Ela ia folheando e folheando e folheando.
Bem sei o fascínio que há em vasculhar páginas, abrir livros aqui e ali, penetrar em mundos tão diferentes do meu, conhecer outros pensamentos, assuntos, abordagens.
Ela tinha a boca muito apertada, como se quisesse fechá-la a um alimento insuportável ou assim, e ia escolhendo livros absortamente.
Às vezes, eu, tenho uma espécie de ruindade. Ruindade não, estou a pensar, não é ruindade, é um tipo de curiosidade que normalmente é levada a mal, por isso me é tão fácil pensar que é ruim.
Esqueci a ruindade e olhei a mulher sem pudor, queria ver quanto tempo lhe duraria a boca assim tão apertada. Não cronometrei mas o intenso olhar deve ter durado meio minuto, para aí. Ela viu-me, eu desviei rapidamente o olhar, ela idem, voltei à carga e olhei, ela havia desfeito um pouco o aperto e ficou a fazer beicinho. Passado mais meio minuto das nossas vidas, a mulher estava tal e qual como no início. E eu parti para outra.
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