Do lado de lá da estrada, à porta do liceu, estavam quatro meninas. Pareciam quatro Anas Cláudias - a mesma idade, o mesmo liceu, o mesmo estilo de roupa, a mesma jovialidade...
Preparava-me para atravessar na passadeira quando as avistei. Impressivas e barulhentas, riam de tudo e de toda a gente gerando grande banzé em seu torno. Fiquei parada à espera de poder atravessar e quando levantei o pezinho para começar a andar vejo vir um carro depressa demais para um sítio daqueles. Com a hesitação fiz uma espécie de dança e as miúdas desataram todas a rir. Quando o condutor travou para me dar passagem e enquanto me aproximava delas, uma disse para as outras em tom de gozo:
- Ai e agora o que é que eu faço...? Vou, não vou...? sou atropelada, não sou atropelada...?
Quando passei por ela olhei-a e disse:
- Não fui atropelada.
Riram-se ruidosamente e eu continuei o meu percurso . E fui a pensar nas saudades que tenho de quando tinha aquela idade. É tudo tão fresco e despreocupado, apenas conta o momento presente e o passado está mesmo ali ao lado prontinho a saltar por ser tão curto, não há histórias recalcadas ou outras. Tudo funciona ao momento e já, tudo é vivido intensamente, o bom e o mau, tudo serve para rir ou para chorar...
4 comentários:
(Tenho aqui ao pé do meu trabalho umas Anas Calaudias que se devem ter perdido desse grupo)
Tenho uma certa saudade sim, por outro lado não. Estou indecisa. Ainda falta tanto tempo e ao mesmo tempo já passou tanto tempo.
Há dias em que era melhor não sabermos o que sabemos hoje, não é?
Também há dias (e felizmente são muitos) em que fico toda contente de saber o que sei, ter vivido o que vivi... mas depois... há aqueles em que queria ter uma memória tão curta como os meus filhos...
Não tenho saudades, definitivamente! Gosto do tempo em que estou. da idade que tenho. dos passos que dou. consciente.
Não? Nem só um bocadinho?
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