Há aquela pessoa que vês dentro da sua própria casa. No quarto, sentada na cama, vendo TV. Imóvel. Vê-se da rua numa janela rente ao chão, mora numa cave. Em dias menos frios apoia-se na pequena janela e entretém-se a ver passar os pés das pessoas junto à sua cara pálida. Tu cumprimenta-la, impreterivelmente. Ela analisa-te os pés e as passadas enquanto responde ao cumprimento, impreterivelmente, por sua vez.
À luz da televisão, da cara vê-se apenas uns contornos, no sítio dos olhos dois buracos negros e a boca é uma linha fina e transparente. O conjunto tem uma expressão tão séria e tão ruim que se torna grotesca. A mulher mete medo ao susto. Ao susto e a ti... É a comunista, é como ouves chamarem-lhe. Não sabes se é comunista mas sabes que aquela pessoa parece uma bruxa fantasmagórica. Parece e é bem capaz de ser.
Um dia esta bruxa aparecerá morta, deitada na cama. Imóvel. A televisão acesa incidirá as suas luzes numa parede branca. Branca como a pele da comuna. A bruxa. O fantasma, aí sim.
É ruim, a bicha, mas tu vais lembrar-te dela. Quanto mais não seja, num dia em que caias neste blogue e tropeces neste post.
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