sábado, 17 de julho de 2010

Notícias


Tenho andado à coca a ver se aparece noticiado na internet a morte do senhor Rodrigues. Pois bem, apareceu aqui:

http://farpasblogue.blogspot.com/2010/07/ate-sempre-rogerio-valgode.html

Se o leitor copiou o endereço e acedeu à página, percebeu que o senhor Rodrigues não é o senhor Rodrigues mas sim Rogério Valgode.
Rogério Valgode era uma grande figura no mundo tauromáquico português, era um enlevo ouvi-lo falar de touros e tauromaquia, até mesmo para mim que não gosto de touradas. Existem muitos posts neste blogue acerca do senhor Rogério (era assim que eu o tratava) onde não refiro sequer o nome do senhor Rodrigues e existiriam muitos mais posts se eu não quisesse omitir a sua identidade, porque quando falava de touros ele destacava-se e era sabedor do assunto o suficiente para me levar a escrever. Presentemente a questão da identidade e do privado já não se põe - o senhor Rogério morreu. Creio que não fará qualquer diferença eu agora escrever acerca dele usando o seu verdadeiro nome, até porque estou a fazer uma espécie de homenagem, não creio que haja qualquer mal nisso.
Um dia escrevi um post onde referia que o senhor Rogério escrevia artigos para um jornal. Nessa altura, curiosa, pedi-lhe se me deixava lê-los - entretanto ele tinha-me dito que recortava os seus artigos e os guardava num dossiê. Tirei fotocópias a alguns desses artigos e tenho-os aqui em casa.
O jornal em questão é o 'Farpas', um jornal de touros, toureiros e touradas, e o nome da rubrica onde o senhor Rogério escrevia era 'Agora Falo Eu' do qual seguidamente transcrevo um artigo onde é notória a paixão que ele tinha pelo toureio.

    Parabéns, Manuel!

    O toureio tem para mim duas emoções de valores diferentes: a emoção causada pelo perigo e a emoção resultante do sentimento artístico do lidador. Uma faena pode ser relatada passe a passe, momento a momento, mas a arte nela contida – quando tal acontece – não se descreve. Sente-se!
    Tenho escutado e lido vezes sem conta referências à arte de Curro Romero e Rafael de Paula, mas jamais alguém – que eu saiba – foi, na sua apreciação, além de frases vulgares, mais ou menos ridículas e que nada dizem, como ‘duende’, aroma de Serra Morena, perfume de Parque Maria Luísa, poesia de Bairro de Santa Cruz, etc.
    Quando cheguei ao mundo dos toiros, ouvi logo aquela frase sacramental de que o toureio é parar, templar e mandar. Tudo Bem! Mas se o lidador der trinta passes a um toiro, parados, templados e mandados, sem lhe emprestar sentimento e expressão artística, a mim esse toureiro pouco ou nada me diz. Talvez por isso eu sinta a respiração faltar-me quando olho o sentimento e a paixão postos por Vincent Van Gohg nas suas telas imortais.
    Na novilhada da revista ‘Novo Burladero’, a minha opinião não foi igual à do júri, quando entregou a ‘Orelha de Ouro’ ao novilheiro espanhol, que lidou muito bem o seu novilho, com muitos passes arrimados, templados, mandados… mas ao aplaudir com algum entusiasmo o labor do jovem de Espartinas, fi-lo para lhe agradecer a entrega, o valor e a ânsia de êxito, conseguido sem discussão.
    Pois é! Mas quando o Manuel Dias Gomes terminou de lidar com o seu novilho, eu não estava apenas entusiasmado, estava principalmente comovido, porque em muitos momentos da faena o toureiro foi além de parar, templar e mandar. Houve inspiração, houve entusiasmo artístico, houve imaginação, houve arte!
    Por isso meu senti triste quando, imerecidamente – em meu parecer – o troféu da disputa foi parar a outras mãos.
    Como triste me teria sentido, se há muitos anos atrás, eu não tivesse ganho a primeira orelha de ouro disputada em Portugal, no tauródromo de Viana do Castelo, em que foram meus alternantes Fernado Segarra e Aníbal de Oliveira.

    Rogério Valgode


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