Não devia ser assim. Adormecer não devia ser assim. Adormecer não devia trazer mulheres com cara de trapos vermelhos, a boca num ‚Ó‘ e olhos ausentes, nem folhas que se movem como aranhas.
Adormecer tinha que ser uma calmaria, um limbo, uma ondulação lenta e suave. Hum...
Mas não. Não me é dado adormecer sem ver borboletas enraivecidas, portas com pedaços arrancados e cabeças fora do corpo espalhadas pelo chão.
Eu podia adormecer sem calma, sim senhor, mas vendo um mar zangado comigo, uma ventania rasgando a roupa do estendal, coriscos atravessando um céu negro.
Mas não. Eu tenho que cair num turbilhão de imagens que me engolem os sentidos.
E adormeço.
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