num poste por estar a olhar para o outro lado da rua onde vai uma rapariga gira. Eu fiz tal e qual, só que diferente. Eu ia a olhar para o título dum livro que já não sei qual era e esbarrei na armação metálica onde se expõe os jornais diários. Não caiu nada ao chão. Eu não caí, ou sequer me aleijei. Ninguém se riu. Ninguém se preocupou. Nada. Foi só barulho, nada digno de registo num cinema perto de si.

«Não há nada mais contrário à naturalidade do que tentar aparentá-la.»

Encontrei no meu blogue a frase que consta no título deste post, publiquei-a há dois anos e alguns meses, e devo dizer que já não me lembrava de tal publicação.
Esta frase, da qual desconheço o autor, fez-me lembrar a dificuldade que tenho em fazer caras. Cara disto, cara daquilo, cara daqueloutro, ou, ainda, cara doutra maneira. Ao longo do dia, é incrível a quantidade de vezes que temos de armar uma cara e ostentá-la sem prazer ou vontade, as vezes que temos de ser hipócritas, viver sem sentir, dar azo às aparências.

Para rir

Para rir; é para rir. Felizmente não tenho grande dificuldade em rir, o que também se verifica no oposto. Sou emocional. Outra contradição, ainda noutro dia disse que afinal até não era nada disso e mais não sei o quê.
Vamos ao que importa: o riso.

Um cliente queria uma lâmpada para frigorífico. Encaminhei-lhe a difícil mas pertinente questão: de 15 ou 25 watts?
Diz que não sabia a diferença, para um pouco, e remata, pleno de saber e convicção: olhe, é para acender!
Larguei a rir, não me aguentei. Meu caro, todas as lâmpadas são para acender, ou o senhor não viria comprar uma para susbtituir a que tem fundida entre as mãos, desculpe lá estar-me a rir mas é que... blás.

Um outro cliente quer que reproduza uma chave. Rebusca num dos bolsos das calças. Retira um molho de chaves, não é este. Do outro bolso retira o maço de tabaco, o isqueiro. Dum outro bolso, mais abaixo, sai uma carteira. Está tudo em cima do balcão. Começa a ficar como que aborrecido. Começo a ficar com vontade de rir. Apalpa-se, de cima a baixo. Olha para mim, perdido. Tenho ainda mais vontade de rir mas contenho-me, não vá o homem não curtir a minha cena, há uns assim. Do quarto bolso sai finalmente o tão ansiado objeto. O suspiro dele é profundo. Não me aguento: rio-me, sem medo. Ele imita-me, mas prefiro pensar que o contagiei. Que alívio.

Um outro cliente, ainda, entra a medo, diz que vai perguntar e coiso, que não sabe se tenho, que vem perguntar porque... Porque... Porque... Porque sim!, ajudo eu. E toca de rir.

Pouquinho, pouquinho, pouquinho

É mais que certo eu ficar ligeiramente apreensiva se o cliente profere a simples introdução: 'eu queria um bocadinho de'. Um 'bocadinho de' pressupõe 'muito' de algo, indiscutivelmente. Quem quer um 'bocadinho de' ainda lembra o avulso, prática extinta e completamente abolida do comércio há décadas. É verdade que nem sempre dá 'muito' trabalho explicar e fazer ver os tempos atuais...

«Agradece-se que feche a porta sem estrondo»*

*Visto na porta dum prédio em Lisboa.

Ultimamente, quando quero escrever, a palavra estrondosamente aparece amiúde na minha cabeça. Coisas de quem escreve amiúde, presumo. Presumo que o ato de escrever me devolva as últimas palavras que usei, o que não ocorre estrondosamente, devo dizer. Escrever estrondosamente é diferente, presumo…
E agora como é que insiro novamente o amiúde no texto?!

(Gina Maria, para de escrever presumíveis estrondos amiúde, vá!)

sexta-feira, 27 de abril de 2012

Diálogo

O cliente pergunta:
«Fixou a minha cara, não fixou?»

O motivo da pergunta é irrelevante...

Eu respondo:
«Sim. Eu sou boa de caras.»

Talvez a minha resposta mereça menos relevo ainda, já que está lá tudo. Ainda assim, acrescento que já não sou tão boa de caras como dantes.

Barafustar

Diz que a gente tem de enfrentar as adversidades com bom humor e positivismo, mesmo nas pequenas questões. Há bocado marimbei para essa ideia modeladora de feitios: uma peça metálica não se movia como eu queria, os dedos tremiam, a raiva crescia. Então barafustei. Não vou escrever o que disse porque estou armada em púdica. Fica o barafustar, o leitor imagine-me atuando assim, estou certa que o sabe fazer.
Logo a seguir, grande surpresa, a peça soltou-se e foi para o seu lugar. Depois do barafuste intenso que proferi, incrivelmente!
Posto isto, não me venham dizer que a gente tem de andar felizes sem o ser e levar as coisas a bem e o caraças...

Folhas;
Roxo;
Verde;
Água

As folhas das árvores são verdes. Ou roxas. Hoje é que me dei conta disso, no Jardim Fernando Pessa (Lisboa) há árvores carregadas de folhas roxas, num amontoado disforme mas belo.

Lisboa, 27 de abril de 2012

A foto acima não tem nada a ver com o que escrevi acima dela, bem sei.


quinta-feira, 26 de abril de 2012

A invejosa

Invejo quem escreve cruamente e 'consegue' leitores que sabem 'ler' essa crueza.

Item

Item importante do 'bem' escrever: Não produzir frases de uma só palavra. Nunca.

Não faço caso nenhum deste item. Uma única palavra entalada entre dois pontos finais tem um potencial enorme, é uma labareda que se agiganta vivamente. Devastadora. Quente. Infernal. A atenção centra-se num poucochinho que toma grandes proporções. Mais ou menos como as pessoas: as mais poderosas, influentes e carismáticas estão completamente sozinhas.

Prescindir da escrita (?)

Pensava que tinha uma inteligência do tipo emocional mas entretanto já desmaginei o suposto, não tenho assim tanta paciência e saber para escutar as pessoas. O que se passa é o seguinte:

• Adoro escrever.
• Preciso de escrever, ou não aguentarei a minha vida.
• Escutar e observar as pessoas é imprescindível.

O rumo

É fundamental mudar o meu percurso. Já não há benefícios neste lugar, as recorrências são... Recorrentes.
Não estou louca porque não me permito tal coisa. E também porque a loucura iminente é das boas. De todas, é a melhor. Mas convém-me mudar de esquina, o que vai acontecer num amanhã desses aí.

À portuguesa

Contra a crise:

«No meio da infelicidade, sejamos felizes: podia ser pior!»

(Disse Maria de Fátima, uma mulher de sonho.)

10:32

Praça de Espanha, Lisboa.
Havia café forte e maminhas de queque crocante.
Um festim, só.
Só de solidão.

Poesia

Transmiti ao senhor doutor o modo como me tenho sentido. Usei um modo íntimo, tocante, poético. Ele desdenhou, para melhor disfarçar que não me percebera.
Ai este senhor doutor... Mais um que não entende a minha poesia.

Gestos

Se ninguém possuir os mesmos gestos doentios Otaviana percorrerá a distância entre o ponto de partida e a meta absolutamente invisível. Se alguém possuir os ditos gestos repetitivos... Otaviana obterá demorada atenção. Tudo mudará. Mudaria, quero eu dizer.

No mundo nunca se verificam grandes mudanças. Um senhor disse-me que esteve a sete horas de avião daqui e eu quis saber se o sol lá é diferente. Respondeu que não, o que lamento por demais. Eu pensava que a sete horas de avião daqui o sol brilharia, é certo, mas mais pálido, ou mais baixo, ou mais laranja, ou mais longe. Sei lá, qualquer coisa diferente. Afinal não, é igual.

Nomes

Diz que os escritores não contam os seus segredos, aquelas pequeninas coisas - truques e dicas - que usam para escrever.
Não sou escritora, portanto posso divulgar um dos meus segredos. Para arranjar nomes - conheço um sítio de nomes próprios mas não me valho dele muitas vezes – rebusco na memória, uso nomes de antepassados da família, dou uma olhadela na página da necrologia ou… Cusco os documentos dos clientes que me pedem para tirar fotocópias.
O senhor Adeodato é um caso de fotocópia. A viúva do 'verdadeiro' Adeodato veio aqui com a folhinha da pensão do marido e... Nasceu o senhor Adeodato, um quarentão amavelmente rude que aparece no blogue de vez em quando.

