– Quanto é que esta menina vale?, pergunta a dona Genoveva quando me vê dentro da montra.
– Uns cinco cêntimos, para aí, ó dona Genoveva., respondo, a fazer de conta que me desvalorizo.
Há qualquer coisa de atrativo no fazer das montras. Mostra-se, ou tenta-se mostrar, a alma no seu lado mais belo, puro, genuíno, mas também arrojado, tanto que arrisco dizer que fazer montras roça a sensualidade. Fazer montras é um ato sensual. Fazer montras → ato criativo → alma, despudor → criações são como carícias.
Oh céus! Desenvolver esta temática é terrivelmente difícil. Ora bem, o que eu quero dizer é que a gente pondo a alma no que faz, fica-se sensual. Note bem: sensual não é sexual. A sensualidade é uma espécie de espírito, algo impalpável, portanto, e tudo quanto for espiritual e criativo, apelando ao transeunte, ou a um dado recetor, cativando despudoradamente, é dum arrojo místico... E sensual.
Hum, não estou a ser sensual o suficiente, não tenho (mais) criatividade para escrever acerca da sensualidade que há na execução duma montra. Paro agora. Ou quase...
Mas tarde:
– Então já foi vendida?, pergunta a dona Genoveva, brincalhona.
– Ah, não, Dona Genoveva, ninguém me quer..., respondo, ainda debaixo do desvalor.
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