sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Atraso


O Zé estava cansado de esperar o autocarro ali no Vale Escuro, onde é o fim e o princípio da linha do nº 6. Estava mesmo lixado, contou-me ele.
Àquela hora já tinha um copito a mais, vi-lhe um brilho vidrado no olhar. Fitava-me como se não me visse, ou como se o fizesse através de qualquer coisa invisível.
Continuou contando de «uma gaja» que estava na paragem e parecia tão lixada como ele. Ao fim de tanto esperar, viu-a passar para o lado de lá, apanhar o autocarro que ia no sentido oposto e viu-a regressar no autocarro que ele apanhou. Ou seja: «Estive ali para nada! Já viste a gaja? Andou a passear e eu ali!»
O Zé conta-me coisas. E adora-me mas não sei porquê. Quer dizer... sei mas não vou dizer.

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