Cuscar

Elisabete Maria, a esotérica, diz que gosta de passar despercebida. Eu havia-lhe dito que sei se ela está atrasada, ou então não, para a pausa habitual em que toma o cafezinho, desculpando a minha veia coscuvilheira com carradas de simpatia, para a levar a abolir a ideia de que me assemelho à porteira do número onze. Ela brinca, diz que 'ora essa, toda a gente a mandar na minha vida, eu que gosto tanto de passar despercebida!'
Fiz-lhe saber, (só não sei se ela entendeu):
Não gosta nada, Elisabete Maria, isso é um engano redondo. Eu conheço a indiferença, não queira saber o que isso custa. Já viu se ninguém notasse a sua falta, ninguém reparasse que hoje está a tomar o café à hora do costume?

Dias de um ginásio

- Escritórios Depuradores, boa-tarde, fala Lia Pureza, em que posso ser útil?
- Boa-tarde, o meu nome é Gina e tenho uma barriga, duas coxas e duas badanas de braços para devolver, por favor. É possível?
- Desculpe, agora só para o ano, que as vagas estão preenchidas.
- Oh... Está bem. Até para o ano, então!

Melhor assim. Continuar no ginásio, com barriga, coxas e badanas. É preciso. Vamos lá.

Sol

O sol envelhece a pele. Mas como lhe resistir? Como ficar em casa, à sombra? Sem viver?
Sol: sinónimo de vida.


Sol

Um poema,
ao sol,
ao vento,
luz; calor; vida,
disfrute; esplendor.
Assim.

A fada do lar faz

A dona Adelina diz que tem pena que 'esta juventude de agora' (eu) não tenha a paciência que ela tem.
Apareceu aqui com um daqueles sacos publicitários que dão muito jeito para transportar pequenos objetos, pois com certeza. Notei logo o remendo que ela havia feito e quando questionei o motivo diz-me que o saco era do CDS e ela não quer nada com essa gente, de maneiras que fez assim, teve um trabalho do caraças mas tapou a sigla com um remendo. Cheia de paciência, diz ela.
Ripostei. Então a dona Adelina não sabe que eu faço as minhas roupinhas e os bolos saborosos que faço para a família estão organizados numa pastinha toda bonita? Não sabe como sou dedicada à família e uma verdadeira fada do lar?
Sabe. Mas diz que 'esta malta' (eu) não tem a paciência que ela tem...
Pois não dona Adelina, eu cá, caso não gostasse da sigla, deitava o saco fora, lá isso é verdade!

Ó Evaristo!

Olhe, tem isto assim-assim ou estou a sonhar?

(Hum, se estivéssemos a sonhar seria cá um pesadelo, pá!)

25 de abril, sempre!





Nada melhor do que começar com um cliché o programa intensivo de posts do dia corrente. Já que é '25 de abril, sempre!', então hoje também o é.

Retirei a imagem dum prospeto que me ofereceram no passado dia 24 à noitinha (olha o '25 de abril, sempre!', outra vez) numa festa que havia no Jardim São Pedro de Alcântara, em Lisboa.

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Finalmente

São 23:58, por hoje é isto. E, já agora, devo dizer que havia que tempos não tratava do blogue.
Se o leitor quiser vir amanhã à mesma hora, faça favor, só por dizer que não estarei cá para o receber.

Beijo

Juntaram os sofás negros. Puseram-se frente-a-frente. O primordial era um longo beijo na boca. Coisas de namorados. Ainda os há assim: carícias íntimas a descoberto...

À janela de sua casa

Estão as duas à janela, como sendo grandes amigas. Milena gosta da vista. É o Tejo, o rio que banha Lisboa. Dona Estefânia mostra-lhe a vista, explica que é assim, era assim, fala das fotos que tirou. Milena manifesta grande interesse nos pontos de luz, no sol que se põe, nos cimos dos prédios, nas nuvens. Dona Estefânia vai buscar o álbum de fotografias. Milena desfolha-o, vê as vistas e o gato dourado, os enquadramentos tortos, a beleza do sol incidindo no gato, a sua sombra refletida em cima da colcha da cama.
Conheceram-se cinco minutos antes da agradável conversa, por estranho que pareça.

Mafalda

É a Mafalda, no futuro. Já não usa aquelas meias com florinhas. É tão reservada e introspetiva como antes, neste futuro que me é tão presente.
Neste presente, que é o futuro da Mafalda, vejo-lhe o rosto, ainda, enigmático. Está aqui, ao pé de mim. Logo ao pé de mim, eu que confundo tudo...

Quadros

Há uma gorda em dois dos quadros expostos na parede. Tem um vestido azul, fresco, simplório.
A gorda contempla o mar.
A gorda olha da janela.
Na primeira posição há um espírito livre à solta, basta olhar em profundidade para vislumbrar o mar e seu poder. A mulher está sentada na areia, uma mão apoiada, contemplativa, de costas para o transeunte.
Na segunda posição há um prisão, a mulher está em pé junto a uma janela, aberta, é certo, mas que não a deixa fugir, olha para o exterior sabe-se lá com que ímpetos de se jogar dali para baixo. Não gosto da postura dela, não...

No lugar da musa

Hoje é o Dia Mundial do Livro, como já se percebeu no post anterior. No lugar da musa vai haver uma sessão de esclarecimento acerca de como publicar um livro, com base num site: 'Sítio do Livro'. É das 17 às 19 horas que alguém esclarecerá os presumíveis autores. Mas qual é a alminha trabalhadeira que pode estar liberada das lides a essa hora?! Ora!
Queria ir à sessão.
Quero publicar um livro.
Espero que a diferença entre as duas frases esteja minimamente perceptível.

Dia Mundial do Livro

Neste dia especial quero anunciar o livro que estou a ler: 'Cinderela de Saia Justa', Chris Linnares. Não escolhi comprar este livro, foi-me aconselhado, por assim dizer.
No verão passado, saindo da estação de metro do Cais do Sodré (Lisboa), visitei um espaço com bancas de livros. Rondei, rondei, peguei no livro em questão e a senhora que estava na caixa, lá ao fundo, disse para eu o levar, que era muito bom. E agora é que o estou a ler. Devo dizer que saltei estrondosamente em estilo, se comparar ao livro que li anteriormente (Se numa noite de inverno um viajante, Italo Calvino). Este é um livro de autoajuda, estilo de que não gosto, mas não sabia que o livro era assim, até nem fui eu que o escolhi, como já referi, simplesmente segui um conselho. No entanto, quero registar que o livro conta uma história e que a autoajuda lá inserida nem se nota. Estou a gostar. Um livro é sempre um livro, haja o que houver.

Tenho uma amiga...

Tenho uma amiga feia. Tem um corpo estrondosamente bem proporcionado. Mas é feia. As pernas são longas, os seios redondos, as curvas equilibradas, as linhas perfeitas. Mas feia, uma cara horrível. De bruxa, ou assim. Bruxa má, claro.
Tenho amigos que dizem, brincando entre si: 'Então, quando a gente a foder pomos-lhe uma almofada em cima da tromba!'
Eles não gostam nada de gajas feias. Tenho um amigo que diz: 'Eh pá, um gajo estar a conversar com uma gaja e a cara não agrada... É fodido!'

(Mas esta é tão boa...)

Adoção

Apareceu aqui com um tubinho minúsculo que tinha de enroscar não sei onde, pois quando não lá se iam os planos de poupar a água, esse precioso líquido, e agora o que é que eu faço e mais não sei o quê, oh por deus diga-me lá, não tem nada assim-assim e tal?

A paneleiragem adote criancinhas desprotegidas, vá. Dê-lhes cama e comida, amor e carinho.
Passei a concordar com esta questão tão polémica e controversa desde que reparei que os casalinhos apaneleirados, aqueles que formam casalinhos normais dentro do possível, tendem a ficar mesquinhos com coisinhas de nada. É bom que se habituem a lidar com os problemas do quotidiano enquanto tentam acalmar o verdadeiro furacão que uma criancinha de três anos consegue ser, fazem sopinhas com muito amor e dedicação para o bebé rechonchudo que a há-de cuspir, salpicando paredes e móveis.
Deixamos de ser mesquinhos e miudinhos quando temos de lidar com estas porcarias, 'migos. Garantidamente. Vá, sejam papás e mamãs, ou papás, ou mamãs, eu deixo.

Imagens & Cliques

Não tenho tirado fotos.
Não sei que é isto.
Não tenho de saber o que é.
As últimas imagens e cliques foram forçados (post anterior), que até nem me apetecia captar nem nada mas a ocasião era tão especial...

Sábado, 21 de abril de 2012

9:32
Beber um café. Comer um queque quentinho.

