quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Uma fotografia por dia que bem iria... (187)

Lisboa - Praça de Londres, 5 de Janeiro de 2011

Agora ando inclinada à poesia. Encontrei um livro – Poemas Rudimentares de Alfredo Barroso - esquecido nas prateleiras da minha biblioteca. Abri-o e, achando interessante o modo simples de escrever do seu autor, dediquei-lhe tempo e atenção, anda comigo na mala e tudo.
Já transcrevi um poema e hoje transcrevo outro para complementar a fotografia que tirei à chuva... neste chuvoso dia. É um poema que fala do mês de Janeiro e das suas águas, tem tudo a ver com o momento presente.
Outros poemas virão ainda, num futuro não muito longe deste presente.

Saudades da família

Não encontro a secura das palavras
capaz de descrever o frio em volta,
e todavia repouso mansamente
nas águas de Janeiro.
Aqui nasci e me renovo,
o corpo envelhecendo lentamente
enquanto a vida cresce
e a minha casa brilha na distância.

Quero o Sol e o frio
as nuvens nítidas e brancas
o rio
por onde correm claramente
as águas de Janeiro.

Que outro tempo habitei na minha infância,
que outras casas, outras ruas, outras sombras
desenhou o meu olhar?
Que outros homens outrora me ensinaram
a dimensão do espaço em que me movo?
Que retratos retive na memória
do tempo em que dormia mansamente
nas águas de Janeiro?

Eram dois velhos comendo à mesma mesa
e os ramos duma árvore entrando pelo quarto,
era uma escada que subiam devagar
e um jardim suspenso à nossa volta,
eram vasos em cada patamar,
eram laranjas que entravam pela porta
e um gigante que vinha repousar.

Era um rio correndo para o mar.


Alfredo Barroso inPoemas Rudimentares

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