quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Quarentena;
Ler;
Livros;
Biblioteca
(não necessariamente por esta ordem...)


Noutro dia falei com uma senhora que ignorava o significado da palavra: quarentena. Tentei não mostrar surpresa, afinal sei que não temos todos que saber tudo - e isto pode-se juntar àquela minha tendência de não crer que as pessoas são burras.
Depois pus-me a pensar a ver se me lembrava de quando eu própria descobri a palavra quarentena e seu significado - se calhar para não me achar burra, bem, pelo menos não muito burra. E lembrei.
(Viva a inteligência!)
Foi quando iniciei a leitura da colecção d'«Os Cinco». Lembro claramente que num dos livros dessa colecção, a história começa com os quatro miúdos de quarentena devido a um surto de gripe. Pelo contexto percebi, ou subentendi, o que é a quarentena. A quarentena é a gente ficar de molho em casa preventivamente, não vá o diabo, ou outro gajo qualquer da mesma estirpe, tecê-las e a gente 'pegar' a doença a todas as pessoas com quem nos relacionamos.
(Viva a inteligência novamente!)
Ora bem, por causa da quarentena e dos livros d'«Os Cinco» lembrei-me: nos anos em que andei no Ciclo Preparatório fiz-me sócia da então mui pequena Biblioteca Municipal de Loures, que ficava num primeiro andar da Rua Doutor Manuel de Arriaga. Não que o prédio fosse velho mas eu e a minha mente infantil achámo-lo escuro e frio, era como se estivesse num local proibido, fazendo coisas que a minha mãe não permitia, apesar de ela conhecer e autorizar estas minhas incursões.
À entrada estava uma senhora sentada a uma secretária tratando da papelada. A requisição era toda preenchida à mão num cartão, não era como é hoje: cartão com banda magnética e prazo de validade. Recordo a senhora de óculos mas estou consciente, e isto são as brumas da memória funcionando, que só a recordo de óculos porque numa bibliotecária o par de óculos pousados no nariz e o olhar por cima deles é característico, assim como o camiseiro branco abotoado até ao colarinho e a saia aos quadrados. Também estou a ver a senhora de óculos ao peito presos por uma corrente dourada, ou então de óculos postos outra vez e a corrente dourada balançando a cada anuir de letra grafada a meu mando. Engraçado... vejo-lhe os lábios e as unhas pintados de vermelho. Entretanto, e por tanto pesquisar na memória, parece que estou mas é a ver a professora primária da rica filha, porque a dita era assim, e aí estou a entrar nas memórias da infância dela, da rica filha, ao invés de nas minhas. Com o passar dos anos as coisas difundem-se ou dissipam-se. Muito sinceramente digo: antes difundir que dissipar; antes recordar alguma coisa...
Voltando à biblioteca de '79/'80: os livros esperavam os leitores amontoados em prateleiras não muito altas, os corredores eram estreitos e sombrios. Aquilo era um sonho de letras para mim. Ena tanto livro! Qual escolho? Durante anos escolhi alguns. De um deles já falei aqui.
Com o rodar do tempo deixei de ter medo das escadas do prédio, só pensava nos livros. Os livros são tesouros, independentemente da qualidade. Um livro é uma obra, boa ou má, e muito embora goste mais de uns que de outros, acho-os todos preciosíssimos.
Hoje a biblioteca que há em Loures, para além de ter mudado de sítio, é enorme e chama-se Biblioteca José Saramago. Nada a ver...

1 comentário:

Vera disse...

e é Linda esta biblioteca. Eu achei, pelo menos :-)