10:00
Workshop de Maquilhagem.

No Príncipe Real, Lisboa. Abaixo, fotos do Jardim São Pedro de Alcântara. Depois das fotos, em tamanho XL porque me apeteceu, itens escutados, assimilados e retidos no blogue, a ver se não esqueço, que eu, lá de quando em quando, escrevo para poder relembrar.







Tratamento do rosto

Não existem tipos de pele, não há padrões. Todas as peles sofrem escamações, vermelhidões, repuxões. Logo, todas as peles são secas e oleosas. No entanto... Pele tendencialmente oleosa, a minha! Não me desagrada nada, Tenho muitas borbulhas mas envelheço mais tarde. Ah, pois é!
É fundamental o creme de rosto conter vitaminas A, C, E, bem como começar a usar um creme específico para os olhos.
Conselho sábio, de bons produtos: esfoliante do Celeiro, tónico sem álcool da Sephora.

Maquilhagem

Não é que vá passar a maquilhar-me daqui para a frente, não tenho esse hábito nem quero tê-lo, para mim a maquilhagem funciona apenas em dias de festa ou especiais e muito na onda do rímel e lip gloss, daí não cosutma passar. Mas ouvi e acatei o que consegui, que isto de ficar (ainda mais) bela tem muito que se lhe diga. Não me lembro lá muito bem de todo o processo da maquilhagem propriamente dita, que a memória não me chegou. Ou seja, acerca do colorir do rosto, apenas retive dois itens que aqui depositarei porque os considero úteis: a base a usar deverá raiar o amarelo e nunca o rosa, as minhas olheiras têm base roxa... Fugir desse tom!

Resta-me agora dizer que adorei a experiência, que nunca me veria metida numa coisa destas mas fui, que sou uma cusca que só visto, que quanto mais velha mais desempoeirada, que isto e aquilo e blás.

Entidade organizadora do evento: 'Palavras Maquilhadas'

O fim-de-semana foi muito doce

Experimentei mais um bolo e um doce: Bolo de Amêndoa e Doce de leite.

Bolo de Amêndoa

250 gramas de farinha
1 colher de sopa de cacau em pó
1 pitada de sal fino
1 colher de café de fermento em pó
1 colher de café de bicarbonato de sódio
125 gramas de manteiga amolecida
350 gramas de açúcar
2 ovos
200 mililítros de leite
200 gramas de amêndoa moída.

Peneire todos os ingredientes em pó: farinha, cacau, sal, fermento e bicarbonato.
Bata a manteiga com o açúcar.
Junte os ovos, um a um.
Acrescente a mistura peneirada alternando com o leite.
Finalmente envolva a amêndoa.
Leve a cozer a meio do forno (160º) numa forma untada durante cerca de uma hora. Ainda dentro do forno, tape a forma com papel de alumínio após os primeiros 40 minutos.

Doce de leite

1 litro de leite gordo
500 gramas de açúcar
1 vagem de baunilha
1 colher de café de bicarbonato de sódio

Leve o leite, o açúcar e a baunilha ao lume. Quando levantar fervura adicione o bicarbonato ( tenha o cuidado de fazer isto num tacho grande, porque a reacção faz aumentar o volume). Leve novamente ao lume, muito brando, até fazer ponto. ( Ao fim de cerca de 1h e 30 minutos )


Nota: Receita do bolo encontrada num pacote de farinha Branca de Neve. Receita do doce encontrada no blogue 'Come chocolates, pequena', mais concretamente neste post.

quarta-feira, 18 de abril de 2012

Conversa controversa

Entrei num bar temático, cheio de enfeites marinhos, mas com poucas mesas vazias, tanto que me sentei ao balcão. Não cheirava a maresia mas idealizei que sim, sugestionada pelo derredor. Olhei demoradamente para a vastidão de garrafas expostas e deixou de me cheirar a mar para me cheirar a álcool, que sou muito dada a sugestões odoríferas. Fiquei indecisa, assim para o muito. Que ia beber?! Estava sozinha, sem apoio, e desabituada do ambiente. Hum...
Do outro lado do balcão um senhor fardado fez o gesto de quem me queria atender. Sou destemida quando sou forçada a viver experiências invulgares, sem me alongar pedi-lhe que escolhesse algo para mim, que não gosto de bebidas fortes mas têm de saber a álcool. O homem disse qualquer coisa bruscamente, não soube lidar com a súbita frontalidade que mostro em algumas ocasiões e que contrasta enormemente com a aparente timidez. Fiquei atrapalhada, fiquei sim, sou mulher para me atrapalhar com poucochinho, deveras sensível às reações das pessoas. Mas a par disso possuo um certo arrojo, quase sempre escondido, que eu não gosto de o mostrar a toda a gente, é como que uma vontade que cresce em maneiras de me sentir completamente à-vontade. Continuei a luta, pois também sou casmurra de quando em quando.
– Arranje-me uma marguerita, por favor. Com muito sal no bordo do copo para eu passar a língua prazerosamente, sorver o líquido turvo com uma vontade contida, os dentes fazendo as vezes duma rede que não deixará entrar o gelo dentro da boca, quero que derreta dentro do copo, esperar a marguerita como que transbordar antes de cada golinho que me há-de saber a limão muito ácido e a Tequila. Principalmente a Tequila, a ver se rodopio aqui sentada, enquanto absorvo o resto do lugar, que eu cá adoro essas cenas de olhar e tal, para as pessoas, para os objetos, pensar e cismar e disfrutar de tudo quanto é visível e invisível, plausível e impossível. Quero relaxar, o dia foi ruim, a minha vida está estranha, eu sou uma pessoa muito especial. Quero uma marguerita, é isso mesmo. Obrigadinha.

A criancinha

A rica filha vem lá de dentro e numa voz exageradamente infantil, fingindo ser uma criancinha mimada e insuportável faz queixinhas do mano:
– Ó mãe, o mano não me dá abraços!
O rico filho riposta no tom habitual de jovem macho:
– Ó mãe, a mana voltou a ter dez anos!

Faz rir

A rica filha observava um artista qualquer no computador e comentou que não o admira ou sequer lhe dá apreço mas nas fotos parece tão simpático e engraçado que lhe cresce uma raiva imensa por não conseguir não gostar realmente dele. Fiz-lhe saber a velha máxima:
'«Não se consegue ficar zangado com quem nos faz rir.» Sabias?'
Ela fica a olhar para mim durante cinco segundos. Depois diz:
'Ó mãe, isso é daquelas coisas que só tu pensas...'

Gosto;
Não gosto

As pessoas não dizem que gostam disto ou daquilo, duma coisa ou doutra. Aliás, as pessoas não respondem a perguntas diretas e simples, daquelas em que somente é preciso dizer sim ou não.

Desejo realizado

Quero ser uma pessoa normal. Dispensar ampolas de magnésio para gostar de viver e cápsulas de alho para ter vigor.
Diz que a gente domina a cabeça, basta querer...
De notar: eu escrevi 'desejo realizado' e 'quero'.

Polares

Bipolaridade ou pancada meramente natural?
Ou, ainda: aleijamento córneo?
Se eu fosse rica tinha a doença bipolar.
Assim: pobre, é mesmo pancada nos cornos.
E daí não passa.
A não ser que enriqueça...

Rosto

Tem os dentes da frente um por cima do outro, encavalitados. Olhos redondos, pequenos, vivos. O rosto miudinho, sem marcas de tristeza ou peso da idade. É pequenina e rebitesa. Fala com uma ligeira pronúncia alentejana. A empregada do doutor Osvaldo dá ares à minha tia Nita...
Às vezes duvido da individualidade das pessoas, confundo-as frequentemente.

