... desceu o pequeno lance de escadas vindo do primeiro andar e apareceu à porta do número vinte.
Ar aprumado, sapatinho lustroso, fato completo e condizente. A porta bate com força e ele fica no degrau em pé, tenso. Tem uma postura altiva, muito próxima da arrogância. Porém, não lhe toca.
Avisto o aro dourado dos óculos e o olhar vivo. Reparo, pela enésima vez na minha vida, naquele bigode imóvel apesar das pontas reviradas criarem algum movimento e lhe darem um ar cómico. Tudo nele está no sítio.
São nove e vinte e cinco, o seu dia começou. Primeiro passo: encontrar a carrinha modelo topo de gama. Vejo-o seguir numa direcção no seu passo acelerado e determinado. Parar e olhar em redor, claramente à procura de algo. E vejo-o voltar no sentido contrário no mesmo passo. A sua expressão traduz tão bem o que está pensar...:
"Onde é que raio eu pus o carro ontem, pá?"
"Que contraste!" penso eu "O senhor engenheiro tão certinho e aprumadinho e não se lembra onde deixou o carro...! Podia pedir ajuda ao bigode, sempre tem aquelas pontinhas reviradinhas... podia ser que lhe indicassem onde deixou o carro...!"
2 comentários:
lol
Um "bigode radar"!!
Sim! O homem tem piada...
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