domingo, 17 de julho de 2011

Botões

Loures, 17 de Julho de 2011


Bem, fizemos um desvio na nossa viagem. Estamos agora sentadas em frente da caixa dos botões, como diante de uma merenda.
O botão. O prestígio concedido a este acessório. O pronto-a-vestir eliminou-o, uniformizou-o. Mas nessa época mandavam-se fazer os vestidos na costureira, as pessoas submetiam-se a longas provas, e escolhiam-se também os botões, peça-chave do vestido ou do casaco. Nessa fachada que é criada pelas roupas, constituíam a única verdadeira fantasia, o que sobrava da inverossímel abundância de enfeites imaginada na corte dos nossos reis. No botão concentrava-se a preocupação de estar bem vestido e todos os detalhes harmoniosos.
Ainda hoje, se inclinássemos a caixa, os botões arrastariam na sua cascata tilintante a recordação de cada uma das roupas que tinham ornamentado, uma grande torrente que me levaria directamente à minha mãe, aos territórios da sua vida.
Lisos ou granulosos, cheios ou esvaziados, triangulares, ovóides. Pequenos como pepitas ou grandes, finos ou espessos. E as cores: azul-pavão, azeviche, cor de madeira, azul-céu, e as cores de todas as pedras preciosas ou semi-preciosas. No centro ou nas pontas, os furos: dois ladao a lado, bem separados e bastante grandes, ou três, em triângulo no fundo de uma depressão central, ou quatro, paralelos dois a dois, quando se pretende que segurem bem, solidamente. Olhando bem, são um pouco obscenos, como os orifícios minúsculos do entre-pernas, ou os de celulóide na parte de trás dos fatos de banho.
(páginas 132/133)

In ‚Frases curtas, minha querida‘ de Pierrette Fleutiaux

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