quarta-feira, 21 de março de 2007

O Meu Pai

Andávamos nos preparativos para a partida do meu pai em trabalho para a Arábia Saudita. Estávamos em Abril de 1979 e em minha casa reinava um ambiente tenso e triste.
Apesar de ser uma criança naquela altura, apercebia-me muito bem do que me rodeava. Também eu sentia já saudades do meu pai antes de ele partir, sabia que iria sentir a sua falta à mesa quando chegasse a hora do jantar, sabia que não poderia contar com ele para me esclarecer eventuais dúvidas que tivesse na escola e sabia que a minha mãe e o meu irmão iriam andar tristes e deprimidos. Isso entristecia-me a mim também e causava-me uma sensação de impotência porque não havia nada que eu pudesse fazer para minimizar o desconforto que todos sentíamos.
O meu desejo mais íntimo era poder ir com o meu pai, por não querer estar longe dele e por sentir uma curiosidade imensa acerca do sítio para onde ele ia trabalhar - Arábia Saudita.
No meio de toda aquela azáfama tive uma ideia - já que eu não podia ir com ele, enviaria algo que viajasse com ele. Fui buscar um saquinho de pano que eu própria tinha feito, algures durante as férias de Verão, dos restos de tecido da minha mãe e arranjei uma pedrinha branca, redonda e lisa. Não podia ser uma pedra qualquer, tive o cuidado de escolher uma pedra perfeita. Achei que seria giríssimo depois, quando o meu pai regressasse, eu ter na mão algo que já estivesse estado na Arábia Saudita, um lugar que eu nem fazia ideia onde seria. Pus a pedrinha dentro do saco e fui ter com o meu pai.
- Pai, eu queria que levasses isto contigo para a Arábia - não foram precisas grandes explicações, o meu pai entendeu o meu gesto na mesma hora. Ainda hoje recordo a sua expressão calma e ponderada, ele sabia perfeitamente que o que eu queria era mandar algo que o fizesse lembrar de mim enquanto estivesse fora. Algo que fosse e viesse com ele e que tivesse estado onde ele ia estar.
- Está bem, filha. O pai leva e traz este saquinho com a pedrinha. Vou pô-lo aqui dentro da mala, vês? Depois quando eu cá chegar mostro-to.
Hoje, adulta e mãe que sou, sei que não era preciso eu ter dado um saquinho ao meu pai para que ele não me esquecesse enquanto estivesse fora, o meu pai iria estar sempre com a família no pensamento. Mas a mentalidade infantil é isso mesmo - infantil - está em formação. O meu pai sabia que aquilo era importante para mim, não desdenhou da minha infantilidade e fez-me a vontade.
Quando regressou, cinco meses depois, mostrou-me o saquinho com a pedrinha lá dentro.
- Lembras-te de me teres dado isto? Toma, está aqui. Foi e veio comigo.
Segurei no saquinho e pensei: " Que giro! Isto esteve tão longe!... E agora está aqui comigo!..."
O Dia do Pai já passou. Só hoje tive tempo de escrever que já se andava a formar na minha cabeça há algum tempo. E esta é a minha homenagem ao meu pai, que é e sempre foi, um homem muito inteligente, calmo, sensato e com uma personalidade muito interessante. Já escrevi acerca do meu pai noutro
post e agora vou repetir o seguinte: quando envelhecer quero ser como o meu pai.

2 comentários:

DéborAurélio disse...

pois é...n há pessoa mais especial que o meu avô!!! acredita quando envelhecer tb quero ser cm ele...gosto mt dele!

Lala disse...

Sem duvida dos melhores textos q já li aqi mae . :D