O Clóvis cozinha bem. Diz ele, que eu cá nunca lhe provei a comida. Mas lá que se elogia muito e faz saber aos presentes quão aprimorado é nos cozinhados, isso é bem verdade.
Noutro dia contou-me duma vez em que confecionou uma lasanha para um amigo que tinha andado a fazer um curso de culinária, o que por si só, constituía inimizade gastronómica. Para o Clóvis era imperioso mostrar ao outro parreco que não sabe cozinhar, dando-lhe a provar a melhor lasanha de sempre, uma atitude muito ao jeito do presunçoso Clóvis. No fim da história, imaginei o outro de garfada na boca, degustando o divino manjar. Mas faltava o remate, o toque final do mestre da presunção, aguardei o que ele diria com alguma curiosidade.
– Eh pá, ele ficou... Estás a ver um gajo a dar um fodinha?
Usei de toda a imaginação possível, porque não tenho o hábito de observar as pessoas nesses preparos e fiquei especada a olhar, tão atenta quanto curiosa. Ele acaba-me com o sofrimento e finda a ideia:
– O prazer era tanto que se fartou de gemer!
1 comentário:
Neo-realismo
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