Fui às lojas da saloiada, um destes dias. Duas lojas. Por causa das minhas costuras e dos meus trapos.
Na primeira loja, uma retrosaria, entrei para comprar dois fechos de vinte e cinco centímetros, um amarelo vivo, outro rosa chocante. A funcionária diz que não tinha essas cores no comprimento que eu desejava. Fiquei consternada, ora bolas e agora, como é que eu vou fazer as saias daquele modelo com cós alto... Devo ter aparentado um desalento tão grande que a senhora, não primando nada pela simpatia, devo dizer (já conheço, sei do que falo), mostra-me um sorriso forçado e explica à laia de desculpa que nessas cores pouco comuns não costuma comercializar essa medida de fechos... Hum, 'essas cores pouco comuns', é?! Ó 'miga, você modernize-se, olhe lá isso!
Na segunda loja, uma papelaria, entrei porque precisava de papel vegetal para sacar os moldes para as minhas roupinhas. Cheguei à hora exata da abertura, 9:30. Observei a funcionária levantando a grade, acendendo as luzes, pousando a mala, tirando o casaco... Conheço estes trâmites mas ao contrário. Se conheço! Enquanto ela tratava de se aprontar para iniciar a jorna, ia pousando o olhar nas flores da minha mala. As mulheres daqui são destemidamente observadoras, o que se pode confundir com inveja. A minha mala é muito gira, não é?, tive vontade de perguntar mas deixei-me disso. Depois, no atendimento, passou-lhe a onda da observação intensa, recebi uns sorrisos apagados, já sou meio conhecida de quando ia lá comprar os livros escolares dos ricos filhos, eventualmente será por isso, porque ali também não impera a simpatia.
Eu, empregada de balcão, funcionária briosa e cativante… Ná, estou a exagerar, olha lá o ego.
Estavam a fugir-me os dedos para a verdade, não era exagero nenhum, podia ser o ego, sim senhores, mas um ego pequenino, contido, razoável. Eu ia dizer somente que o atendimento saloio é muito diferente do que se pratica na capital, na saloiada as pessoas não têm uma necessidade tão premente de se mostrarem prestáveis e simpáticas, não precisam de agarrar o cliente como na capital, digamos que os saloios, ou as pessoas que vivem em meios pequenos, não podem fugir dali, ir a outro lado, outra loja, não há muito por onde escolher. Para mim isto é notório porque sou balconista…
Levanto a grade;
acendo as luzes;
pouso a mala;
tiro o casaco.
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