segunda-feira, 25 de maio de 2009

Imagina:


• uma sala de espera de um Centro de Saúde recentemente inaugurado...

• tudo branquinho e a cheirar a novo...

• um dia de Verão lá fora e o fresco cá dentro...

• essa sala quase vazia - apenas eu, a rica filha e os funcionários da recepção...

• que entra uma ruidosa família de quatro elementos - mãe, pai, dois filhos pequenos e que tinham estas características:

• Pai - enorme em altura e largura, barba por desfazer, cabelo desgrenhado, apresentava toda a indumentáira desbotada, rota e suja, sendo o polo demasiado curto para um homem daquela envergadura e por isso a barriga dele espreitava proeminentemente...

• Mãe - o cabelo apresentava-se às tiras pela falta de água, shampô e pente, era comprido e louro artificial, roupas de cores berrantes e muito aquém de mostrar uma conjugação harmoniosa, chinelos de enfiar nos dedos, unhas das mãos curtas e roídas, pintadas num tom escuro e ainda por cima de tudo isto... lascadas...

• Crianças - as crianças eram perfeitamente normais: endiabradas e barulhentas mas eu acho que as crianças serem assim é o normal, por isso, nada a acrescentar...


Imagina-me:

• sentada perante todo este cenário sem obstáculos de nenhuma espécie, como se estivesse sentada numa sala de teatro naquele lugar de onde melhor se desfruta o espectáculo...

• absorvida pela vontade indomável que sinto em absorver tudo o que vejo para poder escrever...


Neste entretanto comentei com a rica filha, que por muito que eu queira estar distraída e alheada do circundante, isto porque às vezes estou cansada de tanto reparar noutros e noutras vidas, é difícil não captar algumas pessoas e suas posturas por tão peculiares serem e, que se não fossem as diferenças e os destaques entre os seres humanos, nem eu nem ninguém teríamos o que escrever.


Imagina (vá lá, é só mais um bocadinho...):

• o pai das crianças dizendo a uma das crianças 'levas um murro que ficas sem os ouvidos do fígado' num tom brincalhão mas desmesuradamente elevado...

Imagina-me (é só mais uma e ao depois desta vez acaba):

• não tendo a minha caneta à mão e que isso é uma grande raridade...

• sem qualquer réstia de esperança de conseguir ter capacidade na massa encefálica para reter tanta informação num tão curto espaço de tempo…

• pensando em grande aflição que ainda por cima o homem tinha dito aquela frase tão gira…


Num repente viro-me para a rica filha:
- Tens aí uma caneta? - pergunto eu esperançada de que ela dissesse que sim.
- Não, mãe... - responde ela com pena. Mas de repente lembra-se:
- Queres que eu aponte no meu telemóvel?

É claro que ela apontou no telemóvel, pois senão este post não existiria tão grande.

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