terça-feira, 8 de novembro de 2011

O 38

Vi-a na loja do chinês. É uma mulher pequenina, tão pequena que me dá pelo peito. Tem uns olhos azuis muito vivos, o cabelo é escuro e cheira sempre a tinta fresca. Fala desordenada e incessantemente.
Remexia na caixa dos chinelos de quarto. Não tem o 38, este não é o 38, ia repetindo de si para consigo. Fiquei a ver se alguma das meninas se lhe dirigia para ajudar. Mesmo que fosse na enga de aumentar o número de vendas, só ficava bem.
Mas não. Nada.
Pus-me a pensar como faria alguma daquelas jovens vendedoras se esta caricata mulher se pusesse a contar as histórias que eu já lhe ouvi.

A minha nora é uma cabra, não deixa o meu marido ir à casa de banho fazer chichi, bate na gente, tenho de comprar um balde para o homem se aliviar no quarto, a cabra deitou o balde fora, e agora venho aqui comprar outro balde, já noutro dia lhe comprei um, não foi?, a polícia já lá foi uma data de vezes, veja lá aquela cabra, bate na gente, nem queira saber...

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