Uma aventura

Um dia desses eu e o meu colega tratávamos de negócios atrás do balcão dele.
Note bem: o meu colega tem um balcão, eu tenho outro e a gente dá-se bem, ainda que com picardias aqui e ali.
Na rua passou aquele moço, colega da dona Carminda lá no banco, que é assim a atirar para o esquisito. O moço cumprimentou-nos, a gente cumprimentou-o. Assim que lhe vimos as costas eu digo:
– Paspalhão!
E o meu colega, ao mesmo tempo que eu:
– Borrego!
É que este senhor|paspalhão|borrego tem um carisma estranho, uma aura lunática ou lá que é, e diz umas piadas que não lembram a ninguém, assim mais ou menos como eu, vá. Só que eu não trabalho num banco, não ando pimpona nem armada aos cucos, não sou borrega nem paspalhona.
Não, ele não ouviu nada do que dissemos, é paspalhão e borrego.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Enxofrada

Mais um dia em que encontrei a dona Carminda toda enxofrada com uma questão inerente à sua profissão mas externa em simultâneo, daí o enxofre.
Desta feita não poderei desenvolver o assunto, com grande pesar meu. Para se entender este episódio eu teria de identificar o local onde está a dona Carminda e mais outro local sobejamente conhecido na grande Lisboa. Teria de contornar factos que retirariam grossuras ao texto, transformando-o num aglomerado de frases simplórias. Escrever insipidamente, com essa consciência, quero eu dizer, não é para mim.
O anonimato pode ser lixado... Eu dizer por onde ando é um facto irrelevante, estou certa que ninguém procurará uma velha drogaria lisboeta, com uma mulher ao balcão que escreve nos intervalos do trabalho acerca de banalidades, apenas porque lhe apetece fazê-lo e pode fazê-lo. É um conjunto de situações inimagináveis, o leitor comum jamais conseguirá concebê-las e por isso não terá interesse em conhecer-me. Já dizer por onde anda a dona Carminda... É melhor não o fazer, estou certa que toda a gente adoraria conhecê-la, porque eu sei torná-la interessante. Ou tenho essa ilusão…

Tirar uma casquinha

Queria escrever da casquinha d' ovo que vinha a voar e embateu... Não, é forte demais, uma casquinha d' ovo não embate, quando muito pousa.
Queria escrever da casquinha d' ovo que pousou no lábio da mulher que esperava o sinal da avenida pôr-se verde.
Queria escrever da casquinha d' ovo, rebelde... Rebelde, não, que a casquinha é bem-mandada, move-se ao sabor do vento. Rebolante, ondulante. Rebolante e ondulante, sim.
Não quero escrever do vento nem da extensão da avenida, que é longa. Não quero escrever da torre lá no cimo, que o vento contorna e faz remoinho até achar uma brecha... Achar uma brecha, não, encontrar-se com a ventania que já vem da rotunda a dois quilómetros do sinal, onde estamos, a mulher e eu. E vêm velozes, o vento e a ventania, avenida abaixo, transportando toda a classe de porcarias.
Não quero escrever e escrevo. Não quero escrever e escrevi.

A senhora fez um gesto brusco e levou o dedo indicador à boca retirando uma partícula branca e colante. Com grande horror verificou que era um pedacinho de casca de ovo. Riu. Entre o asco e o espanto. Parecia um riso de opereta. Teatral. Uma cena cómico-dramática.

A minha historinha

Quero dar notícias da minha historinha. Fiquei sabendo que o texto vai ser revisto, o que não me agradou por aí além, receio que retirem essência, que lhe suguem a minha essência.
Ainda não recebi o texto revisto mas tenho para mim que avançarei independentemente de gostar ou não, quanto mais não seja para conhecer como se processam os trâmites duma publicação coletiva.

Fuçasbuque

Agora, uma vez por semana, mais coisa menos coisa, seleciono um post do blogue e publico-o no Fuças. A ideia principal é que as pessoas reais na minha vida (familiares e conhecidos, se bem que hajam outro tipo de pessoas nos meus 'amigos', os desconhecidos, os que estão fora da minha realidade) se habituem ao facto de eu escrever umas coisas e saibam que gosto muito de o fazer. Em suma: quero anunciar subtilmente a todos que essa atividade faz parte da minha vida.
Até agora publiquei dois posts. O mundo fuçasbuquiano é muito mais conhecido, rotativo, frequentado, por isso tive alguns cliques no 'gosto' pouco tempo após a publicação. A verdade é que o Fuças é do caraças, clica-se ali e está tudo dito, a gente nem precisa ter grande trabalho para mostrar que leu.
Continuo sem gostar do Fuças, é um suplício, descobrir onde se publica foi um horror, inclusivamente. Depois, se juntar texto e imagem, a mesma fica reduzidíssima, e ademais, o texto não aparece todo, temos de clicar no ler mais, se efetivamente queremos ler todo o texto.
Mas é assim, rendo-me às evidências. É evidente que mais gente lerá o que escrevo.

O gesto suave

O meu cabeleireiro particular...
(Todas as mulheres deviam ter um, porque uma posse destas é algo tão bom que transcende. E eu já escrevi isto algures mas marimbo.)
O meu cabeleireiro particular dirigiu-se à minha pessoa e disse algo que não percebi. Levantei-me muito depressa, achei que o dito, fosse o que fosse, teria como finalidade sair da cadeira onde estava sentada.
– Eu não percebi nada do que disse mas acho que deve ser qualquer coisa que me mande levantar daqui!
Era para suavizar.
– Ah, suavizar...
Era para suavizar a cor. É justo. Sábia decisão, 'migo. Uma pessoa que tenha a cabeleira empastada numa solução que há-de provocar uma reação, neste caso a de colorir os cabelos, mais não deseja do que suavizar a cabeça, que aquilo é chato que se farta.

Terminus

Terminei de ler o livro 'Se numa noite de inverno um viajante' de Italo Calvino. A meio da leitura deixei um post onde referia um certo aborrecimento com a leitura. Entretanto esse aborrecimento desvaneceu-se, felizmente. Comecei a ficar empolgada com a(s) história(s), entusiasmada com o enredo que se formou, desejosa de conhecer o final. Terminei de ler o livro. Adorei lê-lo.

«(Começar. Foste tu que o disseste, Leitora. Mas, como fixar o momento exato em que começa uma história? Tudo começou sempre antes, a primeira linha da primeira página de todos os romances remete para algo que já aconteceu fora do livro. Ou a verdadeira história é a que começa dez ou cem páginas mais à frente e tudo aquiloq ue vem antes é apenas o prólogo. As vidas dos indivíduos da espécie humana formam um entrecho contínuo, no qual cada tentativa de isolar um pedaço vivido que tenha um sentido separado do resto – por exemplo, o encontro de duas pessoas que se tornará decisivo para ambas – deve ter em conta que cada um dos dois leva consigo um tecido de factos, ambientes, outras pessoas, e que do encontro derivarão por seu turno outras histórias que se irão separar da sua história comum).

Página 143

Floreados da minha vida

Eu, grafómana me confesso: esqueci-me de escrever acerca da cigana e das florinhas que exibo com orgulho ou desdém.
Como é possível esquecer-me de escrever coisinhas?!

Se há etnia provocatória são os ciganos. Aquela da praceta anda sempre a testar os transeuntes. Um dia fui perentória e ríspida, estou cansada daquele assédio, aborrece-me. E ela como resposta começou no gozo. Diz que eu parecia um jardim, cheia de flores, no casaco, na mala.
Não vou dizer que fiquei satisfeita com os comentários, mentiria se dissesse. Fiquei ofendida. Que lhe interessa as flores que passeiam comigo, ora que porra! Mas gradualmente a ofensa foi tomando uma importância diferente. Afinal de contas, tem a sua piada as pessoas reparem em certos pormenores, fica-se importante ou assim. Ademais, não tomo eu a mesmíssima atitude neste blogue? Não ando sempre a ver e a olhar e a cuscar e a perguntar? E posteriormente a escrever e a publicar?!

sábado, 14 de abril de 2012

Parabéns!


O blogue está de parabéns, há meia dúzia d' anos que vagueio pela blogosfera. 

O texto que segue é relativo ao ambiente e personalidade em abril '06:

Gosta de ler, gosta de blogues, gosta de ler blogues. Gosta de escrever. Escreve muito e mete tudo numa gaveta. Não sente necessidade de fechar essa gaveta à chave. Deseja ardentemente criar um blogue e escrever. Tem vergonha de escrever num blogue. Não admite censuras. Lida mal com opiniões. Odeia confrontar. Sabe contornar. É crua, egoísta, solitária, curiosa, insegura... E simpática e amável e prestável e educada e leal. Gosta de ir à praia. Da espuma das ondas, idem. Da areia e o sal no corpo molhado, idem. Vai às compras sozinha. Adora andar a pé. Gosta de ver mapas por causa dos cruzamentos e entroncamentos e rios e pontes e serras e monumentos e locais. Gosta de andar em estradas secundárias. Gosta de dizer que andou em estradinhas sem importância. Gosta de andar sozinha. Não tem amigos. Conhece um batalhão de gente. Gosta de fazer roupa para si mesma e para as crianças.. As suas crianças são tão turbulentas quanto amorosas. Acha que é gira, engraçada, interessante. Gosta dos seus olhos, da boca, da cintura; não gosta das pestanas nem das olheiras. Gosta das mãos; não gosta dos pés. Queria ser gira. Queria ser engraçada. Queria ser interessante. Acha que tem uma personalidade espetacular. Crê ser diferente de toda a gente; crê firmemente ser uma boa pessoa; crê enormemente que não tem maldade. Desconhece o profundo do seu ser. Não gosta de conversar. Gosta de conversar. Não gosta de dar nas vistas. Adora dar nas vistas. Sabe dar nas vistas. Confunde-se com as vistas. Tem um profundo interesse pelo meio que a rodeia. Desconfia do próprio mérito. Sente-se desiludida amiúde. Pensa que a vida é fácil. Graceja que se farta.
Em abril de 2006 cria (finalmente!) um blogue que mantém nos próximos seis anos, pelo menos.





