Enrolei muito bem o cachecol no pescoço e enterrei o chapéu na cabeça, o que me confere um ar atarracado, julgo. A porra do frio mais o raio que o parta lembrou-se hoje de se fazer sentir até aos ossos das pobres criaturas que não podem ficar em casa no quentinho.
Adiante.
Isso de atarracar não interessa, o que interessa é que a pala do chapéu me tapava parte da visão e que eu caminhava velozmente ao frio vendo apenas os pés das pessoas. Às vezes uma ou outra vinha na minha direcção e desviava-se, outras vezes vinham aos magotes, mas sempre tão apressadas quanto eu - estava um frio do caraças!
Durante esta simples situação dediquei-me a pensar o que faria o magote de gente se eu investisse na sua direcção e a dada altura acelerei e efectivei a investida, até me senti numa arena, sem sombra de frio, claro, comigo fazendo de toura, as botas de pêlo e a orla dos casacos a fazer de capa de tourear, só não imaginei as bandarilhas porque essa parte deve doer que se farta.
Pois bem, as pessoas desviavam-se, era como se um escudo invisível me protegesse de cotoveladas, pontapés, chapéus em riste. Tudo isto me passava ao lado, sem roçar, muito embora lhes sentisse o vento. De repente fiquei cheia de um poderio imenso - eu sou um furação! Mas isso do poderio era tudo imaginação minha e ainda bem, não gosto nada de me sentir inchada.
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