Eu era uma daquelas miúdas mal-amadas e pouco desejadas. Ficava sempre para última nas escolhas de equipa, no jogo do bate-o-pé ninguém me batia o pé, nas festas do final do ano letivo ninguém queria dançar comigo e raramente me convidavam para algo.
Tenho um certo trauma com essas memórias, a adolescência é uma fase de desmantelamento do imaginário infantil, começamos a ter consciência das injustiças da vida, e ainda nos vemos num corpo mutante e a gente a querer tanto (mas tanto!) ficar como antes. Em suma, é uma fase muito violenta, um verdadeiro calvário.
Tenho o trauma (pequenino, pequenino) mas hoje sei que o facto de não me convidarem para isto ou aquilo seria provavelmente por eu não me dar a ver e a conhecer. Sou adulta, já vivi o que vivi, sei que a porra da reciprocidade também vive e é uma duríssima realidade. Ou me mostro ou me deixo estar caladinha e sossegadinha, recebendo a mesma atitude de volta, que a vida é um bumerangue.
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