quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Livros; Biblioteca

Ia de passagem e ao longe vislumbrei a biblioteca de Loures. Deu-me logo vontade de entrar. Há tanto tempo que lá não vou, pensei eu. Refreei a vontade, afinal de contas tenho em casa uma data de livros que ainda não li. O melhor é despachá-los primeiro e depois vir aqui. Mas os livros são meus, podem esperar, ia pensando. Nisto, a vontade tornou-se impossível de contornar. Entrei.
Dei umas voltas, olhando os títulos mais que os autores, não sou muito de seguir este ou aquele autor, a bem dizer sou medíocre na área literária. Escolho um livro porque primeiramente o título me atrai, depois leio as primeiras linhas, leio umas frases na diagonal e nunca leio o final. Se tudo o que leio me atrai, então estou diante dum livro bom.
Escolhi 'Cinco quartos de laranja' de Joanne Harris, uma autora francesa de que tenho cá em casa uma obra: 'A praia roubada' e que nunca terminei de ler, enfadou-me. É dos princípios do meu desligamento das leituras por falta de concentração.
Seja como for, trouxe o livro 'Cinco quartos de laranja' porque me agradou muito o pouco que li. Transcrevo agora o último parágrafo do primeiro capítulo.

Eu sei o que é que estão a pensar. Gostariam que eu continuasse com a história. É apenas a história sobre os velhos tempos que agora vos interessa; o único fio desta minha bandeira em trapos que ainda capta luz. Querem ouvir falar do Tomas Leibniz. Querem tudo claro, categorizado, terminado. Pois, mas não é assim tão fácil. Como no álbum da minha mãe, as páginas não têm números. Não há princípio e o fim está tão mal acabado como uma saia com a bainha por fazer. Mas eu estou velha – e faço as coisas à minha maneira. Além disso, há tantas coisas que necessitam de perceber. A razão pela qual a minha mãe fez o que fez. A razão pela qual escondemos a verdade durante tanto tempo. E por que razão escolhi contar a minha história agora, a estranhos, a pessoas que acham que uma vida pode ser condensada em duas páginas de um suplemento de domingo, com um par de fotografias, um parágrafo, uma citação de Dostoievski. Vira-se a página e chega-se ao fim. Não. Desta vez não. Vão ter de digerir cada palavra. Não os posso obrigar a publicá-la, claro, mas, por Deus, terão de ouvir. Vou obrigá-los.

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