quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Percepcionar

Como é que eu não hei-de ser cusca? Como não apreceber-me da vida das pessoas? Eu estou lá no balcão, certo? Atrás, atrás do balcão.
Antes do Natal a dona Adelaide comprou papel higiénico, guardanapos, rolo de cozinha. Depois do Natal comprou papel higiénico, guardanapos, rolo de cozinha, forra-fogão, folha de alumínio. Conclusão: a dona Adelaide teve muitas visitas lá em casa no Natal, a folha de alumínio é para tapar as sobras. O resto das coisas... são desinteressantes.
Cusca, sua cusca!
Ontem a cozinheira do café do lado entra de rompante e diz-me: 'Tive que vir aqui...'
Fiquei como que suspensa no ar, que raio quereria aquilo dizer?! Desembucha, mulher! Queria comprar pensos higiénicos. Ah... Foi uma daquelas coisinhas sem dia nem hora marcada. Conclusão: senhoras e senhores, a cozinheira do café do lado está menstruada.
Cusca, sua cusca!

Mas há mais, eu agora é que não me lembro...

Só falei das percepções, das coisinhas apanhadas do ar. Nem vou falar daquelas que me vêm contar. Querendo saber, mesmo querendo saber, o balconista não precisa perguntar porra nenhuma... As pessoas contam-me tudo. Tudo, tudo, tudo.
E eu?! Eu acho que não conto nada às pessoas.

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