Num programa de TV acerca da comédia nacional ouvi a Ana Bola justificar o número de mulheres comediantes em comparação com o número de homens - os homens são notoriamente mais. Diz ela que às mulheres parece mal dizerem certas piadas, o que num homem tem muita graça e toda a gente se ri, uma mulher dizer a mesma piada é imediatamente mal vista e não tem gracinha nenhuma.
Esta manhã enquanto espalhava o creme no rosto, e como estava ranhosa, fiquei indecisa se espalhava creme ou macacos pelas maçãs do rosto. Ri-me sozinha, lembrei-me de escrever um pôste contando este episódio com o tipo de humor que me é característico, mas depois eu própria critiquei a ideia e desisti. Ninguém consegue criticar o que escreve. Se critica, elimina ou esquece. A crítica veio da ideia de que uma mulher não pode escrever sobre estas porcarias, a sociedade não deixa...
A mulher é educada para não olhar, para não ouvir, para não rir, para não sentir, para não beber, para não fumar, para não amanhar as mamas em público por mais que incomodem quando estão fora do sítio. A mulher é educada a não viver plenamente, em suma. Uma mulher tem de se portar como deve ser, e o deve ser é estar aprumada e ser muito recatada em todas as situações da vida. Uma mulher não conta anedotas de sexo, não fala (ou escreve) sobre ranho, não faz conversa (ou pôstes) acerca dos peidos que ouve. Se o fizer desmorona a fachada, ui que esta não interessa a ninguém, ui que esta vai com todos, ui que já não quero nada com ela que ainda me contamina a pureza santa que tanto me custa a manter.
Estou ciente que o meu modo de escrever não é uma fachada, esta que escreve sou eu, não faço grande diferença entre a escrevente e a falante. Mas faço diferença, reconheço que sou mais livre a escrever, muitas vezes escrevo o que não diria a ninguém. Escrevo o que tenho a escrever, chamo os nomes que tenho a chamar, uso as palavras no seu estado mais puro e construo as frases rude e cruamente porque não gosto de suavizar as minhas ideias e pontos de vista com eufemismos. Já falando, sou presa, encalho algures, e quando me desencalho vezes há em que digo o tipo de coisa que tanto se lê e vê neste blogue, porque, ainda assim, sempre paira por sobre a minha cabeça uma espessa nuvem de espontaneidade quer actue escrevendo ou falando. Felizmente que assim é, se há coisa que considero admirável e tão necessária à minha vida é a tal da espontaneidade. E se hoje tenho estado terrivelmente espontânea…
1 comentário:
Nunca tinha pensado que pudesse ser essa a razão.
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