Lisboa, 6 de Setembro de 2011 |
Estamos na marquise da dona Maria do Céu, sita numa rua lisboeta que nada tem de singular. O meu colega parte o que resta dos vidros para colocar de seguida os pedaços inteiros e cortados à medida. Eu tiro fotografias às traseiras, que de singular tem a novidade - nunca tinha estado ali. A dona Maria do Céu observa-nos atentamente. É justo, há vida naquela casa hoje. Vai deitando o olho ao que estou a fazer e mandando uns bitates para não se manter calada. Ao depois do lixo feito eu varro o chão, a dona Maria do Céu é muito velha e agradece-me o gesto.
A vizinha de cima aparece na escada de serviço, pergunta se ela quer abóbora, que chegou ontem da terra com o carro apinhado de frutas e legumes, que a abóbora é clarinha mas muito saborosa, que é da horta do tio. E pêras, quererá, estão rijinhas, aguentam muito. Então e doce de figo, tenho ali tanto figo, dona Maria do Céu, já tive de fazer doce...
A dona Maria do Céu diz que o doce não pode aceitar, é diabética. Mas a abóbora e as pêras, sim senhora, venham de lá.
Com tanta oferta comecei a sentir-me a mais. É uma sensação estranha, que existe sem razão, observar oferendas diante dos olhos e elas não serem para mim. A vizinha da dona Maria do Céu desceu com os saquinhos na mão, depositou-os na mão da idosa senhora e voltou a subir. Lá se descoseu e foi buscar um frasquinho de doce de figo que hei-de partilhar com o meu colega em dias vindouros. O frasquinho vinha a ferver e com o bocal para baixo. É para ficar hermético, diz ela. Bolas, estava a ver que não nos calhava nada, cochicho eu para o meu colega.
O doce já se deixou comer. É bom, é. Obrigadinha.
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