quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Manhãzinha

Está uma pessoa aqui, tristinha e só, eis que me chega um novo vendedor. Este tem PC portátil com toda a informação memorizada e à distância dum clique desses modernos. Inovador, portanto. Não costumo receber disto por aqui. Nota de encomenda preenchida à mão, no entanto, com 38 posições (vem numerada, é por isso que eu sei, nunca me daria ao trabalho de contar as linhas, já se vê). 8 preenchidas... Poucochinho, que isto está fraco, 'migo.
Ali pelo meio atendeu o telemóvel duas vezes, desfez-se em desculpas e foi lá fora falar, e assoou-se timidamente e em silêncio, para não me esmorecer as vontades, quiçá.
Muito simpático e atencioso, cheio daquelas lamechices todas de quem não conhece o chão que pisa. É bem, é bem, 'migo. Vá, que daqui a seis meses, ou aí por volta da terceira visita, estará tão bestificado e impaciente como os demais da sua espécie, mesmo eu inquirindo apenas o pertinente ao negócio. É o que prevejo.
No final era preciso os dados. Estendi-lhe o cartão e quis mostrar-lhe a minha poesia: apresentei o meu tosco mas serviçal cartão de visita. E ele põe a máscara formal, porém, despreocupada:
– Não se preocupe com isso, o que interessa é a gente perceber. Ora, é a dona...
– Gina.
– Ah, então já não me esqueço do seu nome!
Ai o caraças, raisparta isto, queres ver que este...
– É o nome da minha sogra.
– Ah...
E eu engoli um sapo. Engolir sapos é prática corrente nesta profissão, 'migo.

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