– André, a mãe tem uma 'cena de gajo'. Tenho pontaria.
Anunciei eu ao rico filho. Ele pousa em mim aquele olhar enorme e luzente (fantástico, portanto) e responde, muito sério:
– Eu tenho com os pés.
Descobri que tenho pontaria. Queria-a inata mas não sei se é.
O leitor, querendo conhecer o desenvolvimento deste tópico, leia abaixo, fazendo favor.
Quando eu era miúda o meu pai tinha uma pressão de ar. Não sei para que a queria, provavelmente queria-la para matar passarinhos ali pelo campo, ou então para pura diversão. Claro que eu e o meu irmão, quando tivemos idade, usámo-la para fazer pontaria às mais diversas coisas. Eu, sendo muito mais nova que ele, não 'brinquei' muito, nem sequer me lembro se tinha pontaria ou não, apenas tenho presente na memória a minha dificuldade em questões de alvo.
O meu olho vector é o esquerdo, ao contrário da maioria das pessoas pisco o olho direito, e só consigo apontar apoiando a 'arma' no ombro esquerdo e colocando a mão esquerda no gatilho. Ora acontece que as minhas mãos não têm nada de esquerdino, com a 'arma' a jeito, pronta a disparar, sinto-me como que coxa, cambaleante, o que me aborreceu desde que peguei pela primeira vez na pressão de ar do meu pai com o intuito de dar uma chumbada e rapidamente me fez desistir destas lides.
Há bem pouco tempo tive oportunidade de 'brincar' novamente com tiros e afins. Esqueci o mau jeito e os desajustes e... bum! E não é que em três disparos acertei em cheio em dois?! Eh pá, ficou tudo maluco com a minha prestação...
Tenho aquela empolgação do alvo, sei que tenho, não sei se é uma 'cena de gajo' mas isso pouco importa, afinal de contas tenho os genes de um homem, o meu pai.
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