sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Há coisas do caraças!

Ela entrou, eu disse imediatamente bom-dia, ela nem respondeu. Não retribuiu, vinha de cara fechada, o que não é costume. Esperei pacientemente que desembuchasse, muito embora já soubesse o que a trazia ali. Pediu-me desculpa por não me ter respondido mas tinha recebido uma notícia ruim momentos antes. Pensei: 'menos mal' e respondi que deixasse estar, não fazia mal. Fizemos o que tínhamos a fazer. Blá blá blá, pardais ao ninho. A transação ficou a meio, de repente ela largou a mala e a carteira, ambas escancaradas em cima do balcão, e saíu a correr para se sentar numa cadeira da espalanada aqui do lado, pousando a cabeça nas mãos como se estivesse a chorar. Eu fiquei num impasse terrível, cheia de dúvidas:
Vou ter com ela?
Deixo tudo escarrapachado em cima do balcão?
E se entra alguém e a rouba?
E se lhe dá para pensar que eu a roubei?
Fico aqui ou vou para ali?
Que faço?!

O meu impasse terminou quando ela regressou para dentro. Tinha o semblante tenso mas sem lágrimas. Perguntei-lhe se estava a sentir-se mal, se queria sentar, eu arranjava-lhe um banquinho. Não, não queira nada. Põe a mão na boca e corre lá para fora outra vez.

Ai o caraças, que é que eu faço à puta da minha vida com esta gaja?!

Quando voltou percebi que o que ela não queria mesmo era que eu (ou alguém) a visse chorar, fugia para se controlar, para não deixar cair as lágrimas à vista de outrém.

Melhor seria deixar-se estar e chorar. Acho eu.

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