... Se tivesse juízo não tinha um blogue...



... A psicologia barata que uso para escrever sai-me cara...


Vivo perigosamente, se fosse sensata e equilibrada não escreveria. Mostro a alma, que desnuda, partes íntimas ficam à vista, despojadas e depois abandonadas. Passo o tempo a escrever, deixando afazeres importantes para trás. Uma descontrolada, é o que sou.
Escrever é perigoso. Mas afinal a vida é periclitante, errónea, mística. Logo eu viveria diferentemente?!

Nota importante: o texto acima foi desenvolvido a partir de dois posts criados e editados neste blogue no outono de 2008.

O projeto

Quando conheceu o meu atual projeto o rico filho perguntou, algo esperançado:
- Isso quer dizer que vamos ser ricos?
Rimos todos. Não que desdenhássemos do rapaz, afinal é inexperiente, mas rimos. Depois, ainda me aconselhou:
- Escreve sobre sexo.
Hum, talvez o rico filho não seja tão inexperiente assim. Há evidências nesta vida que até um jovem de dezassete anos se apercebe…

sexta-feira, 13 de abril de 2012

A vida na rua

Durante a semana, ali pela uma da tarde, avisto uma touca lá fora. É o homem da assistência social, vem entregar o almoço a uma velhinha que era professora de piano, ao que consta. À sexta-feira, como hoje, vem também às quatro da tarde, creio que deposita os géneros alimentícios para todo o fim-de-semana, pois contrariamente, a simpática senhora não comeria...
O homem tem uma touca, penso que deu para perceber. Só faltou dizer que é branca, bem como o resto da indumentária. 

Esta rua tem um pénis. Ah pois é, pois é. Está escrito no capô dum carro. A rua tal tem um pénis à mostra... Dito assim fica hilariante.

Em tempos chamei rua da Rosa a esta rua, já ciente de existir em Lisboa uma rua chamada assim. Eu não estou na rua da Rosa, é bom que acrescente. Apenas foi assim que cognominei a rua onde estou, só isso.

O mal

Não há mal nenhum em inventar histórias, se as passar para o papel tornar-se-ão verdadeiras. Digo eu.


«A ficção é a verdade dentro da mentira.» Stephen King, in 'A Oficina dos Escritores', de Francis Amalif

O homem da rua que tinha gravuras para vender

Tomélia caminhava na rua ao sabor da fraca vontade. Não lhe apetecia deambular por ali, queria espaços diferentes, encontrar gente, conversar, soltar os ânimos. Ninguém.
Foi andando. Às tantas aparece-lhe à frente uma figura escura do sol, uma espécie de arruaceiro dos negócios. Tomélia não se escapuliu, queria pessoas. A dita figura perguntou-lhe se falava inglês, ao que ela anuiu, deveras satisfeita por poder falar com alguém. Falaram inglês, ele com muito sotaque, ela toda despachada.
O homem queria mostrar as gravuras egípcias que trazia debaixo do braço. Só mostrar, frisou, nada de querer vender, não senhores.
'I want to show you, just want to show you', dizia ele, arranjando um tom ludibrioso, tão próprio das gentes orientais.
Tomélia observou as gravuras um tudo-nada aborrecida.
'Oh, afinal é só para ver gravuras...', pensou num suspiro.
Ele, para lhe ganhar a confiança elogiou-lhe a beleza.
'You are beautiful. Oh, beautiful, a beautiful lady!'
Ela, sorriu, condescendendo.
Senhora bonita! Muito bonita!', continua ele.
Tomélia não se aguenta e desata a rir.
'Afinal o senhor sabe falar português!'
'Are you married? I want to marry you!'
Tomélia não quis nenhuma gravura, as paredes da casa estão cheias de coisas bonitas. Beautiful, beautiful things. Oh yes!

Vinho branco

Quando entrei na loja do senhor Adeodato havia um certo alarido que entretanto compreendi. Havia alguém que fazia anos e estavam dois senhores lá para dentro, naquele cubículo onde a saca do chocolate em pó (para citar apenas um item, senão jamais sairíamos deste parágrafo) aguarda a vez de ser vendido. O armazém, por assim dizer. Bebiam vinho branco e conversavam entre si.
Havia uma senhora do lado de fora do balcão, era uma figura voluptuosa, cheia de esgares sensuais e olhares lânguidos. O senhor Adeodato sai lá de dentro para a atender. Não me vê. Encosta a barriga nodosa ao balcão, querendo ser prestável à distinta cliente. Vão falando de vinhos, ela gosta de vinho branco, só bebe vinho branco, aliás. Quer cem gramas de amêndoa com pele. Ele avança e avia-a. Avia-lhe as amêndoas, bem entendido. Não se mostra muito 'entretido', não se esparrama em cima do balcão, mas creio que tem vontade de o fazer, há um ligeiro rubor na sua expressão, quiçá devido ao vinho branco.
A cliente sai, é a minha vez:
– Queria chá de tília para os nervos, senhor Adeodato, por favor. Só cinquenta graminhas, que eu não sou assim muito, muito nervosa...

Dias de um ginásio

Aula de Pilates.
Um horror benéfico.
Eu mesma.
Em pé, cabeça para baixo, uma perna no chão esticada ao máximo, outra perna no ar esticada ao máximo, como se quisesse tocar o teto, as palmas das mãos são para assentar no chão.
Um tormento desestabilizador.
Dores.
Tremores.
Tentativa inglória em manter a posição corretamente.
Ó, mê, guê...
O professor, esse profissional de exceção, ordena:
– Gina, palmas das mãos no chão! Gina, palmas das mãos no chão! Enquanto não puser as mãos no chão não inicio a contagem! Gina, palmas das mãos no chão! Gina, palmas das mãos no chão! Enquanto não puser as mãos no chão não inicio a contagem!
Fui o centro das atenções durantes escassos segundos, que no entanto me pareceram muito longos. Ao meu lado ouço uma voz em desespero, implorando:
– Gina, por favor...
Fiz o que pude, estiquei a perna de baixo que doía p'ra caraças e coloquei metade das palmas das mãos no chão. O professor iniciou a contagem a partir do número cinco. Um querido, eu bem digo...

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Cópia



Não fico zangada se descubro fotos minhas noutros blogues. Quero dizer, fico zangada mas passa rápido. Chego à conclusão: se a pessoa roubou a minha imagem é porque gosta da minha mão, das minhas unhas, do tom do meu verniz, do teclado do meu computador... É tudo meu, 'miga. Não tens coisinhas tuas, não?!

Cumprimentos

Quando ela me perguntou como estou respondi sem mais demoras que 'estou maravilhosa, obrigadinha'. Riu e ficou no ar um espanto que me confundiu, pensei que ela tinha ficado esperançada de ver explicada a minha invulgar resposta ao cumprimento.
Não fiz caso da minha confusão e expliquei: passo o dia a cumprimentar pessoas, umas conheço outras não, então há vezes em que sinto necessidade de inovar o cumprimento, colocar algo meu, 'estou maravilhosa, obrigadinha.'

quarta-feira, 11 de abril de 2012

O estendal

Lá vinha o senhor doutor subindo a avenida, com um semblante confuso, aéreo, desprovido daquela sensatez que nos move no dia-a-dia. Este homem não consegue essa harmonia, não.
Um dia o meu colega foi lá a casa montar um estendal. Na hora ficou tudo bem, o senhor doutor gostou muito do trabalho dele e mais não sei o quê. Porém, uns dias depois, veio queixar-se que as cuecas e as meias iam ficando todas enroladas sobre si mesmas conforme se avançasse o estendal. O meu colega, cheio daquela paciência comercial, explicou ao senhor doutor usando levemente os termos mais pragmáticos da lógica da batata. O cabo de aço roda sobre si quando movido na roldana, logo, a roupa miúda e leve roda por sua vez pois não se sustém, não tem peso. Fácil, não? Não, este senhor é doutor da psique... Pragmatismos, não, por favor.

Inexistências

Não há silêncio. Não há vácuo. Ambos são criações meramente imaginárias. Um dia uma mente criou essas palavras e levou multidões a crer nos próprios desígnios. É sempre assim: um designa, outros seguem.

