Hoje foi um daqueles dias em que andei bastante por algumas das ruas de Lisboa mas com um propósito diferente do habitual. Tinha que ir entregar uma papelada a um dos últimos números ímpares da Avenida 5 de Outubro. Agarrei nas perninhas e lá fui eu.
Iniciei a minha caminhada numa das ruazitas da zona de Arroios e orientei-me de maneira que fosse o mais a direito possível até ao meu destino. Subi a Avenida Guerra Junqueiro, passei a Praça de Londres, atravessei a Avenida João XXI, entrei na Avenida de Roma e virei na Avenida Óscar Monteiro Torres. Tentei ao máximo entreter-me com a paisagem para não pensar em nada. Às vezes faço este exercício mental porque preciso de descansar e assumir, mesmo que seja só por uns momentos, outros valores ou outros pensamentos.
Há vários dias que só penso coisas do tipo: "não estou a conseguir livrar-me disto...raios partam este feitio de caca que eu tenho!..." Assim sendo, achei por bem dar valor à paisagem que creio ser algo que pode ser paradoxal por ser tão importante e tão banal ao mesmo tempo. A paisagem e a atmosfera têm tanto valor e eu quase me sinto parvinha por passar o tempo a reparar nas cores do Outono, nos sons dos passarinhos, nas pessoas entretidas nos seus afazeres ou nos seus pensamentos, na luminosidade deste sol outonal que faz o vermelho da Praça de Toiros do Campo Pequeno parecer tão vivo, passar numa rua chamada Chaby Pinheiro e pensar que não faço ideia quem terá sido, na Avenida da República parecer tão imensamente larga por eu estar apeada, no barulho dos comboios ao passar na estação de Entre-Campos e, por fim, quando já me encontrava na Avenida 5 de Outubro, o frio que estava e eu quentinha de tanto andar. Isto são banalidades importantes. Pelo menos, hoje foram...
Mesmo assim... tanta coisa, tanta coisa... e não me livrei daquilo... o que eu queria era não pensar em nada e hoje não consegui.
Cheguei ao meu destino, fiz o que tinha a fazer e voltei para o meu local de trabalho pelo mesmo caminho e pelo mesmo meio - a pé. Assim que pude escrevi este texto que agora publico.
Há meses, para não dizer anos, que carrego um peso e quando dou por mim, estou a pensar nele e a escrever acerca dele.
2 comentários:
Olá gigi,
Desde logo achei graça à frase: ... "Agarrei nas perninhas e lá fui eu". :)
E se carregas um 'peso' há tanto tempo, creio que às tantas vais precisar de o 'descarregar', não achas?
Bom texto.
Acho. Esse dia virá.
Obrigada por achares que este é um bom texto.
:-)
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