A senhora que bandeia a cabecinha por causa duma doença de nome inglês estendeu-me uma nota de vinte euros para pagar uns míseros quarenta cêntimos. Perguntei-lhe se não tinha moedinhas e ela responde, à laia de ralhete carinhoso:
– Ande lá, guarde a nota!
Esta senhora tem como companhia o inglês (Parkinson) mas também o alemão (Alzheimer), e tem piorado consideravelmente deste último. De há uns tempos para cá faz sempre o mesmo, quer dar-me um gorgeta, ou algo do género. Voltei com o troco certo para lhe dar, é meu costume recusar a oferta gentilmente, mesmo a senhora insistindo.
Não quero dar a ideia de que sou muito boa pessoa, que nunca me aproveitaria da situação da mulher, mas também não quero dar a impressão de que seria incapaz de fazer tal coisa. Quero, ou queria, fazer por aparecer a hipótese de escolha que sempre temos na vida, o balanço entre duas opções. As tentações existem, deixemo-nos cá de pintar a vida com flores vívidas, passarinhos livres e crianças alegres. Eu podia ter arrecadado dezanove euros e sessenta cêntimos sem trabalho nenhum, a vida colorida havia-os colocado à distância de um simples passo. Ainda pensei na possibilidade mas não fui capaz de a concretizar. Se calhar por estarem duas pessoas a assistir à conversa...
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