Fones, ou isso

Nome próprio: Justine
Sobre( o )nome próprio: Pancada

Madame Justine Pancada possui uma marcada pronúncia (não sei se francesa, só sei que carrega em todos os érres e que a gente lhe chama madame).
Noutros tempos, algo longínquos, de vez em quando vinha comprar fios de ouvido para o marido que não saía de casa (não sei se estava acamado, só sei que nunca o conheci). Antigamente ouvia-se o radio assim, com aquele fio fininho de cujas extremidades brota uma ponta metálica a colocar no radio e um cone a colocar no ouvido. Chamamos a este objeto simplesmente 'fio de ouvido'. Vendi muitos, muitos, muitos. À madame Justine vendia aos três de cada vez, o que poderá não abonar nada favorável à qualidade do fio de ouvido que preenchia as minhas prateleiras, mas o melhor é não explorar esta ideia. E também vendia cem gramas de naftalina e um saquinho de goma para os colarinhos. Vendia-lhe artigos de madame, lixívias e outros aprumos do lar, mais laboriosos ou mais imundos, eram com a antiga empregada, tão velha quanto a patroa.
A madame era extremamente educada, chegava a ser cordialidade o que transparecia da sua postura reta, justamente adequada à classe social na qual estava inserida. Agora me lembro, nunca veio cá dizer mal dos fios de ouvido, não senhores. Findo o armazenamento, comprava mais três.
O senhor Pancada, o homem que punha o fio no ouvido, morreu num dia qualquer, que a morte aparece assim, em dias desses. Da filha, escrevi uma vez um texto acerca do seu penteado imobilizado à força do brio e decoro, ou da laca... (Ver aqui, oh...)
Curiosamente, há dias esteve aqui uma senhora parecidíssima com a filha da madame Justine mas com um ar totalmente oposto, desempoeirada, o espírito livre, nada dos refreamentos próprios da senhora do penteado imobilizado, supostamente irmã, se o meu juízo de rostos estiver correto. Estive mesmo para perguntar se era filha da madame tal, já que me pareceu uma pessoa de fácil lidação, fazer como faço tantas vezes, marimbando para a vergonha e tudo quanto castra os momentos prazerosos. No entanto, não fui capaz, e agora lamento.
Uma vez fui a casa desta madame mas não recordo nenhum pormenor, o que me supõe a ideia de que o seu lar se assemelha à sua personalidade: clássica, sóbria, contida, irrelevante.
Não sei se a madame Justine será tanto assim, irrelevante, quando escrevo tenho de achar pontinhos de luz...

Terminus

O lugar* onde fui recém-nascida, uma vez, parturiente e puérpera, duas vezes, ou seja, onde eu e os ricos filhos demos a primeira golfada de ar das nossas vidas, vai encerrar. Ou andam em negociações para isso, ao que parece.
Não dou grande atenção às notícias por isso não sei desenvolver o encerramento propriamente dito. Só quero registar que me sinto nostálgica com a situação. Coisas da idade, presumo.

(*Maternidade Alfredo da Costa)

?!

O que pensar dum presumível cliente que entra aqui e me pergunta sem rodeios se estou sozinha?

Não pensar nada e limitar-me a esperar, que a experiência que eu tenho de balcão dita que me cinja ao visível, pois algo que ainda não se viu há-de surgir.

A martelada

Talvez devido à pancada seca que cortou o silêncio, o cliente, curioso, quis saber o que diz a matriz onde martelei vigorosamente. Anunciei-lhe com alguma solenidade que 'é a marca do estabelecimento espetacular onde estamos'.

Dez cêntimos

Se fosse criar um post cada vez que acho um cêntimo no chão teria muitos posts iguais.
Desta vez achei dez cêntimos, o que equivale a feitura de post. Está feito!

terça-feira, 10 de abril de 2012

A escritora

Sonhei que era uma escritora famosa de quem toda a gente conhecia a cara. A minha vida era maravilhosa, todos gostavam de mim e procuravam a minha companhia, ninguém achava diferenças entre o que sou e o que a minha escrita demonstra. Um mimo, este sonho. Um esplendor, quiçá.
Uma das questões que mais me atormenta enquanto escrevente é essa de não ser como sou. Será que sou como sou ou sou como não sou?! Ah... É aflitivo.

Adiante, que a minha vida não é sonho nenhum.

Ontem recebi um email, do qual, primeiramente, li apenas o primeiro parágrafo, pois foi suficiente para ficar num misto de perplexidade com deslumbramento, depois dei largas ao sentimento e fiquei efusiva, rejubilante e todos os adjetivos que definam uma pessoa extremamente alegre e satisfeita. Levantei-me da cadeira rapidamente e fui a correr para os braços do meu amor que logo percebeu o que era e me acolheu cheio de contentamento, também ele. De seguida viemos os dois até aqui para concluir a leitura, pois é.
Há uns dias eu havia enviado um texto para um site que promove novos autores ou autores desconhecidos e cuja última iniciativa é arranjar textos de autores desconhecidos para posteriormente publicar um compêndio. Participei e... Vou lá estar. O meu texto vai figurar num livro. Um livro a sério. Uma das minhas histórias em suporte de papel, como eu sempre quis. Ó, mê, guê!

Mandei um email de resposta agradecendo à pessoa que dirige o projeto, tentando não parecer uma pobre diaba que acha o mundo fantástico só porque uma historinha pequenina foi escolhida de entre cem outras histórias, estrondosamente maravilhosas, e que depois será editada num livro que contém... noventa e nove outras histórias. ... Estou a brincar, encontro-me muito feliz com a situação. Indiscutivelmente.

São onze e tal da noite. Vou dormir e sonhar que sou uma escritora famosa de quem toda a gente... Blás.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Pensamento conclusivo

Escrever não é
descrever.

Escrever é
viver.

Tenho andado enganada.

...

Ao dia de hoje encontro-me sentimentalista. Caso isso seja possível, claro.

Presente

Lisboa, 3 de abril de 2012

Houve um tempo em que fingia ser o o que não era. Hoje não tenho essa paciência, não. Limito-me a fingir o que sou. Despudoradamente, que a esse, o pudor, enxoto-o, não é nada bem-vindo.

O contendente

O lugar da musa já não contende comigo como outrora. Contendia através duma força desconhecida, um impulso criador, sei lá. Já não contende...
Dantes sempre tinha umas frases (quantas vezes ilegíveis umas horas depois...) no bloquinho rudimentar que me acompanha diariamente. Não estou triste com esta perda, sei que se perde para ganhar, a vida é um retrocesso de todas as situações antagónicas.
O lugar da musa funcionava como um talismã, eu já lhe dava demasiada importância, cheguei até a comparar-me a um escritor quando o ouvi dizer numa entrevista que tinha de vestir um casaco creme, velhinho e gasto, para escrever. E escrevia. Era assim que acontecia comigo: escrevia se estivesse ali pousada, observando. Em tempos, durante muito tempo, inclusive, ia lá para clarificar umas ideias e expulsar outras. Agora já não dá, que o lugar da musa já não contende comigo como outrora.

A oculista

A rapariga da loja dos óculos tem um olhar fabuloso. Verde, enorme, brilhante e lânguido. Tem o mundo nos olhos, ela, podemos ver tudo. Eu cá vejo.

Pus-me a pensar se aquele olhar lindo não funcionará como chamariz, uma vez que a rapariga se movimenta numa loja de óculos. Se para os cremes anti celulite ou anti idade deparamos com uma figura linda, lisa e jovem, sobretudo jovem, para nos iludirmos de que ficaremos como ela, porque não pensar que a rapariga conseguiu aquele emprego no campo da visão por ter uns olhos espetaculares e os negócios se concretizem porque as pessoas vão na enga de comprarem uns olhos assim?

À pressa

Não sou agarrável. Nem queiras saber... Arisca que só visto!

O senhor doutor disse-me que daqui a dez anos não andarei tão depressa assim, que a vida tomará naturalmente outro ritmo, mais calmo e ponderado.
O senhor doutor sabe tão pouco da minha vida, afinal... O senhor doutor não sabe que eu não posso abrandar a marcha, quando não, os fantasmas entram e eu não quero sequer que rondem.

Não sou equilibrada, efetivamente. Posso até parecer muito calma, mas não sou. Possuo uma rebelião interior imensa, um tumulto constante prestes a irromperr. Tudo quanto gosto de fazer faço às carradas, em demasiado, em alta velocidade. Foi a maneira que descobri para viver em calmaria.

...

