quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Post atrasado

Escrevi o texto abaixo numa altura em que me achei curada e de certa maneira livre dos meus pesares.
O texto foi ficando nos meus rascunhos, não me apeteceu publicá-lo, é íntimo, revela questões melindrosas, fiquei receosa.
Até hoje.
Entretanto a prosa deixou de fazer sentido, tudo quanto lá está escrito hoje é mentira. Naquele dia fez sentido, hoje não.
Mas acho que está na hora. Já me chateia abrir o documento e ler palavras que passaram de prazo. Podia deitar o texto no lixo, pois podia, mas não o faço, é doloroso, não consigo mandar embora assim tão friamente as minhas criações. Só consigo eliminar textos cuja (re)leitura me revoltem as entranhas. E não é este o caso.


A cura

Fiquei doente porque durante largos anos encolhi os meus sentimentos. Não falava do que ia mal na minha vida, do que me afligia. Não contava com o apoio de ninguém porque achava que era assim que tinha de ser. Não desabafava. Não esbracejava. Não estrebuchava. Nunca. Engolia as frustrações. Ficava tudo cá dentro em ebulição e era eu que punha a água fria para deixar de ferver. Sozinha. Às vezes escrevia mas sempre encapotado, ninguém percebia nada do que eu estava para aqui a dizer. Um dia a coisa descambou. Quando isso aconteceu tomei consciência do que estava a fazer a mim e à minha vida. Aquilo estava de tal maneira entranhado na pele e no meu cérebro que se alastrava para todas as áreas da minha vida. A minha casa não me interessava para nada, sequer a ideia de todo o amor que tenho aos meus filhos me levantava a cabeça para continuar a jornada. Vivi momentos e senti horrores que não desejo a ninguém.

Hoje sei contornar os problemas doutra forma, naquilo que sei e que posso, mudei-me. Continuo a encolher-me, a não deixar transparecer, a reprimir emoções e pensamentos, mas alcancei um estágio diferente, estou onde nem tudo me atinge, protegida por um escudo imaginário e deixo-me ali estar. Talvez não seja o melhor lugar, talvez o escudo não esteja onde presumo que esteja, talvez até nem exista, talvez este encolhimento mais consciente me leve até outra doença, quiçá mais grave e profunda. Mas mais não posso fazer, é-me completamente impossível. Diz-se que não podendo mudar de vida que nos mudemos a nós. É o que faço, muito embora me pareça não passar de vãs tentativas. Mas é o que faço, garantidamente.

(Este post serve para registar que estou curada. Para o bem e para o mal, este é o meu diário.)

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