… Mas que quero publicar mesmo já estando a trabalhar há que tempos. Isto porque... E bem vistas as coisas... No trabalho tenho mais tempo (concentração, inspiração, método, disciplina) para escrever.
Entrei naquela loja porque vi chocolates, cafés, chás, bolos, quem sabe não encontraria coisas boas e diferentes para os meus doces.
A loja não diferia da do senhor Salvador, só por dizer que na rua Garret (Lisboa) o público é diferente e a exposição dos artigos está mais direcionada para os turistas estrangeiros, é uma loja muito mais bonita, composta por artigos finos e delicados, mas também impessoal, não tem aquele cunho próprio do comércio tradicional.
O balconista empertigou-se todo para me atender. Fiquei sem jeito porque na verdade eu nem queria comprar nada, eu queria era uma loja com chocolates de vários tipos para fazer bolos... «Que raio vou eu agora pedir ao homem?!»
Pedi café para cafeiteira e procurei-lhe um certo auxílio uma vez que não conheço profundamente este tipo de café. O homem mostrou-se impaciente enquanto me mostrava os três tipos de café que comercializa.
Escolhi o café, paguei e despedi-me. Portei-me bem. Mas fiquei muito desapontada com este episódio. Talvez tenha ficado mais desapontada porque sou comerciante e, ainda que os meus dias não sejam sempre repletos de boa disposição, esforço-me bastante por atender as pessoas respeitosa e pacientemente. E não sendo o que ali vi...
Um dia desses aí sonhei com a vizinha Gracinda. Cheguei à sua antiga morada e depois de subir as escadas íngremes que me conduziriam à casa, deparei-me com uma festarola daquelas. Havia muitas pessoas por aqui e ali, de copo na mão, petiscando, conversando e rindo em pequenos grupos.
Procurei pela vizinha Gracinda e alguém me disse que se encontrava na cama, doente. Uma festa lá em casa e ela assim tão abandonada?!
Fui apressadamente ter com ela, encontrei-a deitada de bruços, chorosa e infeliz, ainda não se tinha curado do desgosto de ter perdido o único filho.
Ao contrário do que me acontece na vida real, não fiquei perdida com a triste cena. Falei-lhe delicadamente, aconselhei-a a ter esperança e a tentar viver o mais normalmente possível. Ela levantou a cabeça mas não chegou a sair da cama, sequer se sentou, ficou só a ouvir-me.
Quando os sonhos são pertubadores, como este, não os esqueço e tenho de os escrever. O que retiro deste é que no sonho fui uma pessoa diferente, capaz de falar e aconselhar, que é um ponto onde sou medíocre. Acontece, porém, que não se lhe vê nenhum final feliz, o sonho acaba ali. É uma pena a minha cabeça não ter inventado um final feliz para a vizinha Gracinda.
Passei segunda vez pela rua da Escola Politécnica em Lisboa. O meu fornecedor de pratexes, lá de dentro, olhou para mim cá fora. Eu, cá de fora, olhei para ele lá dentro. E ele olhou-me lá de dentro. E eu olhei-o cá de fora. E isto foi acontecendo enquanto percorria os dois ou três metros que mede o espaço entre a porta e a montra. Depois desapareci-lhe da vista. Foi giro. Assim só já foi muito giro.
Se calhar querias que interrompesse as minha férias para te pedir uma dúzia de frascos, não?!
Vi o senhor Godinho, um dos meus mais carismáticos vendedores. Quero dizer, não se pode dizer que tenha dado de caras com ele, logo... vislumbrei o senhor Godinho.Na rua, no meio da rua. Quem manda a mim andar por estes sítios, pá?!
Com a dona Genoveva foi mais ou menos o mesmo. Só por dizer que corri um risco muito maior de ser descoberta, o senhor Godinho caminha sempre de cabeça baixa mas ela não, é altiva, mantém uma postura de desafiadora, como achando que o mundo está todos os dias e a todas as horas contra ela.
Lá me safei dos dois...
O meu colega ligou-me para casa. Sim, eu estava de férias. Não, não era saudades que ele tinha.
Olha lá, qual é a palavra-passe do computador daqui?
DODISJD, ****
Já agora sabes o preço do betume assim-assim?
Doze euros e noventa, o código é cento e vinte quatro, zero, sessenta e quatro.
Obrigadinho, linda.
É um querido, o meu colega, é sim senhores. Chamou-me linda... E eu também sou uma espécie de querida: atendo telefonemas donde vão sair conversas de trabalho quando estou de férias, tenho na cabeça números que ao momento não interessam para nada.
Acho que qualquer entidade patronal, sabendo das minhas invulgares aptidões e do profundo saber que retenho na memória, me ia querer empregar. Caso eu andasse à procura de novo patrão, claro. Pois é, não ando, não. Nem tentem...
Estive três dias doente. Mas assim mesmo... doente. Agora é que me aprecebo como estava doente. Doente, doente, doente.
Já chega de queixas!
E agora os livros. Comprei dois: 'Cinderela de saia justa', de Chris Linnares e 'Memórias da Rosa' de Consuela Saint-Exupéry. E no desafio de escrita ganhei outros dois: 'Da janela do meu (a)Mar' de José Luís Outono e 'Pela berma da estrada' de Gabriel de Mariz, ambos livros de poemas.
Transcrevo agora dois desses poemas:
Diálogo
… mar... porque vens sempre abraçar a minha areia?
… porque gosto muito de ti... sinto-me bem na tua carícia!
… mesmo que te roube alguns grãos...
… não importa... leva os que quiseres...
… posso?
… claro... eu roubo-te sempre os teus beijos
… eu sabia... malvada... a espuma devolvida era menor
… não penses assim... na próxima maré...
… já sei... sulco-te praia minha...
… fico à espera... depois penetro-te mar adentro... meu!
In 'Da janela do meu (a)Mar' de José Luís Outono
Apatia
Surpreender um vestíbulo aberto
E não entrar
Sentir que o sol já não aquece
E por ali ficar
Ouvir ao longe
O som de uma guitarra
E não se aproximar
Ver um pássaro a fazer o ninho
E não pensar
Desencadear tempestades de sentimentos
E abrigar-se.
Depois deitar-se
E adormecer.
In 'Pela berma da estrada' de Gabriel de Mariz
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