terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Lisboa, 8 de Fevereiro de 2011

- A senhora conhecia a minha filha?
Perguntou a mulher, os lábios tremendo, os olhos húmidos , tristes, sem vida.
Fiquei petrificada, adivinhei o que ela queria dizer, a filha morrera.
Chorou e eu quase chorei com ela. Mostrou-me a fotografia da filha, contou-me os minutos finais da sua vida – arritmia maligna, 24 anos. Precisava falar, percebi, e eu sou boa a deixar as pessoas falar.
Não lhe disse nada de diferente do que habitualmente se diz a quem perde entes queridos. Desculpei-me dizendo que não sabia o que dizer e que nestes momentos o mais que se pode fazer é escutar. E ela chorou e contou mais coisas. Depois deixou uma morada para se ir colocar uma fechadura. E saíu.
A vida continua.
Eu, por mim, estou ainda estarrecida com o acontecimento, ainda que não conhecesse a rapariga pessoalmente. Difícil não ficar pequenina perante algo tão grande como a morte. Difícil não transportar este acontecimento para a minha vida. Às vezes sonho que um dos ricos filhos morre, é uma dor tão grande que não a consigo suportar. Quando acordo e descubro que era apenas um pesadelo, o alívio que sinto é maior do que eu consigo descrever.
Se me é tão difícil pensar na hipótese de ficar sem um filho, porquê esta minha vontade de morrer? Não deixaria igualmente de os ver, estar com eles, senti-los, se acaso eu morresse?
Sou egoísta. E parva.
A vida continua. E eu também. Umas vezes tão desolada que o meu único desejo é acabar com isto, outras tão alegre, agradada, completa, tão resumidamente feliz... que nem imaginam.

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