terça-feira, 25 de setembro de 2007

AUTOPSICOGRAFIA - Fernando Pessoa

O poeta é um fingidor.

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,

Na dor lida sentem bem,

Não as duas que ele teve,

Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda

Gira, a entreter a razão,

Esse comboio de corda

Que se chama coração.


2 comentários:

redonda disse...

Este conhecia, mas só a 1ª parte...

Gina G disse...

:-)