sexta-feira, 13 de abril de 2012

O homem da rua que tinha gravuras para vender

Tomélia caminhava na rua ao sabor da fraca vontade. Não lhe apetecia deambular por ali, queria espaços diferentes, encontrar gente, conversar, soltar os ânimos. Ninguém.
Foi andando. Às tantas aparece-lhe à frente uma figura escura do sol, uma espécie de arruaceiro dos negócios. Tomélia não se escapuliu, queria pessoas. A dita figura perguntou-lhe se falava inglês, ao que ela anuiu, deveras satisfeita por poder falar com alguém. Falaram inglês, ele com muito sotaque, ela toda despachada.
O homem queria mostrar as gravuras egípcias que trazia debaixo do braço. Só mostrar, frisou, nada de querer vender, não senhores.
'I want to show you, just want to show you', dizia ele, arranjando um tom ludibrioso, tão próprio das gentes orientais.
Tomélia observou as gravuras um tudo-nada aborrecida.
'Oh, afinal é só para ver gravuras...', pensou num suspiro.
Ele, para lhe ganhar a confiança elogiou-lhe a beleza.
'You are beautiful. Oh, beautiful, a beautiful lady!'
Ela, sorriu, condescendendo.
Senhora bonita! Muito bonita!', continua ele.
Tomélia não se aguenta e desata a rir.
'Afinal o senhor sabe falar português!'
'Are you married? I want to marry you!'
Tomélia não quis nenhuma gravura, as paredes da casa estão cheias de coisas bonitas. Beautiful, beautiful things. Oh yes!

1 comentário:

Manuel disse...

Deliciosa esta estória .