Quando entrei na loja do senhor Adeodato havia um certo alarido que entretanto compreendi. Havia alguém que fazia anos e estavam dois senhores lá para dentro, naquele cubículo onde a saca do chocolate em pó (para citar apenas um item, senão jamais sairíamos deste parágrafo) aguarda a vez de ser vendido. O armazém, por assim dizer. Bebiam vinho branco e conversavam entre si.
Havia uma senhora do lado de fora do balcão, era uma figura voluptuosa, cheia de esgares sensuais e olhares lânguidos. O senhor Adeodato sai lá de dentro para a atender. Não me vê. Encosta a barriga nodosa ao balcão, querendo ser prestável à distinta cliente. Vão falando de vinhos, ela gosta de vinho branco, só bebe vinho branco, aliás. Quer cem gramas de amêndoa com pele. Ele avança e avia-a. Avia-lhe as amêndoas, bem entendido. Não se mostra muito 'entretido', não se esparrama em cima do balcão, mas creio que tem vontade de o fazer, há um ligeiro rubor na sua expressão, quiçá devido ao vinho branco.
A cliente sai, é a minha vez:
– Queria chá de tília para os nervos, senhor Adeodato, por favor. Só cinquenta graminhas, que eu não sou assim muito, muito nervosa...
1 comentário:
Parece que aceitou o conselho e deixou implícito uns laivos para quem os compreendeu.
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