Ah, que aflitivo! Nunca tenho tudo escrito...

Leitura

Tive um professor que aconselhava vivamente a que a gente lesse. 'Qualquer coisa', frisava, 'qualquer coisa, nem que seja aquelas revistas de novelas ou romances de cordel. Leiam! Leiam!'

No sofá preto perto (não, não me enganei: preto; perto) do meu uma senhora lia um livro que identifiquei como sendo de duvidosa qualidade literária (muito embora eu não me atreva a desqualificar livro nenhum). Conheço a coleção, li alguns desses livros quando tinha uns 14 anos. Eram bons na altura, era a única literatura de que dispunha. Contavam histórias repletas de cenas carinhosas, outras escaldantes, outras ainda cheias de causas nobres e similares, tudo isto sem nunca abordar o sexo explicitamente. Eram histórias descrevendo luxúrias e momentos prazerosos em lugares exuberantes, a heroína era (sempre!) virgem, como eles gostam, o herói era (sempre!) um mauzão com ares de bom caráter, como elas gostam. Um mimo para aquela idade tenra em que as hormonas pululam, em que se vive intensamente do que imaginamos. Podendo penetrar nos mundos doutras faixas etárias... Já se sabe.
Mas a senhora que lia sentada no sofá preto perto do meu não tinha 14 anos... Mas, como diria o senhor professor: 'Leiam!'
Em literatura ler é o mais importante. Também se pode ler blogues, o senhor professor aprovaria.

Dias de um ginásio

O professor de Pilates é um querido e um fofo e um amável e um maravilhoso... Ser humano.
O parágrafo acima é uma introdução estupidamente apresentada com o único intuito de distrair. Vamos ao que interessa.

Noutro dia queixei-me das costas ao professor de Pilates. Sendo que o abdómen é o centro de gravidade de todos os exercícios desta modalidade, se os tais não forem executados da melhor maneira as costas sofrerão horrores. Era o que me estava a acontecer. Queixei-me o melhor que soube, que eu nestas lides sou péssima. O professor corrigiu-me e apoiou-me, porque é um profissional exemplar, mas um dos comentários que fez deixou-me perplexa: tenho a coluna retificada.
O quê, senhor professor, a minha coluna é reta?! Não sei, não. A minha mãezinha diz-me desde os meus oito anos, para aí:
'A minha Gina é tal e qual o jeito do meu corpo, faz uma cova nas costas!'
Depois percebi: uma coluna retificada ou reta é uma coluna com a curvatura natural. Assim como eu... Que naturalidade e essas coisas é comigo.

Caminho novo

Fizeram uma meia-lua ali assim, onde antes era terra batida pelo vento (a mãe chama-lhe o redondel). Se fosse agora não terias o inconveniente tal, não ficarias aborrecido com aquilo, não serias rude nos dizeres.
Outros tempos, bem sei. Alteramos os modos e as vontades, é a vida da gente, nunca finda o claro e o escuro, sempre um a seguir ao outro.
Eu agora escrevo memórias e leio livros. E tu, continuas tão pouco artista como antes?!

Muffins


Ingredientes:

200g chocolate culinária
200g farinha
125g açúcar amarelo
2 ovos
75g manteiga amolecida
1dl leite
3 colheres sopa cacau pó
1 colher chá fermento pó
manteiga para barrar

Preparação:

Ligue o forno a 180º. Barre 12 forminhas coma manteiga.
Abra a embalagem do chocolate, parta 12 quadradinhos e pique o restante. Reserve as duas partes.
Numa tigela bata a manteiga com o açúcar até obter uma mistura cremosa. Junte os ovos, um a um, e o leite. Bata. Peneire a farinha, o cacau e o fermento; junte ao preparado anterior e bata bem. Adicione o chocolate picado e misture.
Divida a massa pelas forminhas; coloque um quadradinho de chocolate inteiro dentro da massa, em cada uma das forminhas e leve ao forno durante 20 minutos.
Retire e deixe arrefecer.

Nota: receita retirada do interior dum chocolate Nestlé para culinária.


domingo, 8 de abril de 2012

Domingo de Páscoa

Houve cheiros. Lembrei-me a meio da manhã que houve cheiros. A champô, a after-shave. A lixívia, a carne no forno, a waffles, a caramelo. A roupa lavada. A sopa, a salteado de legumes, a café. Depois cheirou a pó da máquina de costura misturado com óleo lubrificante.
Agora não sei a que cheira a minha casa, o dia está no fim, há uma grande variedade de aromas por aqui, ou então estou mesmo baralhada.
A meio da tarde vi o saquinho de cheiros. Ora nem de propósito... Não foi por causa do saquinho que me lembrei dos cheiros da minha casa, foi a vida que quis mostrar-me um objeto bonito que tem muito a ver com os cheiros e os cheirinhos que eu escrevi na minha cabeça durante grande parte do dia. 

Loures, 8 de abril de 2012

quinta-feira, 5 de abril de 2012

O amarelo do sol

Lisboa, 5 de abril de 2012

O sol bate-me nas costas, quente, intenso, o que me traz um conforto algo braseado, dominante. Sou submissa, agora. Prazer incomensurável, este. É bom, para variar da rebeldia usual que gera um interior tão turbulento que nem sei como controlo, ou se controlo.

A mulher que afinal não é tímida

Não é timidez. Não sou tímida, não é por aí. Nem devia ter ido buscar a palavra. É um refreamento involuntário de gestos e palavras. Se o refreamento for voluntário, o que acontece esporadicamente, então poder-se-á considerar uma mui ligeira timidez. Coisa pouca.

Bestoide

'Menina, podemos falar deste folheto?'

'Não.'

Sou uma besta, é o que é. 'Não' e pronto. 'Não' e já está. Um 'não' sozinho e cortante. Posto isto, sou uma besta, que não dá azo a grandes explicações.
Não me venham moer os cornos e dizer que não é assim e mais isto e mais aquilo. Sou uma besta; ficamos por aqui.

C' est fantastique!

Lisboa, 5 de abril de 2012

Um dia ainda me vou aventurar na onda do fantástico. Vou-me ver aflita para situar o dragão, descrever as espadas e os cintos e deslindar as cenas.

A escritora

Sou mais escritora do que leitora. Sempre fui. Antes nem sequer conseguia ler livros, era um horror, havia descoberto a escrita e seus milagres, pensava que ao ler de outros me desviaria do meu pensar, tão egocêntrica me encontrava, tão virada para dentro, tudo eu, tudo comigo, convencida que eu é que sabia das coisas da minha vida.
Um dia quis pôr termo ao ego, obriguei-me a ler. Tenho conseguido concentrar-me na vida dos outros (eu costumo dizer que ler é meter-me na vida dos outros) e tem sido frutífero, escrevo muito mais agora...

As minhas vidas

As minhas personagens (Tomélia, Milena, Paulina, Eufélia e outras que agora não recordo) são quem eu quiser, que fique bem claro. Brotam das minhas vivências, ou doutra maria qualquer, brotam das minhas vivências e das doutra maria qualquer, ou brotam doutras marias. Tudo à mistura.
Nada há mais prazeroso que vaguear pelo pensamento, abstrato, diz a rica filha que aprendeu no curso dela, mas livre, tão livre que se torna libertador. Aprendi a juntar peças do meu quotidiano e dar-lhe uma forma diferente da realidade, continuo sem inventar grande coisa, creio firmemente que nunca lhe apanharei o jeito, mas já não me preocupo tanto em escrever a verdade e em dissecar a realidade, faço o que posso para afastar a crueza que me caracteriza, valorizando as linhas sinuosas que a vida tem.
Os escritores, pelo que me é dado ver, sempre escrevem das suas experiências. Esta manhã ouvi uma pequena entrevista duma escritora que afirmou ser a base da sua escrita o bullying porque foi uma das vivências mais marcantes que teve. Reafirmo: não é possível escrever daquilo que se desconhece.

Hino

Os cavalheiros e outros espécimes no masculino que se regozijem com o hino de perfeito louvor ao ser másculo dos nossos dias. Mas aqueles seres ou espécimes que se tentam portar bem no matrimónio, no lar e o caraças. Pois é, revigorem, levantem as cabecinhas, sois importantes, agora que tendes hino. Já não é só a elas que se dá esse tipo de atenção...
Sem brincar, agora: está um retrato muito bem feito.

Ver o video neste linque, que a letra infelizmente não a descobri na Internet.

O grampo circunscrito

Lisboa, 3 de abril de 2012

Queria publicar a foto acima pelo motivo mais estapafúrdio que pode existir: apetece-me.
É uma imagem que não tem nada de especial; lamentavelmente, não estou a escrever nada que considere especial, quando na maioria das vezes consigo ter essa ilusão.
Talvez tenha sido criativa no título...
Se me basta?
Não.

