Um miúdo de uns doze ou treze anos pediu-me que lhe comprasse um maço de tabaco num dos estabelecimentos mais concorridos de Lisboa. Desajeitado, deixou cair a nota de dez euros no chão, apanhou-a, e como eu negasse o estranho pedido, insistiu na pedinchice: «Vá lá, senhora...», o que neguei, uma vez mais.
Depois fui a pensar naquilo. Podia ter representado tantos papéis nesta cena... O de pseudo-psicóloga-da-treta, o de tia-emprestada-sabichona, o de ama-seca-preocupada, o de mãe-de-outros-meninos-que-já-passaram-pela-fase-estúpida, e mais um sem-número de coisas. Mas não, limitei-me a usar o monossílabo da negação. Nem o facto de conhecer o miúdo desde que usava fraldas, nem o saber a rua onde mora, nada. Não, e pronto.
Fui divagando em pensamentos, pousando aqui e ali, e comecei a fazer uma das coisas que melhor consigo fazer nesta vida: inventar o que poderia ter acontecido, o que poderia ter respondido, o que poderia ter feito (tenho que escrever um livro, eu sei).
É na boa, puto, eu vou lá buscar. Mas, olha, é assim, eu compro-te o tabaco... mas das duas uma: ou me dás meia dúzia de cigarros, ou fico-te com o troco. OK?
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