Tenho um amigo. Não chamo amigo a qualquer um, se calhar este até nem sabe que o é tanto assim, mas considero-o meu amigo porque já deu mostras disso algumas vezes.
Um dia passou na rua e olhando de relance para dentro da loja viu-me de costas debruçada sobre o balcão e olhando sem pestanejar numa determinada direção. Entrou e diz-me que havia resolvido parar para me dizer que eu parecia o Gabriel Pensador.
O que eu mirava com tanto afinco era a prateleira das ceras. Os novos fascos não iam caber no sítio do costume, o que significava que ia ter de fazer uma série de mudanças. Então fiz menção de lhe explicar o motivo. Ele, apesar de ser meu amigo, não lhe apetecia ouvir-me. Fez-me sabê-lo mas lá se deteve um poucochinho de tempo e eu desbobinei.
Agora pouco mais resta para escrever. Só falta dizer que compreendo que nem sempre nos apeteça ouvir problemas que parecem tão minúsculos quando colocados diante dos nossos. E acrescento, já agora, que dói um bocadinho menos perceber a sinceridade das pessoas. Comigo é assim.
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