quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Os olhos


Não raras vezes falo olhos nos olhos com as mais diversas pessoas. Às vezes lá me calha ter de lidar com um olhar vesgo. Normalmente, face a olhares desta natureza, concentro-me no olho bom. É um problema, o meu olhar sempre quer fugir para o olho mau mas são tantos os anos de prática que já quase aprendi e lá me vou safando.
Noutro dia, e há sempre um dia, calhou-me um olhar vesgo como nunca antes. O pobre homem tinha ambos os olhos vesgos e bons simultaneamente. Porém, iam alternando um e outro, ora estavam direitinhos ora se desviavam para um ou para outro lado, criando uma expressão grotesca na cara do coitado. E eu queria tanto concentrar-me no olho bom... Mas assim com tanto mudar de posição tinha a tarefa muito dificultada.
Para além de o senhor possuir o olhar vesgo mais incrível que vi até hoje, parecia não ter os cinco sentidos bem medidos, era maluquinho, vá. Deixei-o falar, é comum estas pessoas serem muito fáceis de lidar pela sua ingenuidade. Bastou-me ter uma postura semelhante à que tenho quando converso com uma criança e ele ficou feliz e satisfeito, conversando animadamente.
Contava-me que esteve nas termas e quando quis demonstrar-me o que lhe faziam para tratar a sinusite esticou o dedo direito à minha cara. O dedo a meio caminho, perguntou:
- Posso tocar-lhe? A menina não se importa?
Balbuciei um 'não' respondendo à segunda pergunta, um 'não' surpreendido. A surpresa deveu-se à ideia de que não é preciso ter os cinco bem medidos para se ser educado e que há muita gente que diz ter juízo mas lhes falta a educação que este homem infantil e ingénuo tinha.
Talvez as crianças sejam mesmo o melhor que o mundo tem.


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