Não foi sempre assim mas foi algo a que me habituei propositadamente. Forcei o hábito pela timidez que sentia ao imaginar que alguém viria aqui ler isto.
Ao fim de algum tempo dispensei a timidez - os familiares e amigos a quem revelei a existência do meu blog e convidei a ler as minhas histórias, não vieram mais do que uma vez.*
Depois que abalou de mim alguma da frustração que sentia, começou a saber-me muito bem, assim existia uma liberdade que de outro modo não existiria. Apercebi-me disso e vi o lado positivo da questão, virei-me do avesso. Comecei a sentir exactamente o inverso - era muito agradável que não viesse aqui ninguém que penetrasse dentro do meu olhar e conhecesse o tom da minha voz. Afinal de contas, não vinha cá ninguém impor o manual dos bons costumes nem discordar do meu comportamento nem oferecer-se para me ajudar a portar-me benzinho. Apeteceu-me escrever "merda", "porra", "puta" e outras palavras comichosas e peçonhentas e... escrevi! Apeteceu-me escrever que me sinto mal com a minha profissão, que faço comidas insípidas, que não gosto disto ou daquilo, que os homens pensam com a pila, que estou triste, que estou esfuziante de alegria porque vou de férias e... escrevi! A linha que delimita até onde posso ir afastou-se de mim, instigando-me a alcançá-la. Nessa tentativa estiquei-me tanto que me revelei loucamente. Não recuei. Não recuarei.
Na verdade, quando iniciei esta actividade ignorava a existência da loucura que há na liberdade de manifestar o que penso perante o mundo inteiro. Num processo gradual, que ainda hoje gradua, dei largas à imaginação, deixei-me dominar pela dita loucura ignorada até então e deu nisto que hoje se lê por aqui e que me faz voar o pensamento nem sei muito bem por onde mas sei que quero sempre escrever tudo aquilo que vejo, ouço ou sinto. Desenho a minha loucura com as palavras. Isso, sei eu.
Não acho que a minha escrita seja de baixa estirpe, embora não a classifique pela qualidade nem pretendo escrever pela qualidade. Normalmente classifico, ou qualifico, a minha escrita pelo prazer e pela intensidade com que escrevo. É nesse ponto que quero trabalhá-la.
Mas... (há sempre um "mas", não é verdade?) todas as coisas têm um lado bom e um lado mau. Acabei de explanar porque acho bom que não se saiba porque escrevo e o que escrevo mas, enquanto escrevo estas linhas, não me sai da cabeça que, assim, as pessoas que sabem de que cor são os meus olhos e que já ouviram a entoação que dou à minha voz, nunca saberão o grau de inteligência que possuo. Este é o lado mau desta questão. Não vou explaná-lo. Hoje não.
A vida é como uma esfera de grandes dimensões, lisinha e sem planícies ou sombras onde repousar. Viver é estonteante. Eu, por mim, gosto muito de me sentir tonta. E tu?
*Hoje, há excepções. Há quem conheça a Gina pessoalmente e, inclusive, interaja com ela em campos diferentes e venha aqui ler isto... Não posso deixar de referir que isso é muito prazeiroso.
Ao fim de algum tempo dispensei a timidez - os familiares e amigos a quem revelei a existência do meu blog e convidei a ler as minhas histórias, não vieram mais do que uma vez.*
Depois que abalou de mim alguma da frustração que sentia, começou a saber-me muito bem, assim existia uma liberdade que de outro modo não existiria. Apercebi-me disso e vi o lado positivo da questão, virei-me do avesso. Comecei a sentir exactamente o inverso - era muito agradável que não viesse aqui ninguém que penetrasse dentro do meu olhar e conhecesse o tom da minha voz. Afinal de contas, não vinha cá ninguém impor o manual dos bons costumes nem discordar do meu comportamento nem oferecer-se para me ajudar a portar-me benzinho. Apeteceu-me escrever "merda", "porra", "puta" e outras palavras comichosas e peçonhentas e... escrevi! Apeteceu-me escrever que me sinto mal com a minha profissão, que faço comidas insípidas, que não gosto disto ou daquilo, que os homens pensam com a pila, que estou triste, que estou esfuziante de alegria porque vou de férias e... escrevi! A linha que delimita até onde posso ir afastou-se de mim, instigando-me a alcançá-la. Nessa tentativa estiquei-me tanto que me revelei loucamente. Não recuei. Não recuarei.
Na verdade, quando iniciei esta actividade ignorava a existência da loucura que há na liberdade de manifestar o que penso perante o mundo inteiro. Num processo gradual, que ainda hoje gradua, dei largas à imaginação, deixei-me dominar pela dita loucura ignorada até então e deu nisto que hoje se lê por aqui e que me faz voar o pensamento nem sei muito bem por onde mas sei que quero sempre escrever tudo aquilo que vejo, ouço ou sinto. Desenho a minha loucura com as palavras. Isso, sei eu.
Não acho que a minha escrita seja de baixa estirpe, embora não a classifique pela qualidade nem pretendo escrever pela qualidade. Normalmente classifico, ou qualifico, a minha escrita pelo prazer e pela intensidade com que escrevo. É nesse ponto que quero trabalhá-la.
Mas... (há sempre um "mas", não é verdade?) todas as coisas têm um lado bom e um lado mau. Acabei de explanar porque acho bom que não se saiba porque escrevo e o que escrevo mas, enquanto escrevo estas linhas, não me sai da cabeça que, assim, as pessoas que sabem de que cor são os meus olhos e que já ouviram a entoação que dou à minha voz, nunca saberão o grau de inteligência que possuo. Este é o lado mau desta questão. Não vou explaná-lo. Hoje não.
A vida é como uma esfera de grandes dimensões, lisinha e sem planícies ou sombras onde repousar. Viver é estonteante. Eu, por mim, gosto muito de me sentir tonta. E tu?
*Hoje, há excepções. Há quem conheça a Gina pessoalmente e, inclusive, interaja com ela em campos diferentes e venha aqui ler isto... Não posso deixar de referir que isso é muito prazeiroso.
4 comentários:
Fazes bem! Eu também me sinto assim. Quando comecei o blog não sabia muito bem o que ia acontecer. Por não ter alterado a minha identificação percebo que hoje toda a gente sabe o que penso, sobre o que penso e tenta adivinhar o que penso quando não o digo claramente. Mas não me importo. Não tenho jeito para mentir nem para me esconder por detrás de um outro nome. Sou sincera e assim que escrevo.
Beijinhos p'ra ti :-)
Pois, mas eu continuo sem me assumir e assim irei continuar porque tenho a certeza que nem todos compreenderiam o que escrevo e porque escrevo. Ou isso ou nada.
Serei dos poucos que conheço a côr que está por detrás dos óculos.
Já vi a expressão descontraída com que usa o discurso directo.
Sei, (sim sei), que a inteligência que possui está ofuscada pelo vidro opaco da profissão.
Por isso deixa-me ser mesquinho e continua lá a deliciar-nos com os textos que vais escrevendo, porque a vida todos os dias continua...
Vera
É por não ter o mínimo jeito para mentir que nunca quis esconder-me totalmente atrás de um nick. E escrevo sempre sob uma prespectiva pessoal e sincera. Obrigada, beijinhos para ti também.
Waterfall
Tu tens uma postura muito diferente da minha, estás totalmente protegido pelo anonimato.
Eu gosto de ler o teu blog, se calhar é por isso... :)
Space Flyer
Ai que vergonha...! Estou a repetir-me (já disse isto esta manhã).
Obrigada pelo teu comentário. Não tenho mais palavras.
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