Um dia o sô Ventura precisou de um papelinho para acentar umas coisas que eu lhe estava a pedir e jogou a mão à caixinha onde guardo a espécie de post-its que uso para rascunhar. Reparei imediatamente que não pedira licença ou autorização, jogou a mão e pronto, aviou-se. Hum... Logo o sô Ventura que é um homem cheio de formalidades. Mas fiquei contente com a atitude desenvolta, por dentro sorri com o à-vontade demonstrado. Olha, é sinal que se sente à vontade comigo, pensei.
Pouco depois, não sei porquê, talvez tenha detectado algo nos meus gestos e ficado consciente da 'falta', o sô Ventura ficou acabrunhado. Largou totalmente o à-vontade e enrubesceu. Hesitante, perguntou de papelinho ainda na mão:
- Posso?
Fiquei toda triste. Ora bolas, lá se foi o giro disto tudo, assim não tem graça...
Dá-me um enorme prazer verificar que deixo as pessoas soltas. Gosto de notar à-vontade em pequenos gestos, sou dada a reparar em pormenores.
Há poucas coisas de que goste tanto como de espontaneidade. Se as pessoas encolherem os movimentos ficam tensas e calculistas. O resultado é que, como nos imitamos todos uns aos outros, fico também eu encolhida no meu canto fazendo cálculos.
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