Vêm-me à memória muitas pequeninas histórias da minha infância. Acontecem quando ando mais pensativa e/ou sem cenas de balcão capazes de fazer sorrir alguém que as leia.
A Maria Vitória era aquela que havia estudado mais e sabia falar. Uma vez avariou-se-lhe o aspirador, dizia o homem que o aspirador tinha aspirado água. Qual quê?! Expedita, desembaraçou-se. Ninguém lhe comia as papas na cabeça, ela estudou, sabia falar, não era uma alentejana qualquer.
A Maria Josefa nunca conheceu homem... É a minha madrinha de registo. Estava lá na cédula que eu bem me lembro de ler. Dava-me umas prendas 'muita boas', era o que a minha mãe dizia. Eram boas mas poucas. Só me lembro de uma combinação, naquele tempo usava-se, num tecido meio transparente, amarela com folhinhos na base. Nunca me serviu.
A Ana Maria levava 'porradas nos cornos' do marido. Era o que a minha mãe dizia. Acho que se divorciou. Veio para Lisboa e usava mini-saia. Era muito bonita, as 'porradas nos cornos' adviriam daí, ciúmes doentios, presumo. Tinha uma filha com menos meio ano que eu. Amélia, o nome. Era gira e esbelta, interessante e comunicativa, contrastando grandemente com a minha jovem pessoa. A minha personalidade tímida e escondida sempre me fez parecer medíocre. Uma vez puseram-nos a fazer contas, vá-se lá saber porquê. Eu errei, ela acertou, vá-se lá saber porquê... Nunca fui burra em contas na primária mas aquele resultado não me livrou do rótulo.
A Maria Paula era a mãe das três marias. Uma velhinha sempre de preto – fazia-me lembrar a minha avó paterna - com poucos dentes - fazia-me lembrar a minha avó materna - e de sotaque alentejano bem carregado – fazia-me lembrar Albernoa. Elogiava a neta quase incessantemente, e hoje há-de estar tão quarentona como eu. Maria Paula... Sempre achei curioso este nome numa alentejana daquela geração.
Não estou a contar a coisa bem: Mari-Vitória, Mari-Zefa, Anazinha, Nelinha, Mari-Pála. Assim é que é.
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