Na última página do livro que acabei de ler - Mrs. Dalloway, Virgina Woolf – está uma nota da editora encimada pela seguinte frase:
Um clássico é um livro que nunca acaba de dizer o que tem para dizer. - Italo Calvino
Curiosamente, o escritor Italo Calvino é o autor do livro de que falei há tempos (neste post) e referi como sendo um livro escrito dentro do 'tu cá tu lá'.
Entretanto, há umas semanas, comprei esse mesmo livro. Não o vou ler para já, que tenho outros à espera há mais tempo, mas deixo aqui um cheirinho do dito.
Estás prestes a começar a ler o novo romance Se numa noite de inverno um viajante de Italo Calvino. Descontrai-te. Recolhe-te. Afasta de ti todos os outros pensamentos. Deixa que o mundo que te rodeia se esfume até se tornar indistinto. A porta é melhor que a feches; a televisão está sempre ligada. Di-lo já, aos outros: “Não, não quero ver televisão!” Levanta a voz, se não te ouvem: “Estou a ler! Não quero ser incomodado!” Talvez não te tenham ouvido, com todo aquele barulho; Fala mais alto, grita: “Estou a começar a ler o novo romance de Italo Calvino!” Ou então se não queres dizer não digas; esperemos que te deixem em paz. (…)
Não que estejas à espera de alguma coisa de especial deste livro em especial. És um daqueles que por princípio não espera mais nada de nada. Há tanta gente, mais jovem do que tu ou menos jovem, que vive na expetativa de experiências extraordinárias; dos livros, das pessoas, das viagens, dos acontecimentos, daquilo que o dia de amanhã lhes reserva. Tu não. Tu sabes que o melhor que se pode esperar é evitar o pior. Esta é a conclusão a que chegaste, na vida pessoal tal como nas questões gerais e até mesmo mundiais. E com os livros? Ora, justamente porque o excluíste em todos os outros campos, achas que é justo concederes-te ainda este prazer juvenil da expetativa num setor bem circunscrito como é o dos livros, onde as coisas podem correr mal ou correr bem, mas o risco de dececão não é grave.
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