Entrei num bar temático, cheio de enfeites marinhos, mas com poucas mesas vazias, tanto que me sentei ao balcão. Não cheirava a maresia mas idealizei que sim, sugestionada pelo derredor. Olhei demoradamente para a vastidão de garrafas expostas e deixou de me cheirar a mar para me cheirar a álcool, que sou muito dada a sugestões odoríferas. Fiquei indecisa, assim para o muito. Que ia beber?! Estava sozinha, sem apoio, e desabituada do ambiente. Hum...
Do outro lado do balcão um senhor fardado fez o gesto de quem me queria atender. Sou destemida quando sou forçada a viver experiências invulgares, sem me alongar pedi-lhe que escolhesse algo para mim, que não gosto de bebidas fortes mas têm de saber a álcool. O homem disse qualquer coisa bruscamente, não soube lidar com a súbita frontalidade que mostro em algumas ocasiões e que contrasta enormemente com a aparente timidez. Fiquei atrapalhada, fiquei sim, sou mulher para me atrapalhar com poucochinho, deveras sensível às reações das pessoas. Mas a par disso possuo um certo arrojo, quase sempre escondido, que eu não gosto de o mostrar a toda a gente, é como que uma vontade que cresce em maneiras de me sentir completamente à-vontade. Continuei a luta, pois também sou casmurra de quando em quando.
– Arranje-me uma marguerita, por favor. Com muito sal no bordo do copo para eu passar a língua prazerosamente, sorver o líquido turvo com uma vontade contida, os dentes fazendo as vezes duma rede que não deixará entrar o gelo dentro da boca, quero que derreta dentro do copo, esperar a marguerita como que transbordar antes de cada golinho que me há-de saber a limão muito ácido e a Tequila. Principalmente a Tequila, a ver se rodopio aqui sentada, enquanto absorvo o resto do lugar, que eu cá adoro essas cenas de olhar e tal, para as pessoas, para os objetos, pensar e cismar e disfrutar de tudo quanto é visível e invisível, plausível e impossível. Quero relaxar, o dia foi ruim, a minha vida está estranha, eu sou uma pessoa muito especial. Quero uma marguerita, é isso mesmo. Obrigadinha.
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