Quem ensinou à minha mãe a receita do bolo de bolacha, era eu uma garotinha de uns nove ou dez anos, foi a minha prima Francisca Amélia.
Engraçado, não? Ah, que na província chega tudo já fora de horas, ah que é aqui que as coisas acontecem e afinal... E estou a falar de algo que sucedeu há mais de trinta anos, e não do presente em que há estas coisas de internetes e todos estamos à distância de um clique, seja para procurar receitas, entregar o irs, saber da família, basta clicar.
A minha prima Francisca Amélia veio passar uns tempos lá em casa para tentar arranjar um emprego decente, porque se tinha a ideia de que aqui havia mais possibilidades. Haver, havia mas havia alguns poucos decentes, digamos. Lembro-me de um dia ela ter ido a Lisboa à Rua Morais Soares responder a um anúncio. Não me lembro se esse anúncio era dos indecentes mas acho que sim. Lembro-me de na minha mente infantil ficar toda entusiasmada por ela ir a uma rua de Lisboa que eu nem nunca sequer tinha ouvido falar. Onde seria? Como seria? Teria muitos carros? Mal sabia eu que poucos anos depois essa rua faria parte do meu quotidiano percorrendo-a em vindo trabalho. Hoje também faz parte do meu quotidiano laboral mas é mais numa de gastar a hora de almoço do que para trajecto.
A minha prima Francisca Amélia também veio para cá a ver se esquecia um grande amor. Dessa parte pouco sei, lembro apenas de ela ouvir na rádio aquela canção dos Abba: 'Fernando' de de ficar muito nostálgica pensando no amor mas querendo esquecê-lo. Esse amor chamava-se Fernando.
Era muito bonita, a Francisca Amélia, teve uma carrada de pretendentes ali no Pinheiro, alguns muito 'pretendentes' mesmo mas por nenhum se apaixonou.
Um dia deixou-nos, afinal o emprego decente não se deixou apanhar, não tenho a ideia de ter sequer arranjado algum dos bons.
Quando ela partiu senti-lhe a falta. Ela enchia a casa, era muito viva e aquele carregado sotaque alentejano tornava-a graciosa.
Um dia deixou-nos, afinal o emprego decente não se deixou apanhar, não tenho a ideia de ter sequer arranjado algum dos bons.
Quando ela partiu senti-lhe a falta. Ela enchia a casa, era muito viva e aquele carregado sotaque alentejano tornava-a graciosa.
Do que eu me fui lembrar por causa de um bolo de bolacha...
Sem comentários:
Enviar um comentário