quinta-feira, 1 de maio de 2008

O gato Belchior

Quando a coisa vai de mal a pior. Quando não há túnel nem luz nenhuma lá ao fundo. Quando me acho má e perversa, desinteressante e aborrecida, dissimulada e mentirosa. Quando penso que sou indigna de ser chamada de "mãe" porque a Maternidade é uma Dádiva e eu não sei educar os meus filhos. Quando me indigno porque não tenho sequer paciência para a minha própria mãe. Quando me parece que nem a porra de uma queca sei dar. E, finalmente, quando faço comidas que são uma merda... eis que -


- me lembrei de uma vez em que fui a casa de um casal que conhecera recentemente. A certa altura, a dona da casa foi ver o bebé que choramingou. Fiquei ali sozinha na sala. Eu e o gato Belchior. Distraí-me e alheei-me do sítio onde estava. De repente, senti uma coisa pesada no meu colo. Era o Belchior. Tinha pulado para cima de mim porque simpatizara comigo. Queria carícias. As minhas carícias. Isto, sem me conhecer.
Sempre ouvi dizer que os animais conhecem as pessoas e só se aproximam se forem confiáveis. Eu, mesmo com toda esta malvadeza que quase apregoo ter, atraí um animal de modo a que ele procurasse um contacto físico. Como fui eu capaz de tal feito sendo uma pessoa tão má? Não sei. Até sei, é porque não sou má.
Acariciei o Belchior e falei com ele baixinho.
Naquele dia a minha vida parou naquele momento. E hoje também.

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