– Olhe, tem uma fechadura destas?
O cliente aviado olha atentamente para a dita como se fosse expert na matéria. Aproveitando tempo viro-me para outra cliente que espera vez.
– Quero uma lata de Supergel.
Vou buscar. No caminho:
– Quanto custa?
Não tenho na memória. Vou ver.
– Então e o tubo?
O cliente da fechadura reclama que não é igual. Chega outra cliente.
– Olhe, menina, tem cá varões?
Anuncio o preço da lata e do tubo. A última torna.
– Varões assim daqueles que se esticam...
O cliente da fechadura já só está a ocupar espaço, não é igual, não é igual, não é igual. A última cliente, outra vez.
– É daqueles com ventosa.
O da fechadura.
– Esta fechadura não é igual. Tenho que ir a outro lado?
O senhor é que sabe, respondo. A da lata admira-se um cadito.
– Ai, credo, tão caro!
O da fechadura marra de novo.
– Tenho que ir a outro lado, ou não?
O senhor é que sabe... E lá vem a do varão.
– Aquilo que medidas tem? Aqueles varões com ventosa, sabe?
A do Supergel lá se decide, após minuciosa observação do mesmo produto em tamanhos diferentes.
– Levo a lata, sempre compensa o preço. Quanto é?!
Faço as contas, trago o troco. A que quer o varão manifesta-se.
– Daqueles assim com ventosa. Que medidas tem?
Venho com uma moeda na mão, é o troco da do Supergel. O da fechadura está aborrecido. A do varão diz, ainda, algo que não deve ter diferença do que disse até então. E eu… Verbalizo, finalmente, não o que tenho vontade de dizer, e sim o que deve ser dito a esta última:
- A senhora tem de esperar um pouco, por favor. Eu consigo atender duas pessoas ao mesmo tempo, três é que já não dá…
O da fechadura vem de lá com a mesma lengalenga, deve estar engasgado. A do varão diz que já cá vem e vai-se embora. A do Supergel sorri e fica. O da fechadura repete-se. Olho para a minha mão e percebo porque ainda ali estava a senhora que queria uma lata de Supergel… O troco, a senhora queria o troco. Ah…
É muito preenchida, a minha vidinha, bem sei.
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