Nozes a quem tem dentes

O senhor Adeodato diz todo decidido que não tem nada de andar a dar dinheiro a ganhar aos fornecedores do miolo de noz quando pode muito bem descascá-las ele lá dentro no cubículo e vendê-las e mais não sei o quê.
Pois é, senhor Adeodato, mas não esqueça de retirar os pedacinhos de casca e aquelas fibras interiores, que isso tudo é peso a mais na minha carteira, sim?

Tudo de bom

O muçulmano deseja 'Páscoa Feliz' à saída. O ateu, idem.
O mundo mais igual; cada vez mais igual. Etnias e crenças, c' est tout la même chose.

Tropeção

Uma senhora tropeçou nos vasos à entrada lembrando imediatamente, como que miraculosamente, portanto, o que vinha cá comprar: vasos. 'Parece que estavam a falar comigo', disse ela. Maravilha de negócio.

Crise

Arrepio-me toda com o título, saturada que estou do assunto. Mas avanço.

Vende-se pouco aos dias d' agora. O senhor António esteve cá e queria mostrar o catálogo e vender e conversar pelo meio, que este é daqueles que curte a malta daqui. Não tendo nada para pedir, por isso resolvi comentar a sua gravata, que era da mesma cor que as esfregonas. Sorriu, assim.

Amêndoas

Um senhor conhecido do pedaço aconselhou-me a que ponha amêndoas na montra, que os clientes virão...

Corninhos numa fechadura.
Corninhos numa fechadura?!

Vinha com uma fechadura na mão, queria outra igual e em bom estado. Estende-ma. Assim que a observo saiu-me de rajada:
– Ah, é a fechadura de corninhos!
O homem fica perplexo e eu apresso a justificação:
– O senhor não leve a mal, está bem? É que a gente chama assim porque saem da testa dois pedacinhos de metal, está a ver aqui?
O homem, por sinal simpatiquíssimo, diz que não faz mal nenhum, deixe lá isso e tal. E eu, com a mania das reincidências, em vez de deixar o caso assim, insisti:
– É fofinho...
Ele fica atónito mais uma vez.
– É uma palavra fofinha, pequenina, corninhos...

Nova participação

Para memória futura, eis a nova participação no blogue 'Fábrica de Letras' sobre o tema 'Rostos, originalmente publicado .aqui, oh.

O alaranjado

Francisquinho entra seguro e cheio daquela aura amaricada, como é habitual. Quando olhei melhor vi-lhe no rosto um tom laranja. Tinha colocado uma base para disfarçar a pilosidade e aparado as sobrancelhas. Fiquei boquiaberta cá por dentro, na verdade a boca não se me abriu de espanto, a cabeça é que ficou zonza com a visão tosca apelando ao metrossexual.

Eu não tenho nada contra os paneleiros, as paneleirices, as pilosidades, as bases de rosto cor-de-laranja e as sobrancelhas aparadas, ao sério que não. Eu gosto é de escrever dos outros. O meu imaginário não me fascina por aí além, antes me incita mais que muito a produzir aberrações literárias. Portanto e basicamente, é uma questão de não me aparecer à frente aquele que não quer ver-se escrito ou descrito por mim.

Fez-se luz



Olha só que imagem tão bonita eu teria para colocar no post da dona Maquiavélica em caso de lembrança aquando da sua feitura.
Escrevo outra vez à posteriori. A minha vida escrita passa-se às revoadas.

Dormitório

A dona Amália do antigo ginásio dormitava no sofá preto. Tive vontade de a cutucar com a ponta do chapéu-de-chuva, acordá-la impiedosamente, cheia duma maldade à qual raramente dou poderio.

Fisioterapia

O senhor Marquez subia a avenida de costas para mim. Vinha da fisioterapia, anda a tratar dos joelhos desgastados por demais e lhe doem que se farta. Apanhei-o num instante, não me doem os joelhos. Quando passei por ele, depois de o cumprimentar efusivamente (com algumas pessoas é facílimo ser efusiva), disse:
– Eu vou chegar primeiro, quer que diga a alguém que está a chegar?

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Sonhos e o caraças

Sonhei que havia ido ao meu antigo cabeleireiro e que a rapariga de lá, cheia de saudades de mexer na minha cabeça, me tinha feito um corte de cabelo muitíssimo curto. Chorei e esbracejei. Mas só quando cheguei a casa, que eu até nos sonhos sou tímida. O único lugar onde não sou tímida é este onde estamos, tu e eu. Depois pago a conta, não há lugar nenhum do mundo onde possamos dizer o que queremos. Pois é.

Mas há mais.

Sonhei com uma grávida de quem não conheço o rosto, será alguém inventado, nesse caso. Tinha uma barriga imensa e pontiaguda, sendo que a extremidade da mesma tinha a cabeça do bebé, que ria e comia com gosto. Estranho, ao que parece. Sonhos e o caraças.

Conversa vindoura

Depois falamos melhor, diz ele.

Ó, mê, guê! Ó mê guê, ó mê guê, ó mê guê!
Oh céus! Oh céus! Oh céus! Oh...

(… perda da fala...)
(… desmaio...)
(… queda...)
(… recobro...)
(… sentada...)

… Céus!

Espero que neste pequeno texto seja notório o entusiasmo desmesurado duma mulher romanticamente parva rejubilando com uma mera e insignificante frase dum homem.

Dores

Ai senhor doutor, dói-me tanto a minha cabeça..., diz Eufélia com pesar.
Isso é falta de magnésio. Deite-se aí, vá. Depois do tratamento verá que se sente melhor, responde simpaticamente o senhor doutor.
Ela assim fez. Distraiu-se como pôde e recebeu a dita substância corpinho acima. Fixou o olhar na porta do consultório, ali repousava um cartaz com letras enormes, mesmo enormes, assim-assim, mais ou menos pequenas, pequenas e pequeninas. A visão despoleta um comentário algo arrojado:
Haverá algum desgraçado que não consiga ler aquelas letras maiores?!
Sim, diz o senhor doutor, cheio de paciência para as infantilidades de Eufélia, aquelas pessoas que têm uns óculos de fundo de copo de vinho...
Bolas, ainda bem que só me dói a cabeça! Que seria de mim sem poder observar?!
O senhor doutor riu com gosto.
Pois é, dona Eufélia, deixe-se estar assim, deixe-se estar.

Fim-de-semana

Tenho um gostinho especial: escrever à posteriori. Gosto de reincidências, presumo. Há dias viu-se numa mentira (aqui) e hoje ver-se-á, pois escreverei do fim-de-semana passado já de seguida.

No sábado estive 'vai não vai' para escrever das ovelhinhas. Pastavam lá ao fundo, muito brilhantes e felpudas, com um ar muito saudável, muito rural, em contraponto com a urbe. Esta cidade, Loures, é pródiga nesses opostos. Isto aqui são hortas e prédios, com autoestradas e estradinhas, caminhos e pátios saloios.
Mas eu já escrevi isto uma carrada de vezes... Veio-me à memória que o que mais faço no blogue é repetir-me, os anos de bloguista já são muitos, a vida é cíclica, por muita originalidade que procure e por mais que queira conseguir ser diferente a escrever não imitando ninguém, a verdade é que sempre recaio em costumes e lugares-comuns. Aboli a ideia, então. Escrevo, hoje.

EGO

Lisboa, 4 de abril de 2012


É o ego; isto é o ego, que escrever num blogue sem essa existência, quiçá fantasmática, é coisa para não se concretizar. Anuência inevitável, esta. Tende paciência, não tarda nada findar-se-á o dito.

Significado

'Taxas moraduradoras', sabeis o que é?

Eu sei. E também sei que dá até setembro deste ano.

Tenho um amigo...

Tenho um amigo preocupado com um ato puro e simples: mamar. Vira-se para mim e pergunta ingenuamente se as mulheres que têm silicone nas mamas podem dar de mamar. Respondo: 'não sei; não tenho silicone.'
Este amigo fica acabrunhado e um tudo-nada vermelho, baixa a cabeça em sinal de grande embaraço. Riposto sem pudor: 'mas afinal que resposta é que tu querias?!'

O cantinho

Lisboa - Rua Stuart Carvalhais, 4 de abril de 2012

E pensar que ainda existem cantos assim em Lisboa...

Como é?

Lisboa, 2 de abril de 2012


Sou uma mulher cheia de segredos. Que, sem lamentos, assim continuarão. E, feliz por demais, assim continuarei.