terça-feira, 11 de novembro de 2008

Invencionice

Sai de casa aperaltada, fresca e saltitante. Oferece uma visão desconexa - colorida, suave, doce. Parece uma taça de morangos com natas e açúcar às carradas... que se nos apresenta numa esplanada em tarde de chumbo - fria, cinzenta, compacta.
A cabeleira é loura e bem penteada, um véu de seda platinada que lhe dá pelos ombros, reflecte uma luz que incide no meu olhar, toldando-me a vista. Enverga umas calças com padrão animalesco, um top branco justinho e cruzado em cima do peito. Combinação de grande relevo, esta. As sandálias são feitas de tecido bege com uma flor em cima do peito do pé. São pomposamente lindas! Completando o visual carrega consigo um conjunto completo de bijutaria descomunal e dourada. A maquilhagem está fora da tonalidade certa, carrega-lhe a expressão fazendo-a parecer velha e impressiva.
Entra na igreja quando o ofício já conta 15 minutos - atrasos são já seu costume desde uma data lá longe. A sua passagem cria furor. Uma cabeleira daquelas é de prender a atenção de qualquer um, mesmo daqueles que estão num lugar de estar com e em reverência.
No púlpito, dirigentes instruídos e cientes do seu dever dão andamento ao ofício usando como ferramenta espiritual toda aquela paleta de vidas e sentires, como se pau de modelar fossem. A vida pulsa no salão. Há calor humano. Há amor e tudo é harmonioso e de bem com a vida. A vida espiritual e a vida racional comungam do mesmo querer. Reina ali a mesma vontade. O calor aumenta. A música enche os ouvidos e transborda. Todos juntos parecem uma só pessoa. Unem-se. Dão as mãos... ah como é bom!... Que deleite!...
Ela está lá. Faz parte de um todo. Daquele todo. O que vejo desafina. Está fora de tom. Não, não está. Sou eu que não me encontro naquele lugar. Tenho vontade de chorar e quero ir-me embora porque sei o que sinto mas não sei o que sentir.


Adenda:
A partir de um momento sem mais significação que a que se encontra escrita acima, inventei. Escrevi um texto inventado mas é porque existe o que escrevi que consegui inventar.

Nota de rodapé:
Eu acredito em Deus mas não acredito nas pessoas porque sei o mal que sou.

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