sábado, 27 de fevereiro de 2010

António Canastrinha - Poeta


É morto. Este senhor é morto há muitos anos.
Conheci-o era eu ainda muito jovem. Diz-se que não prestava para nada, pelo pouco que conheci, e no pouco que conheci, concordo: não era grande coisa, não. Mas era poeta. E, em calhando, era louco: matou-se.
Tenho cá em casa um livro de poemas do supracitado senhor - ' Meus amores' - que nos foi gentilmente oferecido pela viúva em outubro de 1998. Retirei um poema que transcrevo:

    Sou um poeta louco

    Eu sou poeta e não conheço a altura
    Sou como as flores que não conhecem ódio
    Humildes, murcham junto à sepultura
    E secam, festejando um episódio.

    Sou dentro do meu bosque o varredor
    Onde apodrecem folhas junto à vida
    Entulho acumulado pelo amor
    Manhã de outono, triste, adormecida

    Sou dia e noite - Sou tempo sem sorte
    Sou fogo e alvorada que se esfuma
    Lanterna fraca, iluminando a morte
    Penso ser tudo - e sou coisa nenhuma

    Sou corpo velho, escanzelado e feio
    Sou um poeta louco - enfrento o tino
    Besta altruista que suporta o freio
    Um forcado nos cornos do destino.


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